43. Aquele com o Fundo do Poço

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Um regador de plástico verde
Para regar uma planta falsa chinesa
Em um planeta artificial, que ela comprou de um homem de borracha
Em uma cidade cheia de planos de mentira, para se livrar de si mesmo
Isso a desgasta...

(Fake Plastic Trees - Radiohead)

(Fake Plastic Trees - Radiohead)

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— Isso é inadmissível!

Parecia ser a milésima vez que Colin Woodsen dizia aquilo, e a cada vez repetida, eu afundava ainda mais o rosto contra o braço do sofá, sentindo vontade de morrer. Embora estivesse cansada demais para sequer retrucar o que meu pai falava, me sentia agradecida por ele ter esperado chegarmos em casa para surtar.

— Deve ter câmeras de segurança naquela rua, certo?! Eu vou dar um jeito de checar, e quando encontrar os culpados, terei uma conversa séria com os pais deles. Meu Deus...  –Suspirou, e mesmo que eu tenha escolhido focar o meu olhar na parede à minha frente desde que chegamos, ainda podia ouvir os passos do meu pai pela sala. Ele estava inquieto, andando de lá para cá, até parece que tinha um processo importante em mãos.

— Pai...  –Tentei intervir. A minha própria voz ecoava na minha cabeça, enquanto eu parecia totalmente ridícula daquele jeito, humilhada e suja.

— Não é tanto pelo carro, mas você...  —Suspirou novamente. Pelo canto do olho eu pude vê-lo apontar para mim. Ele saía do tribunal, mas parece que o tribunal não saía dele de jeito nenhum.  — Olha o seu estado, querida. Em pleno século vinte e um, e uma garota ainda não tem segurança para andar sozinha.

— Pai.  —Tentei novamente, e outra vez fui ignorada pelo homem mais velho, que parecia estar a ponto de enlouquecer bem na minha frente.

— Vandalizaram o seu carro, e como se não estivessem satisfeitos, fizeram o mesmo com você! Aliás, onde estava o seu namorado?! Ele deveria estar ao seu lado e não...

— Pai, por favor!  –Gritei me levantando do sofá, o fazendo se calar aos poucos.  — Será que pode me deixar falar por um minuto?!  –Exclamei, fechando as mãos em punhos, como se de alguma maneira aquele gesto me acalmasse, ou me fizesse ter coragem de falar tudo o que viesse a mente.  — Eu estou tão cansada, tive a merda da pior noite da minha vida, e quer saber? Eu mereci cada segundo dela!  –Encarei meu pai seriamente. Ele se sentou no sofá aos poucos, como se tentasse assimilar o que eu estava dizendo.  — O Stuart não estava comigo, porque eu e ele... tudo não passou de uma mentira. Porque mentir é a única coisa que eu venho fazendo nesses últimos tempos.

— Eu... Eu não entendo.  –Falou pausadamente, me fazendo soltar um risinho sem humor e então estalar a língua, limpando uma lágrima na minha bochecha.

— No fundo, você sabe que entende.  –Balancei a cabeça, enquanto o olhava.  — Existe um limite pra tudo, não é?! Eu já fiz tanto mal para todos, que eles acabaram cansando e se vingaram.  –Abri os braços, como se destacasse para o meu pai o estado em que eu estava.  — Tá tudo bem. Não quero que fale com os pais de ninguém, seria muita hipocrisia da sua parte, porque, céus, a sua filha fez coisas tão piores, que até você se assustaria.

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