Capítulo 20: Dia de Show

18 5 29
                                    




Mickey encarou o quinto teste de gravidez em sua mão trêmula.

Não havia dúvida.

No celular, mensagens de Tank, Theo, Jade e Daniel vibravam na tela.

Daniel.

Ela teria que conta-lo.

Seu ex-namorado infiel, aquele que partira seu coração.

E ainda assim ela havia se doado para ele uma última vez.

Mickey desejou poder voltar no tempo.

~

Duas semanas se passaram depois do meu trauma craniano, que não teve muita repercussão além do que tinha quase acontecido assim que acordei do desmaio (um grande indício de sequela). Mickey ainda não tinha voltado para a escola, mas pelo menos enviou um texto encaminhado para eu e Theo dizendo que não estava muito bem mas que voltaria para assistir a apresentação de Grease e mais tarde iria no baile.

Ela não respondeu mais nada do que enviei e nem um dos meu quinze textos de pedido de desculpa, mas fui tomada de esperança que poderíamos conversar pessoalmente quando nos víssemos.

Meu pai havia voltado da França e agora parecia empolgado com a organização da viagem de Spring break anual das famílias. Só naquela semana tinha recebido os pais de Theo e os Rockefeller quatro vezes, para decidir se iríamos patinar na Argentina, alugar um cruzeiro no Caribe ou visitar um safari de luxo.

Por enquanto estava decidido um acampamento na Croácia. Sei disso porque peguei seu celular em uma tarde de domingo, e embora não tivesse achado nada que indicasse uma possível amante, eu encontrei os planos da viagem que ele adorava manter surpresa até a véspera. Aproveitei para força-lo a contar para todo mundo logo, já que minha mãe e eu não suportávamos mais colocar biquínis na mala para o Alaska.

Nicholas e eu nos encontrávamos nos ensaios finais da peça, e era sempre divertido. Finalmente apreciamos ter estabelecido uma espécie de paz duradoura, mas um pouco distante. Não que ele houvesse se afastado porque não éramos exatamente próximos, mas talvez eu esperasse mais depois do momento na enfermaria.

Talvez Nicholas só fosse mais racional que eu. Só soubesse a posição que cada um de nós ocupa no jogo entre as famílias.

E agora que não existia mais nenhum motivo para nós nos odiarmos, também não existia mais um vínculo.

Ele também parecia um pouco distraído.

''Tudo bem, mas me avise se tiver outra notícia''.

Escutei ele dizendo a alguém, na saída do camarim, ao telefone, na véspera da peça. Sempre que acabavam os ensaios ele ia embora o mais rápido possível.

Eu, por algum motivo, sempre buscava ficar um pouco mais.

Agora era sexta-feira, e eu não tinha dormido muito, mas meu pedido no Starbucks de Latte de tempero de abóbora teria que me ajudar a fingir que sim. Afinal hoje era a tarde de estreia da peça, a noite teríamos um baile de máscara centenário da família Winston no Met, e eu ainda tinha que começar a arrumar as malas para o acampamento.

Além de retocar as unhas, sobrancelhas, bronze, talvez luzes?

Enfim.

— Princesa! — Chad Rockefeller acenou da janela de passageiro do Bentley, estacionada em frente ao meu prédio. Era mais um dia nublado em Manhattan, que eu poderia enfrentar com um café na mão e uma echarpe Louis Vuitton. Como não teríamos aula de manhã, eu e Chad havíamos combinado de ir comprar colchões infláveis e lanternas para a viagem, coisa que ele fez questão de deixar claro que não eram parte de um encontro, e que nosso verdadeiro encontro só iria acontecer depois da viagem em família, pois seria algo muito grandioso.

Desejos e DesavençasOnde histórias criam vida. Descubra agora