— Esse não é o mesmo lugar da última vez – foi a primeira coisa que Haku disse ao reconhecer o penhasco e o oceano abaixo. Yumeko não entendeu.
— O quê?
Takako explicou rapidamente que na primeira vez que usaram o portal de Shiromori para entrar no reino onírico, os três acabaram no alto de uma montanha.
— O local de saída deve ser aleatório – a miko da terra supôs. Sayuri pensou, a mão no queixo.
— Ou talvez o próprio mundo dos sonhos esteja nos ajudando, por isso nos deixou perto do oceano.
— Agir agora, especulação romântica mais tarde – Yumeko marchou em direção ao penhasco. Haku trocou um olhar divertido com as duas sacerdotisas e a seguiu.
Eles estavam a poucos metros do exato local onde viram Mikoto pela última vez, onde Yasha a empurrara para o oceano abaixo quando a miko voluntariamente deixou Akumi possuí-la. Para salvar Yumeko.
Estar ali de novo revirava as entranhas de Haku. Ele quase podia ver Yasha acertando-a com a naginata, e a lembrança fez seu sangue ferver de raiva.
Haku podia garantir que se visse Akumi ou Yasha de novo, mataria as duas com as próprias mãos.
Yumeko parou na beirada do penhasco e contemplou a água abaixo. Finalmente ela iria mergulhar naquele oceano, depois de meses apenas olhando e desejando. Então por que agora ela estava com vontade de vomitar?
Haku inclinou-se e calculou a queda.
— Então... a gente simplesmente se joga?
— É. Simples assim – Sayuri alongou os braços – Você sabe nadar, não é?
— Sim.
— Eu não – Yumeko murmurou – Eu preciso saber nadar em um sonho?
— Na verdade não – Takako amarrou o cabelo num rabo-de-cavalo – Afinal, nós não vamos nadar, só precisamos afundar.
Isso só fez Yumeko empalidecer ainda mais. Sayuri bagunçou o cabelo da adolescente e envolveu seus ombros com o braço.
— Relaxe, não é como se você pudesse se afogar de verdade no oceano onírico.
— Verdade, as ameaças que nos aguardam nessas profundezas são de um perigo muito maior do que simples afogamento – Haku comentou casualmente. Yumeko ficou um tom mais pálida e Sayuri olhou feio para o rapaz.
— Obrigada, Haku, isso facilita muito o nosso trabalho.
A menina balançou a cabeça com força, deu um tapinha em cada bochecha e piscou como que para clarear a mente.
— Não. Mikoto se arriscou vindo aqui me ajudar, eu devo isso a ela. Nem um monstro marinho vai me parar.
— Que bom. Porque você vai primeiro.
Os quatro olharam para trás num pulo. Kouta sorria descontraidamente, as mãos na cintura. Takako franziu as sobrancelhas.
— O que faz aqui? Você não estava...
— Ele não está aqui fisicamente, mas em sonho – Yumeko riu. Kouta deu de ombros.
— Vim fazer a minha parte. Vou ficar aqui para puxá-los de volta caso fique muito perigoso lá embaixo. Pensem em mim como uma garantia extra, sua corda de segurança. Yumeko não contou?
As duas miko e Haku se entreolharam antes de se dirigirem a Yumeko, que assentiu hesitantemente.
— Foi esse o nosso combinado.
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O Conto da Donzela Celestial
FantasyTerceiro volume da trilogia O Conto da Donzela Três meses após os eventos de O Conto da Donzela do Sonho, Yumeko está morando com o clã Kairiku, aprendendo a ser uma miko e procurando uma forma de encontrar Mikoto e trazê-la de volta. Mas esse não é...