O olhar de Izumi era penetrante. Atrás dela, Ume e Jin espiavam curiosos. Yumeko engoliu em seco.
— Quanto você escutou?
— Bastante. Vocês não sussurram tão baixo quanto pensam, e meu quarto é aqui do lado – ela cruzou os braços, seus olhos semicerrados numa expressão inquisidora – Então, quando iam nos contar que pretendem fugir para encontrar Mikoto no reino onírico?
Quando Yumeko terminou de contar o que planejava, a mãe de Ume já os chamava da cozinha para o jantar, mas ninguém se moveu. Agora Kouta e os dois mais novos sentavam na cama do rapaz. E de pé, diante de Yumeko, Izumi fez silêncio enquanto absorvia tudo que ouvira.
— Vocês iam partir esta noite?
— Eu tentava convencer o Kouta a fazer isso quando vocês chegaram. Queria sair daqui depois da hora de dormir.
— E iam sem nós – Jin estava claramente ressentido por ser deixado para trás. Izumi bufou.
— Seria a única boa decisão que ela tomou hoje.
— Mas por que não podemos ir? – Ume fez beicinho.
— Porque vai ser perigoso – Kouta falou como se fosse óbvio, porque era – Nenhum de nós quer arriscar que mais alguém se machuque.
— Nós podemos ajudar – protestou Jin – Somos alunos do Haku agora também.
— Ele só é seu professor há dois dias – Izumi retrucou.
— Mas ele já nos ensinou um monte de truques novos.
— Bem – Yumeko cortou a todos – Eu e Kouta vamos. Você por acaso vai contar às miko ou ao meu pai?
Izumi hesitou, dividida entre entender os sentimentos de Yumeko e o desejo desesperado de poupar outra criança do mesmo destino de Ayana.
— Não. Mas não pode considerar outras opções?
— As miko vão demorar para decidir qualquer coisa, e só temos três dias.
— Tudo bem. Só... – Izumi massageou o topo do nariz – Só me dê até amanhã de manhã para pensar em outra solução, e se eu não tiver nada até lá, então podem ir, e eu não contarei a ninguém. Posso até acobertá-los.
Yumeko e Kouta se entreolharam brevemente antes de assentir.
— De manhã cedinho. Antes do café-da-manhã.
A adolescente mais velha concordou e todos foram rapidamente para a sala de jantar, onde usaram todas as habilidades de atuação que possuíam para fazer parecer que estava tudo bem.
Izumi não falou muito, só estava aliviada por ganhar mais algum tempo antes que Kouta e Yumeko fizessem aquela loucura, mas agora teria que pensar em outro curso de ação para eles. Era uma certeza que ela não conseguiria dormir naquela noite.
Seu cérebro trabalhava o mais rápido que podia enquanto comia e depois escovava os dentes. Antes de ir tomar banho, ela foi à cozinha para beber um copo d'água, e viu Jin e Ume andando sorrateiramente pelo corredor, em direção ao quarto de Yumeko.
Tão silenciosamente quanto os dois, Izumi os seguiu. Os primos espiaram por uma fresta na porta, grande o suficiente para passar a voz de Kouta.
— Está tudo pronto. Já podemos ir.
— Eles vão sem a gente! – Ume sussurrou para o primo.
— Ouviu isso? – agora era Yumeko, alarmada – Vamos embora, depressa!
Os dois mais novos explodiram dentro do quarto e correram para Yumeko e Kouta, de mãos dadas e prontos para irem ao reino onírico. Izumi correu atrás deles e os agarrou pelo cangote no instante em que uma luz os ofuscou. A mais velha puxou as crianças para longe, mas já não estavam mais no quarto quando fez isso.
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O Conto da Donzela Celestial
FantasyTerceiro volume da trilogia O Conto da Donzela Três meses após os eventos de O Conto da Donzela do Sonho, Yumeko está morando com o clã Kairiku, aprendendo a ser uma miko e procurando uma forma de encontrar Mikoto e trazê-la de volta. Mas esse não é...