Oito patas sob o sol

Estrelas sob as sombras

     Math nunca foi muito religioso, mas quando se pensa em morte, geralmente deve-se acreditar em algo, um deus maior? Uma entidade de luz que comanda toda a entropia do universo, esse mesmo, teria abandonado todas as bestas de qualquer maneira na terra? Se não, porque estaria tudo tão caótico.

- Afinal de contas, vocês realmente olham por nós? Ou morreram em vão e sumiram! - Math diz calmamente em tom de protesto.

- Nós acreditamos que eles estejam lá em cima... - Baransha diz da escada, Math se assusta e se senta.

- Err... Eu só estava pensando alto, não conseguia dormir... - Ele tenta se explicar envergonhado.

- Nah... Relaxa, eu também não consigo dormir, essa dor tá me matando... - Baransha diz mostrando o curativo do braço.

- Sei bem como se sente... - Math se ajeita sentado e volta a olhar para cima.

- Mas quer saber? Para nós, sim, eles estão lá em cima, não nos olhando, mas torcendo por nós, para chegarmos lá na hora certa, que consigamos ajudar os irmãos aqui em baixo e ascender como verdadeiros vencedores... - Ela responde se sentando ao lado do canis.

- Um amigo nosso morreu, um dos generais deles matou ele na minha frente, na frente do Al e da irmã dele... - Math diz começando a encher os olhos de lágrimas.

- Deve ter sido difícil, mas garanto que ele está lá em cima sim. - Baransha diz olhando com um sorriso. - Qual o nome dele? - Ela pergunta olhando para Math num tom otimista.

- De'rick. - Math responde com pesar.

- De'rick... Então ele era um mustelo? -

- Não, um marsupial, um gambá... -

- Nunca conheci um, dizem que tem habilidades fascinantes...- 

- E você? Claro, além do seu irmão, tem mais alguém lá em cima? - Math diz secando as lagrimas com o braço.

- Muitos, quando vivemos na miséria, aprendemos a lidar com a morte, é doloroso perder, mas nos torna mais fortes. - Ela diz agarrando o colar de presas no pescoço, em seguida tira sua capa a colocando sob o colo.

- Desculpe Baransha, mas isso é pele mesmo? - Math pergunta com curiosidade a olhando no rosto.

- Sim, pele de cervo, essa... - Baransha pega a pele e coloca em sua frente segurando com sua única mão. - Essa foi um dos animais que mais amei na minha vida... Olha aonde está agora... - Ela diz com certo desespero interno.

- Ah... Meus pêsames, eu jamais poderia imaginar isso... - Math responde olhando para o lado.

- Ariel, nós éramos um trio incrível... - A hiena começa enquanto coloca novamente a capa nas costas.

- Trio? -

- Sim, eu, Ariel e Lionel, ela era simplesmente magnifica em tudo que se punha a fazer, eu e Lionel a amávamos tanto, até que toda essa baboseira racista começou a surgir, tudo se iniciou por baixo dos panos, foi lento e doloroso, Ariel era uma cientista, bióloga, Lionel veio a nós por meio de uma pesquisa, nos conhecemos e nunca mais nos separamos, ele queria pesquisar a vivência e como o DNA de canis mais selvagens reagiam, imunidades e afins, relutante, mas fui até seu refúgio, foi durante essas pesquisas que conheci Ariel, e tudo correu bem... - Baransha parece lembrar com receio do passado e diz as coisas calmamente, como se tentasse engolir tudo aquilo ainda.

- Correu bem? - Math pergunta silenciosamente.

- Sim, a pesquisa não teve muito retorno, eu não entendo dessas coisas, sei que ela era esperta e conseguia trabalhar muito bem com o DNA bestial, quer dizer, o Lionel já a substituiu, o Toupeira parece ser mais inteligente que ela, mas ela era sim incrível, atingiu patamares que a ciência jamais viu para a época, mas Lionel queria tentar mais, fomos os três para uma tribo no continente norte, aonde alguns caprinos viviam em civilização intocada, porem os racistas já haviam iniciado seus movimentos, nos interceptaram, queriam a Ariel, e conseguiram, nós é claro que fomos atrás, invadimos o lugar, atacamos, derrubamos e no fim, Lionel tinha em mãos uma escolha, a certeza em salvar Ariel ou a incerteza em salva-la e ainda conseguir parte da fórmula desenvolvida, é claro que ele arriscou ela pra isso, e ela morreu, foi uma queda de doze andares.