P.O.V LENA LUTHOR
Espalmei o parapeito de mármore enfeitado e beberiquei o uísque, encarando o alvoroço de carros, carruagens e luzes na noite fria. Conversas e risadas vindas do baile de máscaras de Halloween passaram pela porta e flutuaram lá para fora e me envolvendo, mas estreitei os olhos, observando os gutter punk na porta do outro lado da rua pedindo esmolas para comprar cerveja.
Esse era um tipo interessante de punk. Moravam na rua, eram meio andarilhos, usavam a mesma roupa dia e noite e tinham um fraco por cerveja, mas pelo menos eram sinceros quando pediam dinheiro. As roupas esfarrapadas, os dreadlocks e aquela atitude de “foda-se” eram algo que eu nunca entendi, principalmente porque mal os notava antes.
Acho que nas raras ocasiões em que realmente reparei neles, presumi que gostassem do que tiveram nessa vida. Sorriam quando conversavam, afinal de contas.
Mas agora eu me vi imaginando, ao sentir o tecido limpo e imaculado do vestido sobre a minha pele e o cheiro da comida deliciosa que vinha do baile às minhas costas, onde eles dormiriam essa noite? Fazia quanto tempo que aquele cachorro em que eles faziam carinho tinha comido? Onde estavam os pais deles?
Eu havia desacelerado a minha vida de forma considerável, tentando fazer poucas coisas bem em vez de fazer quinze mal, como meu pai queria, mas quanto mais eu tomava tempo para reparar nas coisas ao meu redor, mais vazia eu me sentia.
Talvez eles quisessem mais da vida e estivessem apenas tentando sobreviver ao dia. Ou talvez não, porque não conheciam nada do que o mundo tinha a oferecer. Mas eu sabia que ficariam gratos por qualquer dinheiro que conseguissem agora. Ficariam gratos pela comida, bebida e cigarros, ou qualquer coisa que os fizesse se sentir bem.
Eu queria muitas coisas, mas, percebi, ao olhar para eles, quase nada do que eu queria seria guardado como um tesouro. Quase nada me faria parar e me sentir grata. Eu sentia falta do que era importante de verdade. Eu tinha escolhido errado.
Meu celular vibrou, mas só inclinei o copo para os meus lábios, e ignorei.
Lex estava lá dentro, enviando mensagens sem parar, dizendo que eu precisava levar o meu rabo para lá e começar a conversar com as pessoas, mas tinha perdido a graça. Foi acabando aos poucos quanto mais tempo eu ficava sem aquela mulher.
— Entãããão. — Ouvi uma voz feminina dizer às minhas costas, e olhei e vi meu pai e a minha mãe sorrindo para mim. — Quando anunciará a sua candidatura oficialmente? — ela perguntou.
Olhei para cima, e vi Lex marchar pelas portas francesas, obviamente em uma missão de me encontrar e me levar para dentro ele mesmo.Lancei um sorriso vago para minha mãe.
— Um tanto redundante, eu acho. Todo mundo já está ciente das minhas intenções.
Mas então capturei o olhar de “se esforce mais” do meu pai, e amaciei a minha resposta para ela.
— Dentro de uma semana — informei.
Lex se aproximou de mim, e eu assenti para ele, dizendo, sem palavras, que levaria o meu rabo lá para a festa.
— Você vai se mudar para Washington, D.C.? — ela perguntou, agarrada ao braço do meu pai.
— Preciso ganhar primeiro — rebati, tentando manter as expectativas dentro do razoável.
— Desculpa. — Ela riu, e olhou para o meu pai. — Não queremos dar azar. Só estamos muito empolgados para o ano que vem. Eu amo campanhas.
— Estamos todos empolgados — Lex se intrometeu. — Estou estocando barras de proteína e sucrilhos para atletas.
E eu ainda estava tentando entender que merda estava fazendo.
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Má Conduta - Supercorp
FanfictionA ex-jogadora de tênis Kara Zor-el está tentando ser a melhor professora possível, prender a atenção dos alunos entediados e esquecer o passado. O que a trouxe até o estágio em que se encontra não é importante. Ela não pode permitir que seja. Mas, a...