Capítulo 13: Clube Lótus

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Antes de levar você junto comigo para o tal do Clube Lótus, acho relevante narrar uma cena que aconteceu no começo da noite. Cena que mais tarde a Mickey teria contado para mim também, e que aconteceu enquanto eu e Theo derrubávamos o guarda roupa todo da minha casa atrás do look dourado.

— Ah. E aí, Mickey — Nicholas Van Dusen disse, assim que encontrou a Mickey em seu cashmere bege e mãos escondidas entre os joelhos, sentada na larga poltrona púrpura do hall de entrada de sua cobertura — Não sabia que você tava aqui. Tá procurando o Tank?

— Ah, oi Nick — Mickey respondeu de volta como se tivesse acabado de escapar de um transe. As olheiras embaixo de seus olhinhos caramelos estavam mais ressaltadas que de costume — Não, eu não vim pelo Tank, meus pais estão em uma reunião com os seus... Só estou esperando eles — Ela disse, e Nick finalmente notou o som de conversas descontraídas vindas da cozinha.

Os Winston, sem excessão, eram todos pessoas extremamente angelicais, tão angelicais que conseguiam ver bondade até nos Van Dusen, cujos depois de nossa família eram os favoritos dos pais da Mickey.

— Entendi — Nick disse, ajustando a camisa social preta em um dos muitos espelhos da sala. Depois abriu uma cristaleira de whiskey e serviu um pouco para si mesmo, antes de estender o copo para Mickey — Aceita um esquenta para a Lótus?

— Ah não... Obrigada — Mickey balançou uma das mãos — Eu não vou.

— Sério? Eu vi a Jade comprando um ingresso hoje mais cedo, achei que vocês iam juntas.

— Ela me chamou, mas... Eu não estou me sentindo muito bem — Mickey abaixou os olhos, como se estivesse falando sozinha — Desde o dia do campeonato, para ser sincera...

Nick e Mickey nunca tinham sido muito próximos, mas se conheciam a tempo suficiente para que Nicholas conseguisse identificar que a áurea sempre alegre e energética da menina pareciam ter evaporado no ar.

— Você quer que eu chame seus pais? Você não parece muito bem mesmo. Posso ligar para o Tank também e-

Não! Quer dizer, não... Tá tudo bem, não precisa falar nada para ninguém. Não é nada demais — Mickey disse, e então mordeu uma das unhas, ansiosa, e disparou a falar — Onde fica o banheiro? Quer dizer, eu sei onde fica o banheiro. Com licença Nick, e... Boa festa!

Nicholas assistiu curioso, enquanto Mickey desaparecia entre um dos vários corredores da cobertura de forma apressada.

Talvez não parecesse em um primeiro instante, mas Nicholas Van Dusen era bem observador. Observador o suficiente para saber que tinha algo de errado com Mickey que ia além de um simples mal-estar.

Mas, no momento, seu foco era a noitada à vista.

~~

— Jade! — Theo gritou como se o cutucão na curva da minha costela não tivesse sido o suficiente — Aquela ali é a socialite Betty Button, não é?!

Apertei os olhos pela multidão de pessoas com roupas de todas as cores e formatos que se esticava por toda Park Avenue 124th.

— A de salto quinze?

— Não, é a de cabelo chanel loiro-mostarda no final da fila... A mil anos luz da gente. Jade vamos passar a noite inteira nessa fila — Theo disse o óbvio, desapontado, enquanto eu concordava formando um bico. Estávamos tão distantes da entrada que eu era incapaz de vê-la.

— Theo. Jade.

Uma voz irritantemente macia ecoou por trás de nossas cabeças, atraindo eu e Theo.

— O que você quer, Nicholas? — Grunhi.

— E aí, Nick — Theo, bem... não grunhiu.

— E aí, Theo — Disse, então levou aqueles olhos perniciosos até mim, onde ele os dançou por um tempo — Tá linda, Jade. Gostei do vestido — Lá estava de novo o sorrisinho cretino.

— Eu não ligo para o que você gostou. O que você quer?

— Calma esquentadinha, vi vocês dois aqui atrás e vim perguntar se vocês não querem ajuda furando essa fila.

— Eu quero — Theo foi mais rápido que eu.

— Você? Me ajudar? Vai chover hoje? — Cruzei os braços.

— Só uma cordialidade com meus colegas de escola. Sei que vocês Van der Beek não estão acostumados com esse nível de gentileza — Nick rosnou, se aproximando do meu rosto — Mas nós Van Dusen estamos.

— E você pretende furar essa fila com que status de celebridade, Nicholas? — Rebati, desfazendo ele com os olhos, mas não por muito tempo porque a camisa social preta que Nicholas usava estava apertada contra os braços fibrados dele, e eu até onde eu tinha visto eu não era feita de titânio.

Nicholas, como sempre, ainda carregava um sorrisinho inclemente e parecia estar se divertindo.

— Bem, eu não tenho nenhum status, mas talvez vocês conheçam a minha amiga — Nicholas disse, e antes que ele pudesse apresentá-la, Theo já tinha me dado outro cutucão na costela, dessa vez com tanta força que senti uma fisgada no rim.

A amiga em questão, que era consideravelmente mais alta que eu e Theo e fez nós dois levantarmos a cabeça impressionados igual dois filhotes de pinguim, já que ela era ninguém mais ninguém menos que Heidi Mackauly, a mais nova angel da Victoria Secret's.

— Bo-Bo-nita — Theo balbuciou igual uma criança de três anos querendo papinha, e eu não seria capaz de julgá-lo. Não tinha nada de photoshop nas capas de revista onde Heidi saía com seus brilhantes e vastos cabelos castanhos, sua boca carnuda, os olhos esguios como os de um gato e a pele perfeita cor café.

A bicha era linda.

— Eu acho que se conversarmos com o segurança ele pode liberar a gente — Heidi sugeriu, além de tudo simpática.

— É, eu também acho — Nick concordou e caminhou rindo até o final da fila, provavelmente das expressões enfeitiçadas no meu rosto e no de Theo — A propósito, troquem de pulseira — Ele disse, arremessando duas pulseiras idênticas as que eu e Theo usávamos no braço, só que ao invés de roxas, verde-claras.

— O que é isso? — Theo perguntou.

— A roxa é para menores de idade, com a verde vão servir bebida para vocês.

Eu e Theo nos entreolhamos daquele jeito que amigos se entreolham e sabem exatamente o que cada um quer dizer.

A noite ia ser longa.

Desejos e DesavençasOnde histórias criam vida. Descubra agora