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Num piscar de olhos, o cenário da praia desértica desapareceu como uma cortina de fumaça que se desfaz ao vento. Yumeko sentiu um puxão para cima, como se estivesse embaixo d'água e de repente emergisse. Quando percebeu, estava de volta ao alto do penhasco.

— O que aconteceu?! – Kouta exclamou apavorado. Diante dele estavam Sayuri e Haku debruçados sobre uma Takako inconsciente e cada vez mais pálida, com uma mancha de sangue crescente em sua camisa.

— Cara, acho que metade dessa coisa está dentro dela – Haku olhava desesperado para a amiga, os dedos torcendo em direção à estaca hesitantemente – O que a gente faz com isso? É para tirar?

— Não! – Sayuri e Kouta gritaram ao mesmo tempo – Tirar só vai aumentar o sangramento.

— Ela precisa de um hospital – Yumeko disse com a voz trêmula.

Sayuri pegou o suzu e o gohei e começou uma versão invertida canção da passagem para o reino onírico. Quando um torii vermelho se materializou na frente dela, Haku pegou Takako nos braços cuidadosamente e o atravessou, seguido por Yumeko.

Assim que o chão do mundo desperto tocou seus pés, Yumeko saiu em disparada e gritou para a mãe, que varria os fundos do santuário.

— Mãe! Chame uma ambulância!

***

Akumi largou Seita e Arashi e os dois deram passos trôpegos para a frente antes de se firmarem e perceberem que tinham deixado as profundezas do oceano onírico.

Agora os três estavam em meio a um deserto branco completamente vazio, uma paisagem não muito longe do penhasco. Seita falou assustado:

— Se as miko tiverem saído também, podem nos achar.

— Elas não nos seguirão, seu tolo – Akumi rosnou com impaciência.

— Ela tem razão. A miko ferida será a prioridade – Arashi voltou-se para a moça-yuurei – Akumi-sama, a senhora está bem?

— Estou ótima. O que aconteceu lá atrás se deve ao processo de adaptação – ela olhou para as mãos e flexionou os dedos – Ainda estou me acostumando com este corpo humano. É muito diferente do meu corpo original. Preciso que vocês dois me acompanhem de perto mais um pouco até eu me firmar aqui.

— É claro, Akumi-sama.

Arashi olhou para Seita à espera que ele fizesse o mesmo, e o jovem legado assentiu, ainda que com alguma hesitação. Era difícil negar algo para aqueles olhos prateados brilhantes.

— Com certeza. Mas Akumi-sama, acho que ainda não sei os detalhes do próximo passo do nosso... Bem, eu nem sei realmente o que estamos fazendo.

Por mais que não gostasse de admitir, Arashi também não sabia o que Akumi planejava fazer agora, só o que tinha conhecimento era até onde ela precisava de um corpo vivo. Ele perguntou:

— A senhora pretende retornar ao mundo físico, agora que não é mais uma yuurei?

— O mundo físico? – ela cuspiu as palavras com desprezo – Não há nada mais para mim naquele lugar infestado de humanos. Eu estou visando algo muito maior agora. Vamos prosseguir, eu explico no caminho.

Os dois rapazes se entreolharam brevemente antes de seguir a Akumi-Mikoto. Arashi mal deu um passo e tropeçou, caindo sobre um joelho. Ele resfolegou como um cachorro cansado.

— São as suas feridas – Seita percebeu. Akumi examinou o braço enfaixado.

— Você se queimou com fogo de um gato.

O Conto da Donzela CelestialOnde histórias criam vida. Descubra agora