Born To Die - Duskwood

Capítulo 14

Dirigi até o hotel. Estacionei o carro e subi. Peguei o meu celular e Lilly tinha me confirmado o endereço da Hannah. O Theo não mentiu. Vou precisar falar com o Jake depois, assim que pensar em algo.

Bom, meu primeiro plano é invadir a casa da Hannah e procurar por alguma pista, vestígio, qualquer coisa que possa nos ajudar.

Quando menos esperava, ouvi a campainha. Atendi a porta e Theo estava lá, parado, as mãos nos bolsos da calça jeans escuro.

– E então? Vai explicar como se meteu nisso tudo? — perguntou Theo, entrando no apartamento quando gesticulei para que o fizesse.

– Primeiro, quero que responda as minhas perguntas e depois vou responder todas as perguntas que tiver.

Fomos para o sofá, Theo sentou ao meu lado.

– Me conte exatamente como aconteceu isso tudo em Duskwood — pedi.

– Mas eu já contei. Esse sujeito surgiu do nada, ninguém sabe qual é a dele. Até o momento só o que as pessoas estão fazendo são superstições. Você deve saber como funcionam as coisas em cidades pequenas.

Expirei. Sim, infelizmente eu sei. Já passei por inúmeras situações. Não posso exigir mais do Theo se ele já me contou tudo o que sabe. Ou talvez não.

– Também não tenho nada concreto, Theo. Não posso afirmar nada para você com certeza porque ainda estou tentando entender.

– Que merda, garota... — ele olhou em meus olhos. — Sinto muito por estar passando por isso tudo.

– Não sinta.

– Quero ajudá-la.

– Não, você não precisa se envolver nisso.

– Eu vou ajudá-la.

– Não quero que se envolva — falei rapidamente. Levantei do sofá e andei até a enorme janela da sala.

Eu não quero que ele se envolva. Não quero que mais pessoas se envolvam nisso.

Ah, merda... o que está acontecendo comigo? Por que estou tão sensível e emotiva e... sentindo isso que não sei explicar? Não quero que mais ninguém se envolva. Não quero que aja mais uma vida para salvar. Não quero ninguém no meu caminho. Jake é só um meio para o fim, não posso confundir isso.

– Eu quero ajudar você! — ouvi Theo falar logo atrás de mim. — Parece algo perigoso e eu não quero que nada aconteça com você.

– Você nem me conhece — o olhei pelo canto do olho.

– Conheci o suficiente de você para ter certeza que é boa e que vou ajudá-la.

– Theo, você não vai querer entrar no meio disso tudo. Por favor, vá embora.

– Não até você me dizer sim.

Me voltei para ele, o encarei e falei, irritada:

– Por favor, saia.

– Kyra, você não é obrigada a passar por tudo sozinha! O que está acontecendo com você agora é perigoso e, provavelmente, alguém morre no fim.

– Theo por...

Não consegui terminar o que queria dizer. Theo colocou suas mãos em minha cintura, apenas isso fez com que eu me calasse e o encarei com as sobrancelhas franzidas e um olhar confuso.

– Não. Não me mande sair — ele simplesmente me abraçou. — Diga que posso ajudar. Por favor.

Eu não sabia como reagir a isso. Eu só... fiquei em choque. Ninguém nunca me abraçou sem que eu esperasse, ainda mais uma pessoa que conheci há poucas horas. Por que ele quer tanto me ajudar? Eu deveria ser uma estranha para ele e não alguém que ele queira ajudar.

– Kyra?

Não ouvi quando a porta foi aberta e nem quando Jake entrou. Theo e eu nos separamos com um susto. Jake olhou para nós. Há raiva nos seus olhos.

– Você não me avisou que estava de volta — falou Jake, a irritação em sua voz.

– Cheguei há alguns minutos — respondi.

– Quem é esse? — perguntou Theo com indiferença.

– Quem é você? — retrucou Jake.

– Theo Villan, sua vez.

– Jake Donfort.

– O irmão da garota desaparecida... — murmurou Theo.

– O que você disse? — perguntou Jake.

Theo só o ignorou e olhou para mim ao falar:

– Por isso você se envolveu nisso tudo... para ajudar o seu namorado?

– O quê?! Nós não namoramos!

– Kyra, o que ele sabe? — perguntou Jake para mim, o maxilar cerrado.

– O que eu sei?! O que eu não deveria saber?

– Você saiu pra se encontrar com esse idiota? — perguntou Jake para mim.

Franzi a testa.

– É sério isso?!

– E se foi, onde estaria o problema? — falou Theo, dando um passo a frente, na direção de Jake.

– Estou olhando para ele — Jake cerrou o olhar e deu um passo a frente também.

Me coloquei no meio dos dois antes que um acabasse com o outro.

– Chega! Quero os dois fora daqui!

Theo e Jake apenas se fitaram com o olhar, nem sequer me viam diante deles. 

– Eu mandei saírem — repeti vagarosamente.

Jake me olhou e se retirou, os passos firmes.

– Sinto muito eu...

– Theo, vai embora — falei, o tom de raiva e o olhar firme.

Sem falar mais nada ou demonstrar qualquer gesto, Theo deixou o apartamento. Tranquei a porta e fui me banhar para poder me deitar e mandar mensagem para o Jake. Mas o que droga deu nele?!

Eu: O que há de errado com você?!

Jake: Você deveria refazer sua pergunta. O que há de errado com você? Quando decidi contar sobre os meus problemas, pensei que estariam seguros com você, Kyra! Pensei que finalmente poderia confiar em alguém. E então você vai lá e conta para o seu namorado e eu nem sabia que tinha um.

Eu: Jake, você está se ouvindo?! Acha que eu realmente contaria suas coisas particulares para o primeiro estranho que eu encontrasse na rua?? Eu encontrei o Theo hoje, por um acaso!! Eu não mencionei nada sobre você. Nada mesmo.

Jake: Então como ele soube?

Eu: Fiz com que me contasse sobre os acontecimentos recentes de Duskwood. Ele e toda a cidade sabe sobre a Hannah. Você revelar o seu sobremenome foi a parte crucial para que o Theo juntasse as peças. Ele não sabia o porquê estou envolvida nisso, estava prestes a contar para ele sobre minha história.
Minha história, Jake, não a sua.

Jake: Por que ele veio com você?

Eu: Ele mora aqui.

Jake: Não acredito que ia contar tudo para um estranho.

Eu: A casa pertencia a Hannah. O Theo me confirmou e a Lilly também. Amanhã conversamos sobre isso.
Boa noite, Donfort.

Saí do aplicativo de mensagens e desliguei o celular. É desgastante. Nunca senti algo assim antes enquanto trocava mensagens com alguém. Nunca senti o peso no peito que estou sentindo agora. Desapontamento, eu acho. De alguma forma, o fato do Jake pensar que não sou confiável me afetou.

Odeio sentir demais. Odeio pensar demais.

Por quê?

Fechei os olhos e, sem esperar, já estava dormindo. Talvez tenha sido uma das poucas noites em que fechei os olhos e dormi. Geralmente, fico revirando de um lado à outro. O lance dos gritos...