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— Como é possível?! Fizemos o exorcismo, era para a alma dela ter sido queimada! – Sayuri exclamou.

Mikoto não a via exaltada daquele jeito desde a viagem do ano passado. Takako precisou segurá-la pelos ombros e empurrá-la até que se sentasse numa cadeira, então voltou-se para a miko mais jovem.

— O que a pérola disse, exatamente?

— Ela confirmou o que eu já desconfiava; a alma de Akumi sobreviveu ao encantamento de exorcismo.

— Como?! – Sayuri falou com a voz esganiçada.

— Foi na hora em que Seita foi derrubado por Wukong. Aquilo distraiu Yumeko, e foi naquele intervalo de segundos que Akumi encontrou uma brecha nas chamas para fugir. E fugiu.

O silêncio chocado que caiu sobre a sala como uma bomba durou os três segundos mais demorados da história, quebrado finalmente pela exclamação de Haku:

— Naquela hora! Eu vi um... parecia uma estrela cadente, eu acho. Ela desapareceu no céu...

O rapaz olhou para Mikoto suplicante, implorando para que negasse o que ele pensava, mas a expressão dela não lhe deu nenhuma esperança.

— Aquilo que você viu era a alma de Akumi, ou o que sobrou dela.

— E sabe onde ela está agora? – Takako perguntou, o tom de voz calmo, mas não conseguiu conter toda a apreensão que a permeava.

— Foi o que meu último sonho revelou. Ela fugiu antes de ser inteiramente consumida, mas ficou muito fraca, e precisaria de um hospedeiro novo para se manter – Mikoto torceu as mãos – Então foi para a outra de suas criações disponíveis. A alma de Akumi agora habita em Arashi.

Tamayori arquejou, Takako e Sayuri se entreolharam horrorizadas, e Haku simplesmente ficou paralisado, a boca entreaberta, sem conseguir pronunciar uma palavra. Mikoto prosseguiu:

— Acredito que ela o tenha escolhido somente porque estava enfraquecida. Yasha era forte e com certeza resistiria muito caso ela tentasse, e como Arashi estava inseguro e assustado, além de enfraquecido pelos ferimentos, não ofereceria tanta resistência.

— Arashi estava inseguro e assustado? – Sayuri ergueu uma sobrancelha.

Mikoto olhou para Haku, que assentiu.

— Ele não tinha a mesma determinação, o mesmo fogo do nosso último encontro. Mal precisei me esforçar para derrubá-lo desta vez.

— Ele já não tinha certeza quanto a continuar seguindo a mestra. Tanto que fugiu quando teve a primeira chance.

— Agora ela vai tentar entrar no reino dos seres celestiais? Isso é uma transgressão grave, se ela tentar, será punida imediatamente – Tamayori argumentou. Takako não tinha tanta certeza.

— Mas as histórias não estão cheias de youkai e pessoas que conseguiram enganar deuses e seres superiores, e até mesmo invadir suas moradas? Se Akumi conseguir fazer isso, terá acesso livre ao reino celestial, e só os deuses sabem o que ela poderia fazer com essa liberdade.

— Como assim? – Haku perguntou.

— Tem histórias de que a comida dos deuses tem propriedades mágicas, os frutos que crescem nos jardins celestiais concedem saúde eterna, ou mesmo imortalidade.

Os olhos do rapaz se arregalaram de medo com a compreensão do que aquilo significava.

O grupo precisou de um momento para absorver toda a informação. Tamayori massageou as têmporas e deixou escapar um suspiro cansado.

O Conto da Donzela CelestialOnde histórias criam vida. Descubra agora