Article

40 4 4
                                    

"Harry Styles namorando?! Descubra tudo sobre Olivia White, seu novo affair!"

Eu sempre sonhei em namorar Harry. Já disse isso tantas vezes que está sendo repetitivo. Mas é verdade.

Sonhava em o encontrar: eu tinha um script para todas as situações, se eu o encontrasse num parque, se ele me olhasse num show, em casa, na rua, na balada, num restaurante, até mesmo numa fila de banheiro. Eu fantasiei todas as opções, menos a que de fato aconteceu.

Mas agora se tornou realidade. Ele não é o cara que eu só fico vendo vídeos no YouTube e chorando por fanfics incríveis. Harry está do meu lado enquanto leio a maldita matéria, tão perplexo quanto eu. Estamos no centro de Londres, numa cafeteria tão escondida que no fundo me aliviou, já que ninguém dava a mínima que era Styles ali.

Há fotos, meu perfil no Instagram, relatos no Facebook sobre a One Direction e prints dos meus surtos pelo Harry, até meu perfil do Wattpad. Eles sabem onde trabalho, o que faço, minha idade, meu nome completo. Está tudo na porra da matéria, que não consigo ler até o final porque meu Twitter e Instagram começaram a ter milhares de seguidores, ao ponto dele travar e desistir de viver.

Harry silenciosamente pega o telefone e coloca entre nós, digitando meu nome: agora são mais de 40 artigos. Seus olhos procuram os meus e há culpa estampada.

— Não é culpa sua. — Afirmo de antemão. — Isso ia acontecer em algum momento.

Eu me preparei pra isso, também. Namorar uma celebridade não é fácil.

Ainda mais quando vocês estão em patamares completamente diferentes. Minha vida é outra. Apesar dele não se importar — e até gostar, às vezes é um pouco difícil não comparar e ser insegura. Há amor, eu sei que ele me ama, se preocupa e me mostra isso todo dia.

Mas isso é um atestado que vou colapsar. Eu já sei o que vem mais pra frente.

— Me desculpe. — Nega com a cabeça, sua expressão murcha.

— Hey. — Seguro sua mão, e ele tenta desviar o rosto. — Isso não é sua culpa, acredite em mim.

Tento Harry percebeu que estou apavorada. Ele nega com a cabeça e joga o celular no bolso, tomando minhas mãos sem falar absolutamente nada. Nossa viagem não era pra ser assim.

Porque é meu primeiro dia em Londres. Chegamos muito cedo e Gemma fez questão de checar se eu estava com três meias antes de sairmos, Harry parecia um tanto irreconhecível e tivemos que sair muito cedo para aproveitar.

Passeamos de mãos dadas pelos lugares que sempre sonhei, dividimos um muffin e choramos de rir quando eu tropecei na calçada. Era pra continuar leve, sem grandes emoções.

Mas agora eu era destaque em mil colunas pela internet e, por fazer parte disso há um tempo, sabia que as reações poderiam ser as mais variadas possíveis. Talvez eu tivesse que ficar das redes por um tempo, mas, mesmo naquela situação, tinha uma pulga atrás da orelha sobre o que as pessoas falavam de mim.

— Sabe que é culpa minha, Olivia. Não teria de passar por isso se...

— Nem termine essa frase. Você não fez nada de errado, eu assumi o risco no momento que decidi ficar com você. — Pressionei levemente suas mãos. — Vamos resolver e...

O celular dele toca, o número não está salvo mas ele suspira pesadamente como se reconhecesse e sinaliza que devemos ir embora. Rejeita a ligação e nos levantamos rápido, saindo pelos fundos da cafeteria como se tivéssemos roubado algo.

— Está tudo bem? — Pergunto, Harry apenas assentiu, sem fazer contato visual.

Mas sua mão envolvia a minha num toque possessivo, ele passa a mão pelos cabelos enquanto caminhamos em direção ao carro, é uma caminhada que deveria ser feita de forma tranquila e gostosa mas praticamente corremos pelas ruas vazias.

Harry não falou comigo. Eu conseguia sentir sua inquietação e o calor da sua mão, mas eu precisava ouvir sua voz e ele não me ajudava. Nós atravessamos duas vielas — que eu não reconheci — e chegamos ao carro blindado.

Num piscar de olhos o carro estava aberto e ele me encarava para que entrasse. Me arrastei pra dentro e encolhi no estofado, o assisti metodicamente entrar no veículo e tirar as trezentas camadas que escondiam sua identidade antes de puxar o celular.

Sibilou um pedido de desculpas e discou um número no telefone. Eu não consegui entender muito o que diziam pra Harry, mas não pareciam nem um pouco felizes: gritos e mais gritos faziam-o apenas abaixar a cabeça e morder os lábios, aquilo era muito estranho pra mim.

É muito estranho vê-lo dessa forma. É como se eu tivesse que lidar com uma pessoa completamente diferente da que namoro e, ao mesmo tempo, a sensação de não poder fazer nada para ajudar atrapalha ainda mais.

Eu não quero ser famosa. Não gosto da ideia do meu rosto correndo pela internet. Agora sou como uma bola de sentimentos confusos, se o preço para ficar com ele for esse, eu posso suportar. Vou deixar meus sentimentos ruins de lado e focar em algo bom.

Todas as inseguranças sobre nosso relacionamento e principalmente sobre mim bateram no estômago. É, apesar de ninguém saber como de fato é o nosso relacionamento, de fora, não faz sentido Harry estar comigo, agora o mundo inteiro é testemunha.

Eu já fiz isso antes. Por que comigo seria diferente?

O assisto suspirar pesadamente e os gritos não diminuem, apenas intensificam. Estamos estacionamos de frente para uma parede de concreto, os vidros escuros impedem qualquer um de ver o que acontece dentro daquele carro. A verdade é que quero sumir e chorar, mas não vou.

Me perco em pensamentos ruins, suficiente para não notar que Harry tinha desligado o telefone há bons minutos. Ele não diz nada, muito menos me olha, sinto que vou implodir se esse silêncio maldito continuar:

— Harry, converse comigo. — Suplico, sem o encarar. — Eu estou assustada.

— Não tem muito o que dizer. A agência está tentando abafar, mas pelas proporções vai ser complicado. — Um som raivoso escapa. — Recomendo você ficar longe das redes sociais por enquanto.

— O que isso quer dizer?

— Que as pessoas estão muito curiosas pra saber quem você é, e sua vida vai virar um inferno. — Seu tom de voz não era agradável. — É muito pior do que você pode imaginar.

— Harry, calma lá. — Suspiro nervosa. — Estamos do mesmo lado, lembra? Você não tem que agir dessa forma.

— Eu não estou fazendo nada. Olivia, você precisa entender que isso é muito sério, não consegue ver o que eu te causei?! — Vira para me encarar.

— Você está me escutando? Você não me causou nada! Porra, você não fez nada! Nenhum dos dois tem culpa nisso.

— Não precisa ser tão boa, não agora. — Ri nervoso. — Você sabe bem que isso não aconteceria em outras circunstâncias.

— E o que você quer dizer com isso? Harry, eu assumi o risco no momento que aceitei namorar com você.

— Mas eu não imaginava que isso fosse acontecer tão cedo! Não dá pra ficar calmo!

— E aconteceu. O que vai adiantar ficar birrento? Eu preciso que você me diga o que precisamos fazer.

— Olivia, não tem o que fazer. Sua vida vai virar um inferno, sabe disso?

— Na teoria, não na prática. É por isso que eu preciso que você me diga o que vamos fazer, com quem preciso falar? Eu não vou deixar você por uma idiotice dessas.

— Não, não vai ser legal. Na prática é bem pior, pode confiar em mim. Não dá pra suportar.

— Se você continuar agindo igual um idiota, realmente, não vai dar. — Cruzo os braços na altura do peito. — Não precisa entrar na defensiva comigo.

Quando Harry ia responder, seu celular toca mais uma vez e ele não hesita em atender. Me sinto tão brava e frustrada que minhas mãos tremem. Esse não é o Harry que eu conheço.

Talvez seja, mas nunca me mostrou esse lado. E eu odeio esse lado.

E, no fim, me restringi a engolir todo o medo e o ignorar pelo resto do dia.

Eu também sei ser idiota.

Olivia [H.S/PT BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora