Capítulo 24

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Nick nos fez companhia em um lanche que Jake preparou e depois foi embora, precisou voltar ao departamento. Eu só lanchei com eles porque me obrigaram. Praticamente me desidratei em lágrimas, estava sem fome.

– Tem certeza de que não quer sair? O Nick assegurou que teremos um tipo de seguranças particulares. Estão logo atrás da gente — insistiu Jake.

Ele tá nessa desde quando Nick foi embora. Está insistindo que devo levar um ar fresco. Eu disse que estava bem em casa. Afinal, meu rosto está inchado de tanto que chorei. Prometi que amanhã iremos sair e que ele escolheria o lugar.

Quando Nick saiu, fui colocar meus dados no novo celular. Ele nos mandou ships novos e tudo o que precisamos. Salvei o contato do Jack e do Nick.

São 01:34pm e estou inquieta. Não consigo parar quieta. Já limpei a casa toda, tentei ler livros, tentei escrever, conversar com Jake, mexer no celular, conversei com o Nick por mensagem, Jake me ensinou uma receita de cookies, comemos e eu não me sinto nem um pouco cansada. Preciso correr.

Jake não quer que eu saia por aí ainda me recuperando de um tiro, mas eu preciso. Sugeri que também viesse comigo. Já que agora temos babás, não precisamos nos preocupar, certo? Ele ficou inseguro por milésimos de segundos, mas depois foi até seu apartamento, vestiu roupas adequadas e voltou. Fiz o mesmo enquanto ele estava fora. Nos encontramos na porta do meu apartamento e seguimos para o elevador que leva à portaria do prédio.

Jake trouxe seu celular pra nos ajudar com a iluminação. Foi mais pra ele do que pra mim. Sou acostumada a usar apenas a luz do luar.

– Como você consegue enxergar no escuro? — perguntou Jake.

Dei de ombros.

– Não menti quando disse que correr de madrugada era um hábito meu — respondi.

Silêncio. Nós não conversamos sobre a carta. Jake nunca tocou no assunto então eu também não. Na verdade, havia até me esquecido da maldita carta. Não vejo horário melhor que agora para falarmos sobre isso.

– Você leu a carta? — perguntei.

– Sim, apenas uma vez e depois guardei o papel. Não consegui olhar pra aquele pedaço de papel manchado com seu sangue.

– E por que nunca falou comigo sobre isso?

– Falar o quê? Isso não é mais sobre a Hannah. Eu sei que ela é minha irmã, mas, Kyra, isso deixou de ser sobre ela há muito tempo.

– Acha que é sobre mim?

– Não, mas sobre o assassino das nossas famílias. Com certeza a Hannah está morta por algum lugar dessa maldita floresta.

– Posso pedir agentes qualificados ao Nick, tenho certeza que ele não se importaria em ajudar. Afinal, Hanna Donfort é a irmã do hacker que estou investigando — brinquei.

Ele riu.

– Obrigado, Kyra, mas acho que a polícia de Duskwood consegue lidar com isso.

Ergui as sobrancelhas.

– Tem certeza? Não vi eles fazendo muita coisa.

– Vou encontrá-la — ele disse.

Baixei a cabeça e soltei uma risada nasal.

– Sei que os hackers estão vindo atrás de você — comentei. Apenas sei disso porque percebi seu comportamento nesses últimos dias. O Jake anda mais protetor e parece ter medo de me deixar.

Ele me olhou, perplexo.

– Como sabe disso? — questionou.

E ele acabou de confirmar. Tolo.

– Não importa, você acabou de confirmar de qualquer forma.

Ele soltou o ar.

– Depois conversamos sobre o que quiser, certo? Acho que vou adotar seu hábito de corrida noturna.

Bom, como alguém que já pratica "corrida noturna" há muito tempo, isso poderia ser bom se não fosse uma forma de calar sua mente por um tempo. Às vezes corro ouvindo música, é maravilhoso. Mas, se o Jake soltou essa piada, é porque as coisas não estão muito bem pra ele. E aqui estou, tentando silenciar meus sentimentos só porque não os compreendo.

É em momentos como esse que me sinto uma completa idiota. Enquanto Jake estava tentando me entender e me proteger, eu estava ocupada demais focada em um assassino que me fez me odiar a vida inteira, me dez crescer apenas com o ódio dentro de mim. A vingança.

Seguimos correndo pela estrada, em silêncio. Jake estava distante e parecia preocupado com algo. Eu não quis forçar a barra, só respeitei o seu espaço assim como sempre fez comigo. Voltamos correndo também, caminhamos em alguns momentos porque o cansaço bateu, mas voltamos bem para o hotel.

Jake foi para seu apartamento tomar um banho e eu fui para o meu fazer o mesmo. Estava na cozinha bebendo água quando ele apareceu. Trancou a porta da sala quando passou, talvez durma aqui. Ele também colocou uma chave na prateleira de livros, no canto da sala.

– Vai dormir aqui hoje? — perguntei, o levei um copo com água.

– Hoje e nos dias seguintes — respondeu. — Não quero você sozinha.

– Jake, você e eu sabemos bem que posso me cuidar. Você não vai mesmo me contar o que anda acontecendo? Por favor, não me esconda nada. Prometo tentar lidar da melhor forma possível — praticamente implorei.

Jake estava bebendo da água, sentou no sofá e me chamou para sentar do seu lado.

– Você já descobriu — falou. — Mas eles não me têm mais como principal alvo, e sim você.

Cerrei o cenho.

– Como assim?

– De alguma forma, essas pessoas sabem que gosto de você e que me importo. Perder você significaria perder metade de mim também. Me enviaram uma ameaça, há quatro dias atrás, dizendo que você está na mira deles.

Jake falou tudo isso com tristeza e dor. Coloquei a mão em seu joelho e falei:

– Você se culpa, não é? — perguntei e ele não respondeu. — Jake, nada disso é culpa sua.

– E nem sua — retrucou. — Meu peito dói quando penso em você quase morrendo àquela noite. Me falta oxigênio só de pensar em algo de ruim acontecendo com você — sua voz saiu embargada, seu tom alto.

O beijei de surpresa. Ele está com medo. Não...

– Nada vai acontecer, tudo bem? — assegurei. — Amo você — sussurrei.

Jake conseguiu me lançar um sorriso.

– Eu também amo você, Kyra.

Conversamos mais um pouco e o chamei para irmos dormir. Finjo agir com naturalidade, como se as coisas realmente fossem ficar bem. Talvez fiquem, mas não apostaria nisso. Jake trancou a porta do quarto quando passou.

As coisas estão... meio confusas pra mim. Em alguns momentos fico energética, em outros sinto medo, e em outros não sei o que sentir ou o que realmente estou sentindo.

Born To Die - Duskwood Onde histórias criam vida. Descubra agora