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— Mikoto, o que houve? – Takako contemplou com tristeza a amiga diante dela. Yumeko, agora agarrada ao braço de Sayuri, falou:

— Takako, ela não é a Mikoto.

— O que isso quer dizer? – Haku exclamou, impaciente por alguma explicação.

— É exatamente o que ela disse – aquele tom de voz não podia ser de Mikoto, nem aquele sorriso. Ela começou a andar, rodeando o quarteto como um tigre, os olhos tão ameaçadores quanto os de um, e brilhando prateados.

— Como não é a Mikoto? Nós a rastreamos até aqui.

— E a trilha termina onde ela parou. Ah, ela passou por muita coisa antes de chegar aqui, encarou seus medos profundos, todas as suas inseguranças... – a Mikoto que não era Mikoto falava em tom seco, como se contasse uma história que assistira de longe – Quando tomei o corpo de Mikoto, eu já previra que a pérola reagiria à minha presença e tinha um plano para lidar com isso, mas Yasha nos empurrar penhasco abaixo foi igualmente inesperado. Mas há males que vem para bem.

"Desisti de possuir Mikoto naquele momento e me afastei, ocultando minha presença. Ela tinha esperança de me encontrar e me exorcizar, como uma verdadeira miko, mas falhou"

"Foi cada vez mais fácil influenciar a mente dela à medida que a jovem ingênua descia cada vez mais fundo no oceano onírico, incentivando suas inseguranças e culpa na forma de seus entes queridos, e por fim, de si mesma. Como é frágil o coração humano"

"Aqui, na fronteira do mundo onírico, Mikoto se desfez da pérola, sua única proteção, expondo-se à possessão, que eu enfim pude completar, livre de qualquer impedimento. Agora, tudo o que restou de Mikoto foi uma casca vazia, que agora é minha"

Takako e Sayuri olhavam para a jovem que antes fora Mikoto com horrorizada incredulidade. Yumeko nunca parecera tão apavorada, e Haku compartilhou da expressão dela por um momento, então cerrou os punhos, tomado novamente de raiva fervente.

Ele se afastou das meninas até estar a três metros de Akumi.

— Isso não vai acontecer comigo aqui. Eu vim levar Mikoto para casa.

Em resposta Akumi olhou para ele com desdém, e com um estalar de dedos, chamas prateadas envolveram-na protetoramente. Haku recuou só para tomar impulso e saltou por cima do fogo.

Agora sozinho com Akumi entre as chamas e o "oceano da morte", Haku ignorou os gritos das três meninas chamando seu nome e ergueu os punhos cerrados como um lutador de boxe. Akumi apenas o encarou.

— Você vai me enfrentar? De mãos vazias?

— É o que eu faço de melhor. Você me criou para bater de frente com youkai com meus punhos.

— Eu te dei força bruta para lutar contra os youkai irracionais da Yasha. Eu sou outra questão.

Uma aura prateada envolveu seu corpo, e assumiu a forma de sete caudas fantasmagóricas às suas costas. Akumi inclinou-se para frente, como um animal se preparando para dar o bote.

Por mais estranho que fosse erguer os punhos contra Mikoto, Haku avançou. Akumi desviou de seu soco pulando para o lado e ergueu o braço, raios prateados estalando ao redor das mãos. Haku jogou-se no chão e sentiu os pelos da nuca se arrepiarem em resposta à descarga elétrica passando acima dele.

O rapaz se pôs de pé num salto e lançou-se numa nova investida.

Do outro lado da parede de fogo prateado, Takako e Sayuri sacaram papéis ofuda com o kami de "água" na tentativa de apagá-la, mas não surtiu efeito. Quando um raio disparou e se perdeu no horizonte do mar, as primas se entreolharam assustadas.

O Conto da Donzela CelestialOnde histórias criam vida. Descubra agora