Capítulo 21: Beril Vermelho

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Dizem que o estranho baile surrealista da família Rothschild, em 1972, foi na verdade uma tentativa rebuscada de imitar o baile mascarado da família Winston, que era uma tradição multigeracional da família desde a época em que fundaram a joalheria e iniciaram a construção do império de diamantes (como os tabloides gostavam de chamar).

E os Winston gostavam do apelido, já que todo ano escolhiam uma determinada pedra preciosa para o tema da noite, e então era papel da equipe de organizadores encontrarem arranjos floridos, esculturas de gelo, sousplat, cerâmica e um belo lustre milionário que brilhasse tanto quanto a jóia da vez.

A do ano era a Beril vermelho, também conhecida com a esmeralda vermelha. Uma pedra mais rara que o diamante, e que em mais de 100 anos só tinha sido encontrada em Utah e Novo México.

Para combinar com a escolha, o baile tinha sido decorado com velas envolvidas por uma capa vermelha-quente, o teto instalado com pontos brilhantes de diferentes tamanhos que simulavam estrelas, estátuas nuas de pedra creme segurando arcos em homenagem ao escultor americano Augustus Saint-Gaudens, lustres de cristal, e um colar avaliado em U$ 105 milhões pendurado no pescoço de Queen Winston, a avó de Mickey.

Embora o espaço fosse iluminado de forma pouca e sensual (para colaborar com o anonimato), no espelho do corredor de entrada consegui avaliar bem meu próprio reflexo. Eu havia escolhido um vestido de fundo cor de pele que se demorava em todas as minhas curvas até a altura dos joelhos, onde se abria como uma cauda de sereia. As alças eram curtas mas repousavam leves nas laterais dos meus ombros nus, e toda extensão do vestido invisível era recoberta por pedras Swarosvky, de diferentes tamanhos mas perfeitamente simétricas lado a lado.

Em cima, uma máscara desenhada em arabesco prateada e afiada nas pontas ao lado das têmporas de meu rosto.

— Van der beek — A sra. Winston recebeu meus pais com um aperto caloroso usando as duas mãos, e por último segurou a minha. Seu vestido e máscaras eram sóbrios para não competir com as jóias, mas a cor era perfeita para a decoração — Você está divina. Obrigada por terem vindo.

— A festa está divina — Minha mãe elogiou.

— Obrigada pelo convite, Sra. Winston. A Mickey já está aqui? — Perguntei.

— Não posso te dizer nada sobre os convidados — A sra. Winston disse com um sorriso divertido.

O baile contava com algumas regras tão centenárias quanto ele:

1. Não se pode perguntar o nome de ninguém.

2. Não se pode tirar a máscara antes da meia-noite.

3. Todas as luzes se apagam à meia noite, e assim que elas forem acesas novamente, todas as máscaras devem estar no chão.

Regras que me faziam acreditar que aquele baile teve origem em alguma espécie de bacanal.

— Certo — Sorri, sem graça, então tomei os braços de meus pais e cruzamos a cortina que separava a entrada do museu com o salão de gala.

Havia também uma quarta regra: Qualquer beijo até a meia-noite deveria ser mantido em segredo, e os casais separados ao apagar das luzes. Aquilo não era exatamente uma regra, e sim parte da ''tradição'' das famílias que eram convidadas, em especial os membros mais jovens.

Era a noite perfeita para um primeiro beijo, e a perfeita para um último.

˜

Foram três apertões de braço em desconhecidos magrelos até que eu encontrasse Theo, com sua máscara verde-escura em renda e seu smoking de seda na mesma cor.

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