Parecido, mas tão diferente.

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P.O.V KARA ZOR-EL

Encarei a janela, vendo o pessoal que corria de manhã saltar os trilhos do bonde e as poças brilhando por causa dos faróis que se aproximavam.

Era a hora do dia quando eu mais gostava da cidade.

Antes do raiar do dia, antes de o sol romper as nuvens cinza-azuladas, quando a cidade estava densa com a memória de qual fosse a diversão que se passara na noite anterior, mas quieta e pacífica, a maioria das pessoas ainda dormindo.

Minha hora favorita.

— Pare de olhar para mim — eu a repreendi ao afastar o olhar da janela, sentindo seu cheiro quando ela se sentou ao meu lado, e tentei manter o sorriso afastado do meu rosto.

— Não — ela devolveu.

Eu não estava acostumada com a presença de outra pessoa na minha cabeça, mas agora eu sempre estava hiperciente dela. Isso meio que era um saco. Em uma tentativa de me acalmar, passei as mãos pela saia amarrotada.

— Pare de se inquietar — ela mandou.

Virei a cabeça para olhá-la, e arqueei uma sobrancelha. Ela estava me levando para casa antes de ir para o escritório.

Liam chegaria hoje mais tarde, e embora ela tenha me dito que eu poderia dormir mais e que ela pediria a James para me levar mais tarde para casa, não achei certo ficar lá sem ela. Quis ir para casa ontem à noite, mas Lena me convenceu a ficar de novo.

Hoje, no entanto, eu tinha trabalho para pôr em dia, e ela tinha uma empresa para a qual voltar, agora que a chuva havia estiado. Lena sorriu para mim e estendeu a mão, empurrando o botão para subir a divisória que nos separava de Patrick.

— Você está linda — ela disse todo séria, me lançando aquela olhada que me fazia arder. — E não deveria estar com vergonha. Tenho sorte pelas pessoas não poderem ver os arranhões nas minhas costas — fez piada.

Ri, quando as imagens das marcas nas suas costas que vi no chuveiro naquela manhã cintilaram na minha cabeça. Algo tremulou no meu peito, e soltei o fôlego que estive segurando. Talvez essa fosse a solução, imaginá-la pelada, e ela não ficava tão formidável.

— Se preferir — ela começou com a voz suave —, posso lhe oferecer a chance de recuperar a autoestima.

Inclinei a cabeça, a espiando.

— É?

Ela assentiu.

— Vou dar um almoço lá em casa no domingo, e eu quero que você vá — declarou, então piscou. — Eu queria que você fosse — ela se corrigiu, como se lembrasse de que não estava falando com um empregado.

Balancei a cabeça, mesmo um sorriso irônico tendo escapado. O gesto me deixou entusiasmada, embora eu jamais fosse confessar isso para ela. Voltei a olhar para a janela, e ergui o queixo.

Não fiquei incomodada por Lê a querer me ver mais vezes. Mas fiquei incomodada por eu ter gostado de ela querer me ver mais vezes.

Mas na casa dela? Durante o dia, com outras pessoas? Se eu fosse sociável, o que eu não era, ainda seria estranho. E tornaria o que estávamos fazendo ainda menos elegante.

— Lena, não podemos…

— Não juntas — ela me interrompeu, me tranquilizando. — Mas eu gosto de ver você e não ser capaz de tocá-la. Deixa tudo
mais divertido.

Eu me virei para ela, esperando ver um sorriso travesso, em vez disso, vi uma expressão séria e composta que me fez repensar a resposta engraçadinha que ia dar. Os olhos estavam fixos nos meus, e eu voltei a me virar para frente, respirei fundo e resisti ao impulso de me arrastar para o seu colo.

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