O Conto da Donzela Celestial

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— Os humanos se adaptaram bem a um mundo desprovido de magia, desenvolvendo uma tecnologia avançada para compensar, e prosperaram rapidamente. Chegou um ponto em que a maioria considerava a magia como folclore de um passado remoto. Ela estava restrita às miko do clã Kairiku, e trancada em um mundo lacrado em uma ilha distante.

Sim, a última ilha, onde ficava a entrada para o reino dos youkai. Mikoto estivera lá, na verdade nascera lá, numa incubadora. Mas agora não havia mais nenhum youkai naquele lugar, somente uma terra vazia, desde que Mikoto conjurara o kami de "morte" contra todos os monstros daquela dimensão.

Naquela hora, ela fora movida pelo calor do momento, achava que era a única forma de garantir que nenhum youkai tentasse fugir e destruir o mundo humano. Mas depois, começara a pensar que fora um ato radical, e uma transgressão, uma vez que conjurara um kami proibido.

— Os youkai podiam estar fora dos limites do mundo humano, mas ainda existiam no mesmo plano físico – os olhos azuis da entidade voltaram-se para Mikoto – A eliminação deles foi uma grande alteração no mundo, e como tal, naturalmente geraria repercussões.

Mikoto apenas assentiu e enfiou o rosto no pelo macio.

***

Só foram necessários dois dias para Sayuri decorar toda a oração de exorcismo e cada passo e movimento do suzu e gohei que a acompanhavam.

Enquanto isso, Takako se debruçava dia e noite no material que a equipe de pesquisa reunira sobre descendentes de youkai e suas habilidades. Também não foi preciso muito tempo para a miko da terra concluir que não havia absolutamente nada que ela pudesse usar naqueles velhos registros.

— O que nós queremos é algo inteiramente sem precedentes. Não há nada em que possamos nos basear porque nada assim nunca foi tentado – ela explicou numa reunião fechada em seu escritório com Tamayori e Sayuri – Na época antes do banimento dos youkai, quando um legado representava um problema devido a seus dons, era simplesmente banido da cidade ou morto. Tentar controlar ou canalizar o que podiam fazer nunca chegou a ser uma opção.

Um breve silêncio se instalou no recinto enquanto as palavras de Takako eram absorvidas, e Sayuri por fim perguntou, insegura:

— Então não tem nada que possamos fazer?

— Eu não diria isso. Visto que enfrentamos um problema nunca antes registrado, teremos que criar uma solução do zero. Será complicado – Takako tamborilou os dedos no joelho – Criarei um encantamento para suprimir o lado youkai dos legados.

Sayuri e Tamayori olharam surpresas para a jovem. A alta-sacerdotisa argumentou:

— Isso não será uma tarefa fácil, você sabe disso. E levará tempo para o encantamento estar pronto, o que vai adiar a procura por Mikoto.

— Não precisa ser assim – Sayuri contestou – Takako pode ficar e cuidar disso, e eu dou seguimento à missão de resgate...

— Nem pensar! Essa missão precisa de nós duas para dar certo!

As três começaram um debate sobre como conciliar as duas tarefas, e no calor da discussão, não ouviram os passos de Ume se aproximando da porta. A menina ficou na ponta dos pés para não ser percebida e aproximou o ouvido da fechadura da porta para escutar melhor. Após ouvir o que precisava, ela saiu dali.

A menina foi imediatamente ao encontro de Izumi, Kouta e Yumeko, e contou tudo.

— Droga... Yumeko, você disse a elas que Akumi está em movimento, certo? – o rapaz perguntou.

— Claro, entrego relatórios quase todo dia. Elas vão levar isso em consideração, não é?

— Vamos dar até amanhã, então perguntamos qual é a decisão delas – Izumi sugeriu. Os demais concordaram.