33. Troppo tardi per tornare

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Quando deram umas oito horas da noite, Charles decidiu voltar para seu apartamento. Ficou a tarde toda na casa de sua mãe, na companhia dela e de seus irmãos, cochilou na cama que costumava ser sua quando ainda morava ali, e após acordar, jantou e pegou seu caminho para a casa. Pascale parecia ter percebido que o filho não estava muito bem emocionalmente, mas não lhe perguntou nada. Sua mãe nunca foi uma pessoa invasiva, e Charles já tinha contado a história toda para Lorenzo, não queria precisar falar de novo. Autorizou o irmão mais velho a dizer caso ela o perguntasse alguma coisa, seria até mais fácil assim, ele não precisaria revisitar tudo novamente.

Em sua corrida voltando para a casa, Charles colocou uma sinfonia de piano para tocar. Ele gostava de escutar músicas instrumentais quando estava se exercitando, e queria tentar retomar sua criatividade, gostaria de continuar a escrever o que tinha começado antes de Lorenzo lhe ligar hoje mais cedo. E enquanto corria pelo calçadão de Mônaco, ficou com vontade de sentar-se na mureta na metade do caminho e apenas observar o horizonte, que já não tinha mais nada para ser visto àquela hora, o mar ficava assustadoramente escuro durante a noite, só era possível ver o brilho ao longe de algumas lanchas e barcos parados.

Charles não tinha objetivo nenhum sentando ali, na verdade. Só queria ficar quieto ouvindo música, cutucando suas cutículas e comendo unhas, sem pensar em nada e em tudo ao mesmo tempo. Seus pensamentos estavam desorganizados, refletia sobre o que tinha acontecido nas últimas semanas, e de repente se perguntava sobre o que iria cozinhar para o almoço de amanhã. Ele não se sentia ansioso naquele momento, somente confuso. Apenas gostaria de entender o rumo que sua vida havia tomado. Lembrou de sua terapeuta o pedindo pra escrever seus pensamentos quando eles viessem assim, sem sentido nenhum, e por muito pouco não começou a fazer isso.

Não o fez porque sentiu uma mão em seu ombro apertando-o, que o fez dar um pulinho de susto e virar-se repentinamente. E nisso levou um susto, vendo algo ─ alguém. ─ que com certeza o deixaria ainda mais confuso. Esperava tudo naquele dia, menos ver os olhos azuis de Max o fitando como se ele fosse a coisa mais interessante do mundo.

Sério, que porra estava acontecendo? Por que, de repente, Max começou a simplesmente aparecer em todos os lugares que ia? Alguma coisa estava muito errada ─ ou certa. Charles realmente tinha muito medo da resposta. Ela podia significar grandes mudanças em sua vida.

─ Max? ─ questionou, ainda o encarando nos olhos e removendo seus fones de ouvido, pendurando-os em seu pescoço. O holandês seguia o encarando como se Charles fosse a única coisa que existia no universo.

Para Max, Charles podia até não ser a única coisa que existia no mundo, porém naquele momento era a única que importava.

─ Oi, Charles. ─ o loiro respondeu, dando um sorriso tímido com sua boca grande, ainda com a mão em seu ombro. Charles piscou. ─ Eu... Estava no mercado do outro lado da rua comprando ração para meus gatos, e te vi sentado aqui sozinho. Está tudo bem?

Essa talvez seja a pergunta que Charles mais ouviu sair da boca de Max ultimamente. Ele sempre o perguntava se ele estava bem, afinal, geralmente aparecia em momentos onde Charles estava se sentindo um grande pedaço de merda. Arqueou a sobrancelha, e perguntou a si mesmo o que aquilo significava. Não podia simplesmente ser uma coincidência que ele sempre surgisse nas situações mais críticas. Não entendia mais nada.

─ S-Sim. Sim, eu estou bem. ─ ele apenas deu um sorriso nervoso. Max não tirava os olhos dele, nem por um momento. Não desviava, parecia sequer piscar. Charles não se lembrava de já ter sido olhado com tanta atenção. ─ Pode ficar tranquilo e ir levar a comida para seus gatos, eles devem estar famintos! ─ aqui, ele finalmente encarou um outro canto e deu risada, mostrando seus dentes incrivelmente retos.

Desideri NascostiOnde histórias criam vida. Descubra agora