Capítulo 02

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Ao chegar ao prédio, subi imediatamente até o meu bloco. Mas antes disso acontecer, tinha que acontecer alguma coisa, claro. Acabei esbarrando em um cara, suponho que foi o meu alvo. Não rolou nada, só deixei minhas chaves cair, mas apanhei imediatamente. Soltei um xingamento quando nos esbarramos.

- Deveria prestar mais atenção! - disse o cara, limpando seja lá o que estava sujo em seu moletom.

- Ah, é? - o encarei e ele fez o mesmo. - Se você estava tão atento assim, por que não desviou de mim? - ergui as sobrancelhas. O cara permaneceu me encarando.

- Estava resolvendo umas coisas no meu celular - respondeu simplesmente.

- Então por que eu deveria ser a única a prestar atenção?

- Quer saber? Que se foda - ele se retirou e saiu em direção ao elevador.

- Babaca - murmurei. Revirei os olhos e segui para meu apartamento.

Tranquei a porta e joguei as chaves na mesa de centro e me lancei ao sofá.

Não acredito que aquele era o hacker. Eu sei porque o Governo nos mandou uma possível foto e aquele cara parecia com o meu suspeito. E também sei que era ele porque nossos apartamentos são praticamente colados. Sim, sim, ele é meu vizinho.

Primeiro contato com o hacker, okay.

Antes de vir para o hotel, comprei um novo chip e agora estou o cadastrando em meu celular. Assim vai ser impossível esse hacker encontrar algo em minhas chamadas. Ainda assim, ele pode invadir o sistema de segurança do meu celular e encontrar outras coisas que me denuncie e aí adeus tentativa de se aproximar dele. Por isso vou salvar tudo de importante do meu trabalho em uma página "invisível" para o software. Espero que isso consiga manter o meu disfarce caso esse cara tentar hackear meu dispositivo.

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1:15am, foi a hora em que saí para correr. Não trouxe nada, chaves ou água, absolutamente nada. Afinal, é uma corrida, e eu corro até perder o fôlego.

A estrada está um breu, mas consigo ver as luzes da cidade. Faz uns 10 minutos que saí do hotel, ou seja, 10 minutos só de corrida, sem pausa alguma. E pretendo continuar assim até chegar à cidade e comprar uma água em qualquer lugar que estiver aberto à essas horas. Só mais 8 a 10 minutos...

Corri, corri, corri e corri. Até chegar na entrada de Duskwood. Caminhei a procura de algum lugar aberto que vendesse água, mas lembrei que não trouxe nada. Isso é uma verdadeira tortura. Minha boca está seca a ponto de mal conseguir dar o goto direito. Melhor eu apenas caminhar um pouco para me recuperar e poder voltar. Vou aproveitar a caminhada para explorar a cidade.

Estou em uma pracinha no centro da cidade, tem uma fonte e aqui é tudo bonitinho demais. Tem pequenas lojas, no qual não sei o que vendem e nem tem placas indicando. Devem colocar pela manhã.

Passei por uma igreja e um prédio antigo, um beco escuro que não sei a onde me leva. Passei também por várias e várias casas. Duskwood nem é tão ruim assim, é uma cidade de interior limpa e organizada.

Quando menos percebi, já tenhi andado até o outro lado da cidade. Encontrei um banco isolado e aproveitei para me sentar. A luz que serviria para iluminar o local está quebrada, melhor para mim. Recostei as costas no banco, deitei a cabeça para trás e observei o céu.

"Salve o nome de sua família."

Eu estou tentando, eu juro que estou...

Aqueles gritos ainda me perseguem. Posso ouví-los a todo momento. Quando fecho os meus olhos, de repente, tenho 16 anos novamente e estou naquela floresta, encolhida no canto de uma árvore, com medo, desesperada e seguindo o conselho daquele funcionário. Ninguém seria capaz de me ver ali. É tudo tão... recente.

Meus pensamentos são interrompidos quando ouço passos na esquina. Fiquei em alerta. Um homem com um tipo de máscara passa para o outro lado da rua com algo em mãos, não consigo ver o que é.

- Ei, você! - chamei sua atenção e disparei atrás do homem que se voltou para mim antes de sair correndo. Que falta faz uma arma agora.

Corremos por cerca de 6 metros, o homem simplesmente parou de correr e se voltou para mim. Achei que ele ia sacar uma arma e me matar ali mesmo, mas ele simplesmente parou e me encarou até que eu parasse em sua frente.

- Melhor você não tentar nenhuma gracinha, palhaço. O circo deixou você, foi? - avancei dois passos. O cara apenas me encara com aquela máscara bizarra.

Ele achou que eu ia tentar algo então avançou até mim e tentou me empurrar, evitei seu contato e entramos em um duelo. Acertei um belo soco em sua cara, mas essa máscara é de um matéria meio duro e minha mão acabou doendo pra caramba. Ele aproveitou minha dor para acertar um chute em minha barriga. Cambaleei para trás mas ele me acertou outro chute e caí no chão. Ele não se contentou e acertou um soco no canto da minha boca, bati a cabeça no chão. Em seguida, o mascarado foi embora.

Sinto gosto de sangue em minha boca, aparentemente está cortada por causa de seu golpe. Esse sujeito vai me pagar.

Levantei do chão com minha cabeça latejante. Recuperei o ar e segui caminhando pelo caminho que segui até aqui. Não vai dar pra voltar correndo de volta para o hotel.

Puta merda, eu vou matar esse infeliz se vê-lo novamente.

Acho que já estou caminhando por 15 minutos e consegui passar da entrada de Duskwood. Agora estou na pista que vai me levar de volta para o hotel.

A floresta reproduz uns sons estranhos à noite. Moro em uma casa rodeada pela floresta, em Forks, mas jamais ouvi algo igual assim nas florestas de casa, à noite. É... estranho e um pouco assustador. Você consegue ouvir barulhos de galhos se partindo.

A luz de um carro ilumina toda a estrada à minha frente. O mesmo parou ao meu lado.

- Entra no carro - ordenou a voz de um homem. E eu tenho certeza que já ouvi essa voz antes.

Me voltei para a porta do passageiro e encarei o motorista.

- Esquece, idiota. Posso voltar para o hotel sozinha - voltei a seguir meu caminho. O hacker começou a me seguir com seu carro.

- Anda, não dificulta as coisas, garota - protestou.

- Eu estou bem - continuei caminhando, com passos mais firmes.

- Do jeito que você está, vai demorar uma hora até chegar lá. Não me faça descer e colocar você dentro da droga do carro à força! - seu tom de ameaça foi sério. Uma garotinha frágil se assustaria.

Parei de andar e, contra a minha vontade, me obriguei a entrar no carro e a sentar no banco do passageiro. Passei o sinto e encarei a estrada enquanto o garoto me encarava.

Ele não disse mais nada e simplesmente começou a dirigir.

Deitei a cabeça na janela e fechei os olhos. Ainda dói. E se sofri alguma lesão?

Fechei os olhos e só deixei que o cansaço pousasse em mim agora.

Born To Die - Duskwood Onde histórias criam vida. Descubra agora