12. Il nostro sole

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Charles se mudou do chão da cozinha para o sofá da sala, ficando deitado neste com o antebraço sobre os olhos por um tempo que não soube exatamente quanto foi. Tantas coisas se passavam por sua cabeça que ele nem conseguiu prestar atenção no tempo, muitas perguntas que não poderiam ser respondidas naquele momento, e talvez nunca pudessem. Agora, um pouco mais calmo e menos ansioso, ele não conseguia acreditar que realmente havia mandado Charlotte embora, não acreditava que enfim teve coragem de colocar um ponto final naquilo tudo. Seu coração parecia bem menos pesado, sabia que precisava fazer isso e sentia que já deveria ter feito, ao menos pouparia ambos daquela situação que foi tão pesada. Mas já foi, no calor da emoção como quase tudo em sua vida. E era outra pergunta que o atormentava agora.

Um arrepio percorreu todo seu corpo quando ele escutou o interfone tocar.

Sério, o que diabos tinha na cabeça de chamar Carlos assim para sua casa?

E o que diabos Carlos tinha para aceitar?

Agora não tinha mais o que se fazer, ele já tinha chegado e Charles percebeu que passou muito tempo no sofá. Tirou o braço de cima dos olhos e encarou o teto de sua sala escura, apenas a luz da cozinha estava acesa no apartamento, dando à cena toda um ar ainda mais mórbido. Ele se sentou, massageou as têmporas e ergueu-se, indo até o interfone, que tocou mais uma vez. Mordeu o lábio antes de atender, se sentindo muito, muito nervoso e envergonhado. Ele sabia que havia perdido totalmente a noção de tudo assim que ligou para Sainz, mas agora isso bateu mais forte ainda. Por fim, atendeu o aparelho esperando não se arrepender.

Pois algo lhe dizia que muita coisa mudaria entre os dois naquela noite.

─ Olá. ─ Charles disse, com calma e tranquilidade, como se não soubesse quem era do outro lado. Continuava mordendo pelinhas da sua boca, ao compasso que seu coração disparou. Deus, o que estava acontecendo consigo?

Eu cheguei, Charlie. ─ disse Carlos, com o mesmo tom de voz assustado que tinha no telefone minutos atrás. O coração de Leclerc falhou duas batidas, continuando a bater acelerado. Porém, como já havia constatado, seu coração disparado por culpa de Carlos não o deixava angustiado. Um sorriso pequeno surgiu espontaneamente, sem que pudesse controlar. ─ Posso entrar?

Charles nem respondeu nada. Apenas apertou o botão que abria o portão dos prédios, e colocou o interfone de volta no gancho, sem dizer uma palavra. Estava um misto de emoções que nem sabia descrever, sentia vergonha pelo que fez, Carlos disse estar repousando para a corrida amanhã e ele simplesmente o chamou para sua casa a essa hora da noite. Ao mesmo tempo, estava feliz por ele ter vindo, era bom saber que, pelo menos para ele, Charles era uma pessoa importante. Também se sentia angustiado pelo término com Charlotte, pensando se ela realmente lhe daria paz ou se na próxima semana já estaria batendo em sua porta de novo lhe pedindo para voltar.

Leclerc só queria poder silenciar sua cabeça por duas horinhas que fosse, deitar em sua cama e dormir uma noite inteira sem acordar no meio pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo. Ele nunca foi um grande admirador de si mesmo, mas naquele momento específico, estava odiando ser quem era. Só queria ser um cara mais tranquilo, se importar menos com coisas não tão importantes, focar mais naquilo que realmente era necessário. Ele sabia que os pensamentos autodepreciativos iam consumi-lo durante toda a noite, mesmo que Carlos estivesse ali. Ao menos não precisaria passar por aquilo sozinho.

Não, ele não precisaria passar por tudo isso sozinho. Quanto a campainha de seu apartamento tocou, Charles, mesmo com muita vergonha e sem saber exatamente como fitar o espanhol, foi até a porta com grande ansiedade, mas no caso uma boa ansiedade. Girou a chave e abriu a porta, e quando encarou o rosto de Carlos Sainz, meio de canto de olho por estar encabulado, pareceu que toda sua sala escura ganhou um brilho. Carlos, mesmo com aquela expressão muito preocupada, trouxe com ele sua luz e calor solares, aquecendo todo aquele ambiente que para Charles estava tão gelado. Se Charles sentia que às vezes carregava emoções que o deixavam frio, como a tristeza e o desânimo, Carlos era o oposto, ele sempre levava o Sol para onde ia, seu sorriso era como um raio de sol. Como podia os dois serem tão complementares um para o outro?

Desideri NascostiOnde histórias criam vida. Descubra agora