— Mas o quê?! – o quarteto foi recebido com um grito – O que estão fazendo aqui?
— Nós podíamos te fazer a mesma pergunta – Takako retrucou. O que Yasha ainda fazia no meio da Montanha dos Cinco Elementos?
Haku olhou por cima do ombro, sem encontrar nada atrás dele, e estranhou. Por um instante Yasha olhara assustada para um ponto atrás dele, e pareceu que fora para lá que seu grito se dirigira.
— Achei que já tivesse ido embora – disse Mikoto. Ela evitava o olhar de Yasha.
— Eu pretendia, mas no caminho encontrei o gêmeo mais alto, e ele estava...
— Possuído – Sayuri completou. Yasha assentiu.
— Não percebi isso na hora, ele passou correndo por mim, mais rápido do que eu achava que ele era capaz, e desapareceu escada acima. Estou atrás dele há umas horas – ela suspirou – Akumi dá mais trabalho para morrer do que eu.
Takako semicerrou os olhos numa expressão que falava "a gente que o diga", olhou para o relógio de pulso, depois para cima. O topo da montanha ainda parecia muito distante.
— Temos aproximadamente cinco horas até o equinócio. Movam-se.
O grupo seguiu para o próximo lance de escadas, mas Haku parou ao olhar para trás e ver que Yasha não se movera, e perguntou:
— Ei. Você não vem?
— Todas as miko estão aqui, então elas vão lidar com Akumi. Não tenho porque ficar.
Observando a cena, Mikoto comprimiu os lábios. Yasha poderia ser uma ajuda considerável, mas não era só por isso que gostaria que ela fosse, parecia de alguma forma certo que ela estivesse presente quando encontrassem Akumi. Com um pequeno sobressalto, Mikoto percebeu que era sua intuição falando.
Ela levou a mão à pérola, que piscou em resposta a seu pensamento. Aparentemente a joia também queria que Yasha fosse junto do grupo.
— Precisamos de você – as palavras saíram antes que ela pudesse impedir – Ah, eu quero dizer... Acho que você seria de muita ajuda.
— Mesmo? – Yasha esticou a palavra sem disfarçar o desdém – Uau. Então chegou o dia em que uma miko imploraria para que eu...
— Yasha! Pare de enrolar. Você vem ou não? – Takako a cortou. A mulher mais velha fez um beicinho, e Mikoto falou antes que qualquer outro fizesse mais um comentário inoportuno:
— Olhe, não é como se eu tivesse te perdoado por tudo que você fez, mas você nos ajudou antes – ela escolhia cuidadosamente as palavras – Então acredito que nossas chances serão maiores se você estiver conosco.
Um longo instante passou-se em silêncio, quebrando pelo bater de asas de um passarinho que passou voando em círculos acima de suas cabeças e piando alto. Haku sorriu.
— Um animalzinho desses aqui? Deve ser um bom presságio, certo?
— Gosto de pensar que sim – Sayuri respondeu.
Yasha olhou para o passarinho enquanto este dava voltas bem acima de sua cabeça para depois partir. Ela suspirou.
— Está bem, então. Eu vou.
E assim começaram a subir as escadas. Não havia sinal de Wukong em lugar nenhum, provavelmente já partira, sabe-se lá como. E a imutabilidade do cenário fazia com que a viagem parecesse exasperadamente mais longa.
Nas poucas e curtas pausas que fizeram para descansar, Takako tirou da bolsa e distribuiu latas de bebida energética e barras de cereal. Não era a refeição mais satisfatória ao paladar, mas serviu seu propósito de fornecer energia para prosseguirem.
O sol avançava pelo céu num ritmo semelhante ao do grupo, e em um silêncio equivalente. Quando começou a se aproximar do horizonte, no entanto, Haku olhou para Yasha e perguntou:
— Então... você vai ficar mesmo por aqui depois de tudo, não é?
— Sim. Não que isso seja da sua conta – ela bufou em resposta.
— Mas pretende passar a eternidade aqui? O que acontece quando o seu corpo morrer? Não vai se cansar de ficar só aqui?
Mikoto olhou por cima do ombro para Haku, com um sorrisinho contido pela forma como ele bombardeava Yasha com perguntas, mas ao mesmo tempo havia um estranhamento por ele tratá-la de um jeito tão amigável. E ela mesma não podia negar que também pensara no que Yasha faria após tudo aquilo.
Enquanto isso, Takako olhava para o relógio de pulso a cada dois minutos, quase parecia que tinha um tique nervoso, e só piorou à medida que ficava mais tarde.
— Relaxa, prima. Ainda temos uma hora e meia até o equinócio, e o topo está pertinho – Sayuri tentou acalmá-la. Takako rosnou em resposta:
— Eu só vou relaxar quando o equinócio passar e Akumi for apagada da existência.
Conforme Sayuri dissera, o topo da montanha rapidamente foi alcançado, e com quase uma hora de antecedência. Antes de atravessarem o último torii, no entanto, Takako gesticulou para que todos parassem e Haku a acompanhasse.
Enquanto os dois se afastavam silenciosamente, Mikoto continuava a lançar olhares de relance a Yasha, que reparou que ela queria dizer algo, mas não tinha coragem. Por fim, a mulher questionou:
— O que foi?
Mikoto suspirou, tirou um ofuda em branco do bolso e escreveu uma palavra antes de estendê-lo para Yasha, sem olhar em seus olhos.
— O que é isso? – ela pegou o talismã de papel, as sobrancelhas franzidas ao ler a palavra escrita.
— Já está encantado. É só querer usar e o ofuda funciona.
— Mas ainda não entendi o porquê de você me dar isto.
— Nem eu – Sayuri olhava por cima do ombro de Yasha – Por que dar o kami de "cura" a ela?
Mikoto hesitou, ainda sem olhar a mulher nos olhos.
— Para o caso de você mudar de ideia sobre ficar aqui para sempre, vai poder curar seu corpo e acordar. Mas sabe o que te espera caso faça isso. Você vai ter que responder pelos seus crimes, se não com as pessoas, então com os deuses.
Os olhos de Yasha se arregalaram de surpresa, bem como algo mais suave que Mikoto não teve tempo de identificar, pois rapidamente sumiu do rosto da mulher para dar lugar ao velho sorriso presunçoso.
— Tudo bem. Eu vou guardar esse presente. Estou tocada que minha irmãzinha tenha se preocupado comigo a ponto de fazer isso.
A miko do céu rosnou baixinho:
— Não me chame de irmã.
Yasha balançou a cabeça em desaprovação.
— Você não faz sentido. Trata seu Haku como irmão, mas todos nós viemos da mesma incubadora. Por que ainda reluta em aceitar a verdade?
— Porque eu e ele tivemos uma relação muito mais fraternal do que você poderia oferecer.
— E não precisa de sangue para ser família, eu e Takako somos irmãs melhores para a Mikoto do que você jamais será – Sayuri adicionou com um quê de agressividade, mas Yasha a ignorou.
— Pois eu tenho certeza que você ainda vai me chamar de irmã mais velha um dia – ela sorriu arrogante.
Antes que Mikoto pudesse responder, Takako e Haku voltaram e as chamaram. Silenciosamente os cinco percorreram os últimos degraus, atravessaram o torii e alcançaram o topo da Montanha dos Cinco Elementos, onde uma estranha visão os aguardava.
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O Conto da Donzela Celestial
FantasyTerceiro volume da trilogia O Conto da Donzela Três meses após os eventos de O Conto da Donzela do Sonho, Yumeko está morando com o clã Kairiku, aprendendo a ser uma miko e procurando uma forma de encontrar Mikoto e trazê-la de volta. Mas esse não é...