Capítulo 15 - Os Descalços Predestinados

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Eu demorei para admitir isso, porque a verdade é que aquilo já estava tão claro quanto a luz do sol que sai pela fresta da janela e te acorda, da ressaca, as sete e vinte da manhã de um domingo.

Mas sim, agora eu — Jade Van der Beek — estava pronta para ser sincera comigo mesma:

O Nicholas Van Dusen sabia sim curtir uma festa.

E não era do jeito que eu esperava. De um jeito cool, frio e distante, onde nós dançaríamos tango de uma forma charmosa, onde eu o assistiria conversar de forma madura com estranhos. e ficaríamos os dois bebendo gin como dois adultos, conversando sobre finanças e carros esportivos.

Nick não era cool, em sua essência crua, bêbada e nua;

Ele era quase uma criança.

E eu juro que eu lutei com garras e dentes para fingir que era tedioso tomar uma garrafa inteira de vodka e depois expelir um pouco pelo nariz de tanto rir do jeito tosco que algumas daquelas pessoas pareciam dançar, e principalmente o jeito que o Nick imitava elas.

Lutei com unhas e patadas para fingir que preferia estar em casa dormindo do que estar ali com ele tirando nossos sapatos no meio de um clube do luxo, e que era a coisa mais sem graça que eu tinha visto o jeito descarado que Nick saia perguntando para aquele bando de desconhecidos se alguém tinha perdido o sapato em questão, só pelas risadas e pelo jeito confuso que eles olhavam para os nossos pés descalços.

Mas eu não consegui, eu perdi a luta no instante em que notei que meu coração ricocheteava violento contra meu peito. Perdi quanto notei que fazia anos que eu não me divertia daquele jeito.

— Jade, aposto um. Só um centavo, que você não dá uma puxada na peruca daquele cara — Ele falou alto no meu ouvido, embora estivesse tentando sussurrar. Depois nós dois lutamos entre as gargalhadas bêbadas para que eu tentasse descobrir de quem ele estava falando.

— Eca! Idiota! — Eu gargalhei contra o peito dele. Naquela altura da madrugada aquilo não era nem mais estranho — Você acha que eu vou fazer isso por um centavo!? Eu faria isso de graça!

Por deus como nós éramos infantis, como dois pirralhos soltos em um mundo cheio de adultos, criando no meio daquela multidão um mundo só nosso.

Foi a vez de Nick afogar o rosto no meu ombro, ríamos daquele jeito engasgado enquanto as luzes violeta pareciam girar em cima da minha cabeça.

— Vai lá então, é aquele — Ele apontou.

E eu estava prestes a ir, quando Theo, com os cabelos alvoroçados e gloss rosa cremoso borrado ao redor de seu rosto se materializou na frente de nós dois.

— Theo, onde diabos você estava!? — Perguntei, vê-lo depois de tanto tempo sumido quase me deixou sóbria de novo — Faz umas duas horas que eu não te vejo.

— Parece que alguém estava se divertido — Nick apontou.

— É uma longa história, mas que bom que achei vocês dois, preciso de vocês — Theo disse — Mas antes, como tá meu cabelo?!

— Um caos — Eu disse, tentando domá-los com o movimento lerdo e pouco certeiro da minha mão — O que aconteceu?!

— Vou usar duas frases por que sei que seu bafinho de vodka não deve estar conseguindo processar mais que isso: 37 anos e tem um íate — Theo disse, limpando o próprio rosto com a água que tinha transpirado do copo de Nick — ele tá no camarote, lá no terraço e chamou eu e mais alguns amigos.

37 anos!? — Berrei, porque de fato a vodka não tinha permitido que eu processasse muito bem o resto. Nick parecia igualmente confuso.

Desejos e DesavençasOnde histórias criam vida. Descubra agora