Cuido do que é meu.

4.5K 419 60
                                    

P.O.V KARA ZOR-EL


O que ela estava fazendo comigo?

Fiquei lá, calada praticamente o tempo todo, ouvindo as coisas que a levaram ao lugar em que está agora. Os erros da juventude, o professor que pegou pesado com ela, o filho que não pensava nada dela, e todas as coisas as quais ela não sabia consertar.

E tudo o que eu queria era que ela continuasse falando.

Gostei de como as experiências a moldaram e de como ela estava comprometida com o sucesso. Ela não desistiu. Quando vi os momentos que ela parou de olhar para mim ou ouvi a hesitação em sua voz durante a história, eu soube que, lá no fundo, ela ainda se sentia como aquela garota de vinte e dois anos.

A CEO de trinta e poucos anos que dominava salas de reuniões e multidões ainda não pensava que era uma mulher digna.

Eu não tinha dúvida de que a mãe de Liam tinha todas as razões para estar com raiva e para não confiar nela. Ela também era jovem, eu tinha certeza, e Lena deixou a bomba para ela.

Mas eu podia ver a dor e o arrependimento que Lena tentava esconder em sua expressão por causa de todos os anos perdidos com o filho.

E ela não voltaria a desistir.

Ela pegou a minha mão, me conduzindo para fora do restaurante, e eu entrelacei os dedos com os dela, prendendo o sorriso devido aos arrepios que se espalhavam pelos meus braços.

Saímos do restaurante e fomos para a calçada, parando para olhar a chuva que caía a cântaros e, ainda assim, não afetando a festa na rua em nada. As gotas pesadas tocavam o chão em camadas acima de camadas, e eu tive que semicerrar os olhos para divisar o rosto das pessoas dançando no meio da celebração.

Um trompete tocava à minha esquerda, e eu olhei para cima, vendo um homem mais velho com o cabelo grisalho se esquivando de lá para cá sob as marquises ao tocar When the Saints Go Marching In.

Ao voltar a olhar a multidão nas ruas e lotação nas calçadas, a camisa preta e dourada do time de futebol americano colada na pele encharcada deles, percebi que era a Monday-night football, as partidas de segunda-feira da liga principal. O time principal, devem ter ganhado.

Eu não estava nem aí para futebol americano, mas invejava como algo tão insignificante podia fazer as pessoas tão felizes.

Mulheres com colares de miçanga seguravam o longo pescoço verde do copo do Hand Grenade, um drinque típico da cidade que vinha num copo inusitado em formato de granada, e giravam, chutando a água que havia se acumulado na rua, enquanto os homens sorriam, quase tropeçando sobre os próprios pés. Todos rindo e talvez se divertindo mais do que nunca na vida, porque se sentiam livres de verdade no momento.

O caos perdido no caos. Liberdade em ser uma pequena parte de uma loucura muito maior. Quando você não era visto, não era julgado. Havia uma liberdade desejável nisso.

— Você está pensando pouco de mim — ela falou ao meu lado, ainda observando a chuva. — Não está?

Estreitei os olhos para ela e balancei a cabeça.

— Não.

— Não sou a mesma mulher que era naquela época, Kara. — Ela me olhou. — Agora cuido do que é meu.

O olhar prendeu o meu, e não havia nada que eu não quisesse que ela provasse. Lena iria com tudo, mas sem machucar? Me faria querer mais?

Me faria nunca mais querer ir embora?

Eu me afastei dela e saí da calçada, sendo atingida no mesmo instante pelas gotas pesadas ao caminhar na rua. A água encharcou as minhas sapatilhas, e a saia e a blusa logo se agarraram à minha pele.

Má Conduta - Supercorp Onde histórias criam vida. Descubra agora