Capítulo 25: Histórias de terror

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Jade

— Regra número dezesseis: Não comer dentro das barracas, a não ser que vocês queiram acordar beijando a bunda suja de um guaxinim faminto. Regra número dezessete, nunca ande descalço pela mata, a não ser que goste de brotoejas. Mantenham as fogueiras no máximo 4 metros de distância das barracas, nunca deixe o fogo ali sem supervisão, mantenham dois baldes de água por perto de qualquer fogueira. Não consumam nenhuma espécie de cogumelo que possam encontrar nas trilhas.

Porra, mas o Tank é fã de cogumelo — Nick interrompeu o guarda florestal, arrancando risadas da maioria de nós, com exceção da minha família. Ferdinand balançou a cabeça em reprovação.

Depois do auto-sorriso orgulhoso, seus olhos encontraram os meus. Isso havia acontecido diversas vezes depois de seu chilique na jacuzzi. Diversas vezes desde que saímos cada um de sua tenda ao mesmo tempo (ele com pedaços de papel higiênico grudados nos sapatos) e todas as vezes que acontecia, ele parecia buscar qualquer abertura para falar comigo.

— Você sabe o que dizer.

— Jade...

Abertura que eu não cederia.

Estávamos todos os convidados da viagem em um círculo na sede: Meu pai, minha mãe, Kenny, Chad, a sra. Chrissy Rockefeller (o pai dele não pôde comparecer), Theo e os pais, minha tia Molly, Alessandra, os primos pequenos de Theo e Linda e alguns outros integrantes dos Van der Beek, Charmicael e Rockefeller. Do outro lado, os Van Dusen também organizavam sua matilha, atentos com as instruções para a sobrevivência nos próximos dias.

A idéia de me enfurnar no mato, dormir dentro de um saco triangular, sobreviver de feijão enlatado e conviver com uma fauna de insetos por si só já era o suficiente para eu não querer fazer parte do glamping (glamour + camping) que meu pai tinha inventado. Mas como a vida não é um morango, eu também seria obrigada a escutar uma palestra de três horas sobre como não acabar morta fazendo algo que eu detesto.

(Não sei se citei a parte onde os funcionários do acampamento acordaram a gente 4:30 da manhã com uma buzina).

Theo compartilhava da minha falta de entusiasmo, e tinha separado dois livros +18 que achou na Barnes and Nobles para que nosso dia pudesse passar mais rápido.

— Nesse aqui ele é um feérico do reino da lua cheia, que se apaixona por uma ninfeta humana, e parece que tem um pau alado e enorme — ele me explicava o plot — Nesse outro aqui ele é uma entidade de dois mil anos que-

— Com licença, são livros nas mãos de vocês? — O guarda florestal executou a grosseria de interromper a nossa conversa.

— Hum, sim? 

— Ah não, isso entra na categoria de conteúdo inflamável. Vocês vão ter que colocar isso na caixinha-do-mundo-lá-fora.

A caixinha-do-mundo-lá-fora era o apelido de uma caixa de acrílico transparente onde todo mundo foi obrigado a despejar o celular. Já que acampamento é uma experiência que não ''conhece a tecnologia''. Sabrina mesmo já tinha tentado pegar o dela de volta umas duas vezes desde que o dia amanheceu.

— Tá... — Theo caminhou com pressa para atrair menos olhares para os títulos das obras. ''Atividade Parasexual'' e ''O Reino do Orgasmo''.

— A última regra mais importante é: se mantenham sempre em grupo. O ônibus da nossa equipe vai deixar vocês agora no sítio de acampamento, vai auxiliar na montagem das barracas, e depois o ônibus vai buscar vocês amanhã as dez. O acampamento é todo sinalizado com faixas nos pinheiros, e nós também fazemos buscas com drones e temos uma equipe de bombeiros há dez quilômetros do local.

Desejos e DesavençasOnde histórias criam vida. Descubra agora