40_ Aceitação.

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ㅡ Boa noite, linda! ㅡ Abri um sorriso involuntário enquanto fechava a porta do prédio e vi o Axel parado encostado no meu carro me olhando.

O meu expediente já tinha terminando naquela altura. Era quase 21h da noite naquele momento e eu me sentia extremamente cansada pelo dia que eu tive.

Pela manhã, a visita inesperada do meu pai. Tarde e noite, trabalhos com contratos. Eu evitei ao máximo sair da na minha sala para não cruzar de jeito nenhum com a Sra Bennett, só tive coragem de sair quando realmente era necessário.

Agradecia pelas vezes que sai, não encontrei ela.

Pelo resto do dia, eu refleti sobre o que o Dash falou sobre o que eu deveria fazer em relação a Sra Bennett. Porém, não havia chegado em conclusão nenhuma.

A minha mente estava tão cheia e ao mesmo tempo tão vazia.

ㅡ Como é que foi o trabalho? ㅡ Ele perguntou enquanto eu me aproximava dele. Encostei minha cabeça em seu peito e o abracei. ㅡ O que foi?

ㅡ Estou muito cansada. ㅡ Respondo-o. ㅡ Hoje o dia foi puxado. Nunca vi tanto papel na minha vida.

ㅡ Quer que eu te leve para casa? É melhor você descansar para amanhã. ㅡ Axel sugeriu enquanto acariciava meu couro cabeludo.

ㅡ Eu quero passar mais um tempo você. ㅡ Ergui meu rosto para observa-lo. ㅡ E eu tenho uma ideia.

ㅡ Tem certeza? ㅡ Ele me encarou. Acabei sorrindo me afastando dele enquanto abria a minha bolsa, peguei a chave do carro, liguei o carro e abri a porta para ele.

ㅡ Entre no carro, donzelo. ㅡ Debochei. ㅡ Hoje quem comanda sou eu.

ㅡ Isso soou tão sexy. ㅡ Ele me deu um selinho rápido antes de entrar no carro. Fechei a porta sorrindo de forma tímida pelo jeito que ele falou dando a volta no carro e entrando também.

Sentei-me no banco do carro, fechei a porta, coloquei a chave e liguei o carro.

ㅡ Eu tenho que avisar a Sid que vou demorar para chegar em casa. ㅡ Falei enquanto dava a partida no carro. ㅡ Pode avisar para mim?

ㅡ Eu? ㅡ Axel me olhou surpreso. ㅡ É sério?

ㅡ Claro, ue. ㅡ Dei de ombros.

ㅡ E a senha?

ㅡ O dia do meu aniversário. ㅡ Respondi olhando atentamente para a rua. As ruas estavam um pouco escuras, mas a iluminação me dava um pouco mais de segurança.

Olhei para o Axel de relance e percebi que ele estava digitando algo e sorriu de repente.

ㅡ Você sabe?? ㅡ Perguntei surpresa. ㅡ Como?

ㅡ Já falei que você chamou a minha atenção desda festa, Márcia. ㅡ Revirei meus olhos ao ouvir aquele nome. ㅡ Quando você surgiu na sala sendo minha aluna, a primeira coisa que eu fiz foi saber algumas coisas de você.

Sorri.

*
ㅡ Eu não quero te forçar a nada, linda. ㅡ Axel murmurou de repente enquanto entrelaçava nossos dedos. Agora já estávamos na praia onde tínhamos feito o piquenique, andando de mãos dadas, em silêncio. Eu gostava de estar ali com ele, mas eu ainda pensava no que aconteceu mais cedo. ㅡ Só saiba que eu vou sempre estar com você.

Assenti balançando a cabeça me afastando dele e soltando a sua mão. Sentei-me na areia e esperei que ele sentasse ao meu lado.

ㅡ Eu meio que tive uma discussão entre pai e filha ㅡ Comecei a falar, e sem dizer nada ele se sentou ao meu lado. ㅡ E foi uma das piores discussões que já tive com ele.

ㅡ Ele quer que você vá embora?

ㅡ Quer. ㅡ Assenti. ㅡ Só que, aleatoriamente, sabe? Quando eu estava lá avisando a ele que iria embora de vez, ele falou com todas as letras que não iria me aceitar de volta. Por que, justamente, agora ele quer que eu volte? Para ser a mesma Marina de sempre? Que se tranca no quarto e ouve xingamentos?

ㅡ O que você disse?

ㅡ Disse não. ㅡ Murmurei. Meu peito se apertou, meus olhos arderam e se encheram d'água. ㅡ Eu não vou embora, Axel. Nunca. A minha vida tá sendo construída por mim aqui nos Estados Unidos. Apenas aqui! Eu amo meu país, mas para a casa dos meus pais eu não vou de jeito nenhum.

ㅡ Que bom. ㅡ Axel falou me fazendo olha-lo. ㅡ Não iria querer me mudar as pressas para o Brasil só para não ficar longe de você. Ainda quero aprender português.

Enclinei meu rosto para beija-lo, mas logo voltei a minha posição. Lágrimas banharam meu rosto, de repente, enquanto eu me permitia chorar de novo. Só que dessa vez com mais força. Com mais vontade de colocar tudo de ruim para fora.

ㅡ Chore, linda. ㅡ Axel passou seus braços pelos meus ombros me aproximando do seu corpo. Encostei minha cabeça no seu peitoral. ㅡ Eu estou aqui com você.

Apertei meus olhos com força derramando todas as lágrimas que eu segurei por todos os anos que eu sofri.

Porém, naquele momento de dor, a minha lição número dois surgiu na minha cabeça fazendo meu coração pulsar. De repente, filmes de todos os momentos ruins com a minha família surgiram na minha mente.

Sabe quando você vê tudo de bom transformando as coisas ruins em apenas lembranças? Foi exatamente isso que eu senti naquele momento que eu lembrei da minha lição.

Por que eu estava chorando? Pelos meus pais? Pela minha irmã? Eles não estavam comigo, eles não estavam perto de mim me dizendo coisas ruins na tentativa de me por para baixo.

Olhando ao meu redor e, finalmente, caindo na real percebi onde eu estava. Estados Unidos, fazendo a faculdade que eu queria, passei em SEGUNDO LUGAR, consegui dá uma entrada num apartamento, larguei o meu país e me virei para morar em outro. Encontrei uma melhor amiga incrível, consegui um emprego, ganhei novos amigos e encontrei um homem maravilhoso que me respeita a cima de tudo. Eu precisava chorar? É claro que não!

Minha família ainda fazia parte de mim, mas não deveria me afetar. Meu pai era rude e nunca acreditou em mim, tudo bem! Eu amo ele e quero ele bem longe da minha vida. Minha mãe sempre dizia que eu atrapalhava a vida dela e de todos, beleza! Ela era a minha mãe e eu amava ela, mas, ela não me aceitava. Mariana... ela era parecida comigo mas diferente em todos os sentidos.

Eu não sou igual a ela. Não tenho nada a ver com a Mariana. Ela era uma pessoa, e eu sou outra. Eu não precisava me sentir inferior a ela por conta das pessoas e do julgamento dela.

Tudo bem, ela estava longe de mim. Eu não precisava chorar.

Afastei-me do Axel puxando o ar com as narinas, limpei as lágrimas e me levantei da areia decidida.

ㅡ O que foi? ㅡ Ele me encarou. Sorri abertamente para ele deixando o momento de admiração da beleza dele de lado por alguns segundos.

ㅡ Já volto, amor. ㅡ Deixei um selinho nos seus lábios antes de correr em direção a água com um grande sorriso nos lábios no meio de lágrimas.

Entretanto, não era lágrimas de tristeza nem de dor pelo que estava doendo ainda em mim. Era lágrimas de aceitação.

ㅡ Depois de mergulhar de vez nessa água, Marina, você não será mais a mesma. ㅡ Caminhei pela água sorrindo falando para mim mesma. ㅡ Sem país, irmã, julgamentos, dores, lágrimas, desastre, ruína. A sua vida é aqui nos Estados Unidos e ao lado das pessoas que amam você e que você ama. Nada além do amor por eles e... por mim.

Sorri novamente com o coração aquecido antes de mergulhar de vez no mar.

•••

Lições do Amor | Vol.1Onde histórias criam vida. Descubra agora