O campo sob as sombras

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     Foram longas horas andando por aquele vasto gramado e nem sinal da cidade, o sol já fraco descia dando lado a escuridão, que aos poucos ia dominando os arredores, de longe os dois viram uma espécie de casa, que ao se aproximarem perceberam ser um estábulo ou celeiro velho, uma porta grande de madeira amarrada a correntes rangia com o vento que soprava já indicando a chegada da noite, Math se aproximou com os ouvidos aguçados da porta, tentando identificar algum som vindo de dentro, mas nada além do uivo leve do vento e correntes balançando, ele tentou mexer no cadeado, sem sucesso algum, naquele momento a luz da lua já predominava os céus, iluminando porcamente os arredores.

Al'cyr deu uma volta pelo celeiro, procurando alguma possível entrada.

- Nada... Não tem janela nenhuma ali para trás. - Ele diz voltando enquanto corre de quatro patas.

- Não tem jeito, desculpa ai Sr. fazendeiro... - Math então chuta com força o canto da porta, sua perna afunda com facilidade na madeira velha abrindo um pequeno buraco, ele se abaixa e começa a quebrar mais partes da porta, até que consiga passar.

- Isso é errado... - Al diz enquanto entra pelo buraco que o amigo abriu.

     Dentro é um deposito de ferramentas, mas todas extremamente enferrujadas e algumas quebradas, correntes penduradas no teto e um cheiro forte de mofo com ferrugem predomina o ambiente.

- Sinta-se em casa... - Math diz chutando alguns objetos pelo caminho, baldes, carcaças do que deveria ser uma roda e outras tantos lixos, o canis então se ajeita e deita no chão, olhando para cima, a luz da lua adentra o lugar por vários buracos no teto de eternit.

- Ah, que dia, isso tudo só pode ser um pesadelo... - Al diz num tom depressivo enquanto se deita no chão.

- Vamos conseguir fugir cara, vai dar tudo certo... -

- É... eu só tô preocupado com meus pais, espero que eles tenham conseguido fugir. -

- Olha, seu pai trabalha nas minas né, ele deve ter ficado sabendo de algo, com certeza conseguiu fugir, ele é forte e tals... -

- Espero que sim... -

- Ah, mas, vamos ser positivos, ao menos, depois de tudo isso a noite está muito bonita. -

-Sim, tem razão, vou tentar dormir... - Al se vira se encolhendo em seu canto.

     O silencio mal dura alguns segundos, e o chão começa a vibrar, Math se senta assustado, ele começa a farejar o ar procurando algum cheiro diferente, e quase que por um instante um perfume forte masculino invade suas narinas.

- Al! Tem alguém por perto. - Ele diz se levantando e disparando até a porta.

- Alguém? Como alguém? - O garoto se levanta assustado.

- O chão tá vibrando e eu senti um cheiro de perfume... - Math tenta espiar por uma fresta, mas a escuridão não ajuda muito.

- Tá vendo alguma coisa? -

- Tem uma sombra, mas tá bem longe... - Conforme o canis tenta analisar a criatura ao longe a vibração no chão aumenta cada vez mais, e subitamente a sombra começa a crescer e crescer.

- Droga... Seja lá o que for, está correndo para cá! - Ele diz em voz alta procurando por algo pelos arredores.

- O que a gente faz? - Al pergunta desesperado.

- Corre. - Num estalar o instinto de Math fala mais alto, ele agarra Al pelo braço e corre saltando porta afora pelo buraco que abriu mais cedo.

     Os dois se jogam para fora ralando os braços e costas entre as madeiras quebradas, e no mesmo instante que caem no chão de terra logo a frente do celeiro a coisa que corria adentra a todo vapor pela porta de madeira a destruindo num só golpe, abalando as estruturas já deterioradas da construção, quebrando mais telhas do teto que desabam tamanha força do golpe.

Oito patas sob o solOnde histórias criam vida. Descubra agora