Desideri Nascosti

14. Contrapposizione

Madrid, Espanha – 2022.

Enfim era semana de intervalo entre as race weeks. Após duas semanas intensas entre as corridas de Barcelona e Mônaco, os pilotos e equipes tiveram um momento de folga para poderem voltar para suas casas e suas famílias, antes de mais uma vez viajarem para começar tudo de novo, dessa vez no Azerbaijão. O campeonato vinha num momento elétrico, poucos pontos separavam o primeiro colocado, Charles Leclerc, do segundo, Max Verstappen, e um vacilo de qualquer um dos dois nas próximas etapas era o necessário para que o outro disparasse na frente. E Carlos sabia que precisava ajudar Charles a continuar onde estava.

Carlos não se incomodava de ver seu colega de equipe sendo priorizado. Como ele mesmo disse, lá no começo da temporada, eles sabiam que a Ferrari iria priorizar quem mostrasse um resultado mais consistente. E por enquanto, quem vinha fazendo isso era Charles, mesmo que nem tenha tanta diferença assim entre os dois, o monegasco também sofreu com erros e DNFs no meio do caminho. Mas Sainz não era idiota, ele sabia que eles tinham um preferido. Ele sabia que Charles era o garoto de ouro, o campeão que a Ferrari precisava, que a Ferrari queria, desde que entrou na academia da escuderia italiana Charles vinha sendo forjado para isso. E qualquer um que fosse seu companheiro, seria seu escudeiro. Claro que não estávamos falando de uma diferença discrepante como era o caso da Redbull, Carlos já havia sido colega de Max e ele sabia bem como funcionavam as coisas para os companheiros de equipe do holandês. Perez neste um ano e meio, aproximadamente, deve ter comido o pão que o diabo amassou.

E mesmo que doesse de certa forma saber que dentro da Ferrari ele não seria campeão por enquanto, mesmo que sentisse que estava sendo pressionado ─ Carlos não era burro, e seu pai muito menos ─, Carlos não podia dizer que estava infeliz. Era uma situação que ele vinha se conformando desde 2021, desde que soube que seria teammate de Charles Leclerc. E ele jurava por tudo que não estava triste. Era o contrário, ele na verdade estava muito feliz. Ninguém podia saber o motivo, pelo menos não agora, mas não conseguia evitar os sorrisos que dava quando se via sozinho pensando em tudo que aconteceu em Mônaco. Quando diziam que o que acontecia em Mônaco, ficava em Mônaco, Carlos nunca achou que fosse literalmente. Ele queria muito gritar pro mundo tudo o que estava sentindo, o quão apaixonado ele estava, mas não podia e nem sabia se um dia poderia. Tudo o que podia fazer era tentar reprimir os sorrisos bobos sempre que via uma mensagem dele na tela de seu celular, como agora.

Estava jantando com seus pais em silêncio quando o aparelho vibrou ao seu lado, e o coração falhou uma batida ao ver que era Charles. Ainda mastigando, pegou o celular rapidamente e abriu a mensagem, vendo que ele tinha mandado uma foto. Ele abriu e viu que era uma foto talvez tirada da varanda do apartamento dele, de onde era possível ver as marinas de Mônaco, o céu estrelado, os barcos luxuosos, alguns com luzes acesas, e a avenida beira-mar vazia ao menos na fotografia. A foto em si não era grande coisa, porém o que vinha escrito junto fez Carlos sorrir, dessa vez não havia conseguido se conter:

"Estava olhando as estrelas e lembrei da gente. Espero que você tenha uma boa noite!" e um coraçãozinho no final.

O coração do espanhol acelerou com aquilo, e suas bochechas com certeza ruborizaram. Deus, o que aquele garoto estava fazendo com ele? Por que ele era assim, tão irritantemente amável? Se Carlos um dia tentou fugir daqueles sentimentos, havia caído num lugar onde era impossível voltar. Charles simplesmente roubou seu coração e não havia muito mais o que ser feito. Queria tanto estar lá com ele agora, enchê-lo de beijos e carinhos e dizer o quão importante para si ele era. Beijá-lo na boca até que o ar acabasse, e depois beijar todas as partes de seu corpo, marcar sua pele cheia de pintinhas. Olhando aquela foto e mensagem, Carlos literalmente se esqueceu que estava numa mesa com seu pai e sua mãe, e retornou para a realidade de uma forma abrupta, quase jogando o celular longe: