A viagem sob o sol

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     O hiena rendeu os dois e os levou pelos corredores até a entrada da caverna, as outras hienas ainda estavam em cima do corpo de Yane, logo que chegou Al tentou desviar o olhar, mesmo que não desse para ver muito do que acontecia ali.

- Então? - Baransha diz se aproximando deles enquanto limpa o focinho com um tecido amarelado.

- Bem que a senhora disse chefa, os dois estavam bisbilhotando. - A hiena que os levara até ali disse empurrando-os.

- Vocês são monstros... - Math disse encarando a líder.

- Monstros? - Ela faz um sinal com a cabeça para o outro que está atrás deles. - Está livre Zeitur, pode deixar comigo... - Ela indaga, ele faz um cumprimento e vai caminhando até entre os outros.

- Vocês vão nos devorar? - Al diz seriamente sem olhar para nenhum lado.

- Não, vocês são jovens e não espero que entendam da nossa cultura... - Baransha diz seriamente dando alguns passos ao lado. - Pode parecer um pouco cruel, porém vejam a expressão de Yane... - Ela aponta para o cadáver parcialmente devorado, Al olha com cuidado, mas ainda sim, sente um embrulho no estômago, Math respira fundo e olha fixamente, ele está sorrindo. - Ele está feliz, não pensem nisso como um canibalismo desenfreado, Yane entregou parte do seu corpo para nós em seus últimos momentos, sua alma dará forças para sobrevivermos mais um dia, talvez um filhote não tenha que morrer de fome essa noite. - Baransha termina entrando na frente dos dois novamente.

- Porque não vão embora daqui? Morar na cidade, ter uma vida normal... - Al diz olhando para ela aos poucos ainda angustiado.

- Garoto, você já ouviu falar de hienas? A sua vida pode ser difícil mustelo, mas, pelo menos, você não é uma Hhena, apesar de sermos "lindos e fieis" da espécie dos nobres canis, somos odiados tanto pelos herbívoros quanto pelos carnívoros, tudo graças a tribos violentas já extintas que tinham culturas de massacre e canibalismo, os políticos roubam nossas terras com o intuito de nos afastar da população perfeita e utópica da cidade enquanto passamos fome e a população cada vez mais torce pelo nosso sumiço, em resumo, se você é mal visto por ser pequeno e mais fraco que os outros carnívoros, nós somos malvistos simplesmente por existir, por coisas do passado que ninguém aqui pode mudar com ações, acham que somos selvagens ignorantes, e não me fale que existem abrigados que acolhem os necessitados, você não faz ideia no que acontece nesses abrigos... - Baransha encara Al que abaixa o olhar no mesmo instante, somente confirmando com a cabeça.

- Me desculpe, eu não vou falar mais nada... - Al diz engolindo a seco.

- Que seja... não importa. - Baransha diz negando com a cabeça. - Não me interessa o que acham do meu povo, vou ajuda-los amanhã e estarei livre de vocês e não terei mais debito nenhum com o imbecil do Lionel. -

- Desculpe, vamos voltar para nosso quarto... - Math diz confirmando com a cabeça e se retirando com Al, Baransha observa os dois se afastarem.

Math e Al se afastam enquanto escutam as hienas ao fundo guinchando e conversando, eles caminham alguns metros e se olham.

- É, a gente pisou na bola. - Diz Al, Math somente confirma com a cabeça. - Mas aquela selvageria... Eu preciso de tempo pra entender isso... -

- Eu me senti como quando fui encurralado pelo Pata... - Math responde decepcionado.

- Mas então, onde Mone se meteu? - Al chacoalha a cabeça tentando mudar de assunto.

- Eu não quero voltar lá para perguntar para Baransha novamente... -

- Eu menos... Vamos voltar para o quarto, nos preocupamos com isso amanhã... -

     Ao se aproximar da porta do quarto um som ecoa pelos corredores, como um grito com a voz irritante de Mone, Al e Math se olham e começam a correr em direção do local do grito, é confuso conseguir distinguir de onde ele vem, o lugar é quase um labirinto e os sons ecoam pelos corredores como fantasmas, até finalmente chegarem em outra rampa, porem essa parece ter acesso ao topo da pedra, a única coisa que conseguem ver lá de baixo é o céu noturno e as estrelas, os dois disparam rampa acima enquanto continuam a ouvir pequenos gritos do toupeira e pedidos de socorro, Math começa a se desesperar, iniciando uma corrida com as quatro patas jogando o suporte da tala de lado, seu braço grita de dor enquanto o faz, ele salta chegando na superfície enquanto Al está ainda muito atrás tentando correr o mais rápido possível com suas pernas curtas.

Oito patas sob o solOnde histórias criam vida. Descubra agora