P.O.V KARA ZOR-EL
O copo frio de cerveja era um alívio bem-vindo na minha mão enquanto eu tomava um gole. Era meados de setembro, e as noites ainda não tinham esfriado o suficiente para serem agradáveis. Se não fosse pela umidade, a cidade ficaria mais confortável, em vez de parecer um elevador lotado e abafado que não deixa a gente se mexer.
Mexi no potinho na minha mesa, contando os pacotinhos de açúcar enquanto estava em um restaurante, esperando o meu irmão para jantarmos juntos. Sete de aspartame, seis de sacarina, cinco de açúcar e sete de sucralose.
Que bagunça.
Eu me virei, agarrei o potinho na mesa atrás de mim e peguei o que precisava. Os pacotinhos estalaram quando os tirei de lá e repus um de aspartame, dois de sacarina, três de açúcar comum e mais um de sucralose no potinho agora balanceado na minha mesa.
Deixando o resto no recipiente emprestado, eu o devolvi à mesa atrás de mim e voltei a contar os pacotinhos. Oito, oito, oito e
oito.Perfeito.
Respirei fundo e coloquei-o de volta na beirada da mesa com os condimentos e os guardanapos, e... E eu parei, olhei para cima e vi meu irmão de pé perto da mesa com uma bebida na mão, me observando.
Merda.
Revirei os olhos e o esperei se sentar. Não nos víamos há quatro dias. Eu me ofereci para ajudar com o conselho estudantil essa semana depois da aula, e ele esteve enterrado em pesquisas e trabalhos.
A camisa social branca estava amarrotada e aberta no colarinho, mas ele ainda atraiu a atenção feminina ao se aproximar da minha mesa. Clark se recostou na cadeira, me deu uma olhada que dizia o que ele estava pensando e que tinha coisas que elen não tinha certeza se podia dizer ou como as diria.
— Desembucha — eu me compadeci, balançando a cabeça e olhando para a mesa.
— Não sei o que dizer.
Lancei o olhar para cima, posicionando-me na cadeira.
— Então pare de me olhar como se eu fosse o Howard Hughes — mandei. — É um transtorno não destrutivo que é muito comum. E me acalma.
— Não destrutivo — ele repetiu, tomando a bebida. — Foram cinco ou seis vezes que você voltou para o seu apartamento para se certificar de que o fogão estava desligado hoje?
Eu me mexi, endireitando os ombros quando o garçom passou e colocou nossa água na mesa.
— Bem, como espera que eu me lembre se desliguei a coisa depois que terminei de cozinhar a heroína? — fiz piada, e meu irmão caiu na gargalhada.
Eu sabia que ele pensava que meu transtorno obsessivo-compulsivo era um fardo, que eu precisava de ajuda para superar o passado, mas a verdade era que ele era algo de que eu precisava. Desde que eu tinha dezesseis anos.
Quando alguém em que você confia rouba seu senso de segurança e mantém a sua vida na palma da mão por dois anos inteiros, sua mente encontra uma forma de compensar a perda de controle. Eu me sinto mais segura quando tudo está em ordem. Quando tenho domínio sobre as coisas mais triviais.
Toda a minha família — meus pais e minha irmã, agora morta, e meu irmão — tinha pagado um preço alto por deixar alguém em quem pensávamos poder confiar entrar em nossas vidas todos aqueles anos atrás. Em comparação, meu pequeno transtorno compulsivo não me preocupava em nada.
Se eu não contasse pacotinhos de açúcar nem me certificasse, quatro vezes, de que o fogão estava desligado hoje de manhã, nem escovasse meus dentes durante cento e vinte segundos, algo ruim aconteceria. Eu não sabia o que, e tinha consciência de que era ridículo, mas ainda me sentia mais segura para seguir com o dia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Má Conduta - Supercorp
FanfictionA ex-jogadora de tênis Kara Zor-el está tentando ser a melhor professora possível, prender a atenção dos alunos entediados e esquecer o passado. O que a trouxe até o estágio em que se encontra não é importante. Ela não pode permitir que seja. Mas, a...