Capítulo 18 - Pecadores

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Nick tinha as costas largas apoiadas na parede do hall de entrada, e o rosto voltado para o chão.

A jaqueta e os cabelos viçosos molhados denunciaram que ele não tinha escapado da chuva no caminho da minha casa. Gotas escorriam das costas de sua nuca, atravessavam o pescoço firme e desapareciam no conjunto de couro e calça jeans que cobriam o garoto.

— O que você tá fazendo aqui? — Repeti, com impaciência causada pela falta de reação.

Seu rosto se ergueu pouco, mas o suficiente para que a luz do teto sublinhasse os detalhes da expressão. Expressão que eu nunca tinha visto antes em Nicholas Van Dusen, e a forma com que os olhos coloridos brilhavam com selvageria.

— É serio que você não vai falar nada? — Eu disse, e ele continuou me fitando em um silêncio muito irritante —  Você veio aqui me encher o saco por causa daquela história do Tilly Copanca de novo? Eu já falei que não fiz aquilo de propósito.

— Não.

Nick respondeu com uma firme rouquidão, os olhos ainda presos nos meus com o mesmo intuito.

Senti o ar que nos envolvia esquentar, por algum motivo.

— O que é então?

Nada.

— Não basta você ter roubado o papel do Chad só para me encher o saco, você também teve que vir até aqui se vangloriar? É isso?

Nada.

Meu coração passou a palpitar contra o meu pescoço, de raiva, claro. Raiva do efeito que aquele rosto estupidamente bonito me causava sem ter que dizer uma palavra.

Por que é sua mera presença me surgia todo aquele efeito?

— Dá o fora daqui, Nicholas — Eu lutei contra minhas vontades — Eu não quero mais saber disso, eu só quero ficar em paz. Eu não quero mais saber de você!

Embora meu corpo tivesse cedido ao impulso de tremer, no rosto dele minha frase fez se desenhar o que eu menos esperava: 

Um sorriso.

— Mentirosa.

E antes que eu pudesse me recompor, Nicholas Van Dusen alcançou meu pescoço com a mão, pressionou meu corpo — com pouquíssima piedade — contra uma parede, e uniu nossos lábios.

O desejo me inebriou como a magnitude de um tsunami, e fez todos os meus preconceitos se dissolverem no sabor de Nicholas Van Dusen. Sua mão desceu até minha cintura, e contornou ela com a mesma violência que seu beijo quente me mantinha presa contra a parede.

Eu nunca havia sido beijada daquele jeito. Com tanto impulso que eu seria capaz de esquecer meu próprio nome.

Eu queria mais. Queria mais do que sua língua perigosa dançando contra a minha, e então nos lábios, no pescoço, no colo. Arfei enquanto pedia por mais dele com as unhas correndo em sua nuca.

— Mentirosa — Ele repetiu, dessa vez bem mais baixo, e então colou o corpo tão comparavelmente grande, contra o meu.

Nossos lábios se encontraram de novo, dessa vez com mais sede.

Um Van Dusen.

Eu era a pior das pecadoras.

Uma de suas mãos percorreu o caminho cuidadoso de volta ao meu pescoço, onde exerceu uma pressão que me fez gemer contra sua boca mais uma vez.

Aquilo era tão bom.

Tão, tão bom.

Até que deixou de ser bom, e passou a ser péssimo.

Desejos e DesavençasOnde histórias criam vida. Descubra agora