6. Affermazioni e Ripetizioni.

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Era sempre muito tranquilizante estar com sua família. Charles sabia que, se estivesse se sentindo mal por qualquer motivo, bastava correr para a casa de sua mãe que não demoraria a ficar bem. Não que seus problemas fossem sumir de uma hora para outra só por estar sob a proteção de Pascale, no entanto sentia que nada poderia atingi-lo nesses momentos. Era como se sua família criasse uma bolha de proteção a sua volta, uma bolha da qual era difícil sair depois. Parecia que voltava a ser criança quando estava na casa da mãe, voltava aos tempos onde não tinha problemas concretos, onde ainda tinha seu pai e Jules, onde as corridas de kart eram puramente diversão. E talvez fosse exatamente disso que estivesse precisando agora.

Sua mãe e seus irmãos estranharam ele não ter chego com Charlotte ao almoço familiar, porém ninguém quis perguntar nada. Todos ali sabiam que o relacionamento dos dois era problemático e não era sempre que eles queriam andar juntos mesmo quando Charles estava em Mônaco. Dos irmãos, Charles foi o único que chegou desacompanhado, já que Arthur claramente viera com sua namorada Carla; e Lorenzo, bem, estava acompanhado de Norman, como sempre.

Charles achava engraçada a forma como seu irmão mais velho era próximo do amigo, sempre viajando com ele para vários lugares, o levando nos almoços de família e acompanhando-o nos encontros familiares dele. Não lembrava exatamente desde quando Lorenzo e Norman se conheciam, mas nos últimos tempos eles haviam estando mais íntimos do que o normal para dois amigos. Fazia alguns meses que eles vinham se comportando assim, e o Leclerc do meio nunca nem pensou que pudesse ser outra coisa além de uma amizade muito próxima. Encarava os dois cochichando entre eles enquanto almoçavam a deliciosa lasanha que Pascale havia feito, e algumas coisas começaram a se passar por sua cabeça. Se perguntou se simplesmente não tinha ligado A + B, os acontecimentos recentes de sua vida estavam fazendo-o ver aquela relação com outros olhos. Será mesmo que eles eram apenas amigos?

─ Charl? ─ Pascale, que estava sentada a seu lado na mesa, o chamou, apertando levemente seu braço. O garoto piscou e direcionou o olhar a ela, sorrindo meio nervoso. ─ Está tudo bem, cher (querido)? Estou te sentindo meio distante.

─ Oh, está tudo bem sim, maman. Só estava pensando numa coisa, não é nada demais! ─ respondeu o rapaz, dando uma garfada na lasanha. Arthur, que ainda mastigava seu pedaço, disse:

─ O seu problema é esse, cara, você está sempre pensando em alguma coisa! ─ falou com a boca cheia de lasanha, fazendo surgir uma expressão de nojo nos outros presentes, exceto em Carla, que deu risada do namorado.

─ Não fale de boca cheia! ─ exclamou Charles, batendo com o pano de prato no irmão mais novo. ─ Que nojeira, sua mãe não te deu educação?!

─ Parem vocês dois! ─ agora foi Pascale quem falou, num alto tom de voz. ─ Eu dei educação pra ele sim, Charl, só não sei se ele aprendeu! ─ Charles deu risada da situação, uma risada genuína e gostosa. Um pouco mais distante na mesa, Norman também ria, novamente cochichando algo com Lorenzo, bem de perto, perto demais, Charles pensou.

Ele voltou a observar a cena, piscando. Será que, se estivesse rolando algo a mais, Charles já não estaria sabendo? Por que Lorenzo demoraria tanto a lhe contar algo importante de sua vida? Aquilo havia criado uma pulga atrás de sua orelha, e também uma euforia. Sim, ele já tinha um melhor amigo LGBTQIA+, porém Pierre não ia sair do armário tão cedo assim, se é que um dia o faria. Ter um irmão namorando outro homem criava um acalento em seu peito por um motivo muito específico, um motivo que não queria ter, mas que já havia nascido dentro dele sem que sequer permitisse. Deu um sorriso, desviando o olhar de Lorenzo e Norman para seu prato, voltando a comer sua lasanha. Precisava muito falar com Lorenzo, e tentaria fazer isso hoje mesmo.

Após o almoço, Pascale chegou com uma travessa enorme de tiramisú, um dos doces favoritos de Charles, que sentiu os olhos brilharem com aquilo. Ele não era de comer doces, sobremesas não faziam parte de sua dieta, mas tratando-se de um tiramisú, ele abriria uma exceção, sua nutricionista que o perdoasse depois. A família comeu a sobremesa enquanto conversavam sobre qualquer assunto aleatório, e depois a matriarca dos Leclerc colocou Charles e Arthur para lavarem a louça, dizendo que eles tinham discutido na mesa e por isso pagariam essa penitência. Arthur ia lavando de seu jeito todo errado e Charles secando, e os dois discutiram de novo durante a tarefa, já que sempre que via algo que Art não lavou direito, o irmão do meio o obrigava a lavar de novo. Carla também ajudou os dois, morrendo de rir do quão o namorado e o cunhado eram bobos, ela adorava estar com eles e isso era bem visível, além de que a presença dela não causava nenhum tipo de clima pesado; diferentemente de Charlotte, que não aceitava tão tranquilamente brincadeiras e parecia o tempo todo querer ir embora quando estava com a família de Charles.

Desideri NascostiOnde histórias criam vida. Descubra agora