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A montanha gigante mostrou-se mais fácil de escalar do que qualquer um dos legados teria imaginado. Havia um estreito caminho de terra batida que parecia levá-los direto ao topo, ladeado por arbustos, árvores baixas e pedras, como se tivesse sido construído para viajantes.

— A escalada é fácil, mas ainda é uma montanha muito alta – comentou Kouta num momento. Além dele, Ume bufou em sua forma de guaxinim.

— Como uma montanha pode ser tão alta? Só no mundo dos sonhos para ter uma coisa dessas.

— Você realmente não tem noção de onde está, não é, criança? – Yasha falou por cima do ombro, já de volta à forma humana – Esta montanha é um caminho para a fronteira com o reino celestial, o mundo natal dos deuses e dos dragões que deram aquelas pérolas às miko.

Curioso, Jin ergueu o focinho de guaxinim e perguntou:

— O que acontece quando alguém vai para lá?

— Não faço ideia, e não acho que tenha havido alguém que tentou.

— Talvez nem seja permitido – Yumeko pensou alto – Seria uma grande transgressão, um mortal invadir o reino dos deuses. Talvez eles mesmos apliquem uma punição se alguém tentar.

— Isso facilitaria nosso trabalho – Yasha sorriu – Acho que eu gostaria de ver essa cena.

Inconscientemente, Yumeko levou a mão ao bolso, onde jazia a pérola de Mikoto. Movida por uma espécie de sensação de que era a coisa certa a fazer, acabou por tirá-la e a pôs no pescoço.

Desde que Sayuri dissera para ela ficar com a pérola azul, Yumeko de vez em quando tinha sonhos estranhos, a maioria confusos, e fortes pressentimentos. Sua intuição dizia para confiar neles.

— Nós chegamos? – Ume parou, olhando curiosa para um torii à frente.

O grupo atravessou o portal em um silêncio de reverência, mas nada os esperava do outro lado além de um pátio vazio. Ali com certeza não era onde eles precisavam estar, o topo ainda estava longe.

— É uma área de descanso, ou onde deuses vinham encontrar mortais, ou talvez para deixar oferendas. Deve haver várias delas no caminho. Continuem – Yasha comandou.

Além daquele pátio, o caminho para o topo era uma escada de pedra esverdeada. O grupo seguiu em silêncio na maior parte do tempo, somente trocando algumas palavras murmuradas ocasionalmente. Por isso a surpresa quando Izumi, que se mantivera calada desde o início, sibilou atrás de Yumeko e Kouta.

— Ao primeiro sinal de perigo, vocês tirem as crianças daqui.

Os dois se sobressaltaram com o pequeno susto e se entreolharam brevemente antes do rapaz responder:

— Relaxe, Izumi, eu não vou deixar Arashi nem Seita chegarem perto de Ume e Jin. Eles terão que me matar primeiro.

— Eu não quero que você morra também! – ela exclamou esganiçada, os olhos arregalados de medo – Não quero que mais ninguém morra.

— Não se preocupe. Como miko responsável por nossa comitiva, eu protegerei todo mundo – Yumeko disse com determinação.

Foi a vez de Kouta e Izumi se entreolharem, ambos estranhando aquela resposta.

Mais algum tempo de avanço silencioso e o grupo alcançou outro pátio, quando Ume e Jin de repente pararam, retesados, emoldurados pelo torii.

— O cheiro da Mikoto está mais forte. Ela está aqui – o menino sussurrou, virando a cabeça para os outros. Yumeko reagiu imediatamente.

O Conto da Donzela CelestialOnde histórias criam vida. Descubra agora