Capítulo 28: Suíça

19 2 30
                                    


Piso de carvalho branco polido, orquídeas brancas hidratadas e colocadas na varanda voltadas para o leste. Tapete de seda persa aspirado. Cristaleira de whiskey reabastecida. Poeira espanada. Louças de porcelana empilhadas. Perfume de jasmin desbaratado pelos corredores, e café da manhã servido:

Torradas francesas, pão de mel, ovos benedict, parfait de frutas com granola e uma jarra de suco verde detox.

Pronto.

A senhora Kim – a governanta dos van der Beek – só tinha um último afazer:

Acordar Jade.

— Jade, querida — A senhora deu dois toques na porta de madeira branca. Em retorno, escutou um estardalhaço e uma dupla de risadas.

Depois de alguns instantes uma voz farsada e aguda, que definitivamente não pertencia a Jade e nem à uma mulher, respondeu:

— A Jade está no meio da aula de francês, merci beaucoup!

Ecoaram mais risadas abafadas.

— Por Deus, cale a boca — Dessa vez era Jade para o outro interlocutor. Então em um tom mais alto, gritou para a senhora Kim — Senhora Kim, eu estou tendo uma aula agora, vou ter que tomar café mais tarde, desculpa!

— Au revoir! — A outra voz despediu, em um sotaque terrível.

Senhora Kim teve a certeza de que a voz não pertencia a um professor de francês, e mais certeza ainda de que não ficaria lá para descobrir quem era seu dono.

Nick tinha um único defeito: fios grossos na sobrancelha que eu estava determinada a arrancar independente a dor.

— Fique quieto se não vou beliscar sua pele — Ameacei, me debruçando sobre ele. Pernas entrelaçadas, uma de suas mãos me prendendo contra seu tórax e a outra se defendendo dos ataques da minha pinça.

Mais uma vez seu perfume incrível tinha dominado minhas roupas, pele, travesseiro, quarto, vida.

Argh — eu belisquei a pele sensível sem querer. Não era muito habilidosa — Não, chega dessa tortura — Nick tomou a pinça e a arremessou longe, no carpete.

— Eu tava quase terminando — Insisti, mas em um golpe ágil Nick tinha me prendido contra a cama, com os punhos ao lado da cabeça.

— Você vai pagar pelos seus crimes, garotinha — Seus lábios alcançaram meu pescoço, a língua quente vacilando delicadamente sob alguns pontos.

— Se concentre, Nick — Disse, mas sem ter coragem ou desejo de afastá-lo — Você prometeu que hoje iríamos decidir.

Já faziam alguns dias que estávamos tentando tomar a decisão. Mas sempre que Nick e eu tínhamos oportunidade de nos encontrar às escuras — como naquele dia, onde meus pais tinham ido passar o dia em uma reunião em Nova Jersey — acabávamos nos concentrando em outras coisas.

— Eu já falei que você pode decidir sozinha. Contanto que você esteja comigo, eu não ligo para onde vamos — Seus olhos verdes me alcançaram, relaxados, sensuais.

— Qual a graça de escolher sozinha onde vamos passar o nosso aniversário?

— Muita graça — Nick me beijou — Amsterdam, — outro beijo — Veneza, — e mais outro — Brasil.

Dane-se.

Bastou só mais um beijo para que eu envolvesse seu pescoço com os braços e nós nos distraíssemos pelo resto da manhã.

Assim tinham sido o último mês desde o acampamento. Embora, mais uma vez, os van der Beek tivessem jurado inimizade aos van Dusen pelas ações de Mark, eu estava me encontrando com o herdeiro mais proeminente praticamente todos os dias. Se não no meu quarto, nos cantos da escola, em cafeterias ou bancos de trás de sua Bugatti. Nós bolávamos toda espécie de plano para tirá-lo do meu apartamento durante a madrugada, para que pudéssemos nos telefonar fingindo que ele era eu Mickey, ou eu o Tank. Eu seria capaz de fazer qualquer coisa, menos tirar as mãos de Nicholas van Dusen.  A melhor parte: eu tinha certeza de que ele sentia o mesmo.

Desejos e DesavençasOnde histórias criam vida. Descubra agora