25. Nuvola scura.

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Os rapazes acabaram por dormir a noite toda ao ar livre, no colchão da proa do barco de Carlos. Haviam adormecido um de frente pro outro, e, como já estava sendo um hábito entre eles, ao longo da noite eles foram se ajeitando até terminarem de conchinha, Carlos tinha uma das mãos sobre o peitoral de Charles, e seus dedos seguravam o colar com o anel que havia o dado. Seu nariz coçou devido estar enterrado entre os fios castanho-claros ─ que agora mais pareciam ruivos ─, e estes tinham cheiro de sal e mar. Carlos deu um suspiro e um sorriso, aspirando aquele cheiro gostoso e beijando a região, antes de começar a abrir os olhos. O leve balançar do barco o deixou um pouco tonto, e ele percebeu que havia amanhecido há pouco tempo, o sol ainda estava baixo no céu. Carlos rolou pro lado, tirando sua perna do meio das de Leclerc, e deitou com a barriga para cima, agora com os olhos totalmente abertos, olhando diretamente para o céu alaranjado pelas primeiras horas da manhã.

Charles continuava dormindo, Carlos havia entendido que sempre acordaria primeiro que ele. Seu próprio colar refletia uma luz, era um ponto gelado sobre o peito do espanhol, e ele levou a mão até esse, pensando sobre tudo o que aconteceu na noite passada. Aliás, o dia anterior foi uma explosão de emoções que ele ainda estava tentando administrar, tudo aconteceu tão rápido, e agora Carlos não fazia muita ideia de para onde estavam indo. Qual era o próximo passo?

Ele havia transado com Charles. O teve da forma mais real e verdadeira que poderia imaginar. Havia pedido para namorar com ele, e ele disse que lhe amava, também da forma mais real e verdadeira. E Carlos não respondeu que o amava de volta. Sinceramente, ele não conseguia entender qual era a dificuldade nisso. Por que ele só não conseguia dizer. Era como se, a partir do momento que dissesse isso, não teria mais volta pra ele. A partir do ponto que confessasse seus sentimentos, ele se jogaria de fato naquele abismo. E talvez Carlos ainda não estivesse pronto pra isso, mesmo ele tendo mostrado tudo pra si no dia anterior. Charles mostrou sua alma para Carlos, mas Carlos ainda não era capaz de mostrar a sua.

Mas se o sentimento já existia, se ele tinha plena convicção de que amava Charles, já não estaria ele no fundo daquele abismo? Do que ele estava tentando se proteger?

Carlos sabia bem do que. E isso envolvia diretamente o próximo passo que precisaria dar daqui em diante.

E ele queria apenas ignorar isso por enquanto. Era muito melhor viver em seu casulo onde apenas Charles e ele existiam. Era bom acreditar que aquela viagem duraria para sempre e eles nunca teriam problemas.

Os devaneios do espanhol foram interrompidos quando ele ouviu um resmungo vindo da pessoa ao seu lado. Carlos virou sua cabeça em sua direção, vendo Charles se espreguiçar feito um bebê, ainda deitado de lado. Era sempre tão adorável vê-lo acordar. Sentou-se, podendo observar melhor os olhos verdes se abrindo, a expressão sonolenta se formando em seu rosto. Ele era tão perfeito quando acordava, Carlos era mesmo muito idiota quando se tratava de Charles, era completamente rendido por ele. O monegasco, agora de olhos abertos, olhava fixamente em uma direção, aparentemente tentando se encontrar.

─ Bom dia, chéri! ─ Carlos falou, imitando o sotaque francês de Charles de uma forma bem forçada. Aquilo chamou a atenção de Leclerc, que deu uma risadinha e negou com a cabeça.

─ Bom dia, cariño! ─ Charles fez o mesmo, usando a palavra em espanhol que Carlos sempre usava, com um sotaque um pouco melhor. O mais novo se virou no colchão, direcionando seus olhar para Carlos. ─ Ou eu deveria dizer namorado?

Aquilo falhou duas batidas do coração de Carlos. Namorado. Sim, agora Charles era seu namorado, e Carlos era o namorado dele. Eles tinham um compromisso sério, e isso trouxe de volta todos os pensamentos que ele vinha tendo antes de Charles acordar, fazendo-o desviar o olhar. Charles percebeu o movimento, piscando um par de vezes. Porém, não deu tempo de Leclerc questionar nada, pois Carlos logo olhou para ele com um sorriso.

Desideri NascostiOnde histórias criam vida. Descubra agora