Harry não precisou me levar ao hospital.
Quando retomei a consciência, estava em seus braços, encolhida até demais e surpresa por ele estar me carregando como se não fosse nada. Ele suspirou aliviado e parou no meio da escada, chamando meu nome tantas vezes que me deixou tonta.
Os acontecimentos de poucas horas me dão ânsia novamente. Não só isso, há uma culpa grande acumulando em minhas veias: eu o vi chorar. Eu desmaiei em seu banheiro e ele deve ter ficado tão preocupado que seu rosto parecia mais vermelho que aquela jaqueta ridícula que ele adora. Harry não precisou de muito para me acalmar.
Mas eu levaria um tempo para conseguir me desculpar.
Apesar de não termos trocado tantas palavras, ele me carregou até o quarto quando insisti que estava bem e seria bobagem irmos até o hospital — e isso demorou muito. Quando chegamos, ele me deitou e suas mãos ainda afagavam meu cabelo quando dormi.
Não tive sonhos. Na verdade nem sei quanto tempo dormi. Minha cabeça ainda doía quando acordei, a língua parecia uma escova de lã, mas a cama é confortável até demais e demoro muito para abrir os olhos. Ainda está escuro lá fora, o cheiro de Harry está por toda parte e fico, de certo modo, aliviada.
Ainda estou vestindo as mesmas roupas e me sinto nojenta. Minha cabeça dói muito e respiro fundo pra não soltar um palavrão, tateando o colchão em busca de forças para levantar. Há uma coberta grossa por cima do meu corpo e é como se eu estivesse envolta de uma nuvem.
Adoro ricos.
Há um clarão na varanda, a sombra dos cachos médios me impulsiona a levantar com certa dificuldade, caminhando com tremendo cuidado, cada passo era como se meu coração fosse sair pela boca e, quando chego um pouco mais perto, noto que está no celular.
Seus dedos correm pela tela e então tomam alguns minutos antes de prosseguir, rezo para que não esteja no Twitter, dei mais um passo e infelizmente consigo enxergar então, confirmo. Os ombros tensionados acompanhavam o corpo levemente curvado.
Harry sente minha presença: gira a cabeça lentamente ao meu encontro e, quando consigo ter uma visão limitada de seu rosto, sua expressão é indecifrável e me faz indagar o que passa por sua cabeça.
Não diz nada, caminho até seu encontro sem desviar o olhar por um segundo sequer e ele me acompanha, suas mãos encaixam na minha cintura quando chego numa distância considerável e ele me senta ao seu lado, minhas pernas acabam ficando por cima de suas coxas.
Já nem vejo seu celular.
— Está melhor? — Pende a cabeça levemente pro lado. — Podemos ir no hospital se quiser.
Apesar de seu tom e ações demonstrarem afeto, seu rosto indiferente me deixa confusa.
— Eu tô bem. Precisamos conversar.
Ele prende a respiração por um segundo. Tremo antes de seguir:
— Não gostei do jeito que você falou comigo. Do jeito que você tá me tratando. Desde que essa merda saiu, eu não tô gostando disso. — Cruzo os braços na altura do peito. — Não sou sua inimiga. Isso não é culpa sua, muito menos minha.
— Sabe que você não precisa dizer certas coisas. É só ver o que aconteceu mais cedo. — Seu tom de voz não era defensivo, as palavras saiam com muita facilidade. — Sei que sou responsável.
— Para com isso, Harry. — Grunhi, fechando os olhos por um segundo. — Me escute por um segundo. Você precisa me ouvir.
— Eu nunca quis que você fosse parte disso. Mas conviver comigo... é inevitável que uma hora isso aconteça. Então sim, você sabe que é culpa minha. Não queria que você passasse por isso. — Suas mãos correm até as coxas. — É terrível.
A ideia de Harry passar por isso boa parte da vida me enoja. A parte de mim que tentava ser empática estava em prantos, os olhos avermelhados externalizam a dor que custava dizer.
E então a memória de quando estávamos em casa doeu, a forma que ele chorou de saudades de sua vida como One Direction mas não com todo o assédio. A pavorosa ideia de que todo mundo tem uma opinião sobre você, que você não é tratado como humano, assusta.
Seu comportamento ainda não faz total sentido. Mas suas ações, agora, falam mais alto: ele também é humano. Ele é tão humano quanto eu, humano como todas aquelas pessoas.
Como posso cobrar perfeição de um humano? É como me igualar.
— Desculpa. Eu sei que fui um idiota, eu não sei lidar bem com isso. Minha terapia tá em dia, você sabe, eu só não sei reagir bem. Não deveria ter descontado em você, me desculpa te deixar nesse momento. — Sobe o carinho até minha cabeça, passando uma mecha atrás da orelha. — Eu não quero que você me deixe por causa disso.
— Não vou te deixar. — Pendo a cabeça em sua mão, ele sorri curto. — Mas estou com medo de como vai ser mais pra frente.
— Eu falei com a agência, eles estão tentando abafar o caso. Mas preciso saber o que você quer, mesmo que já saiba a resposta. Livy, eu não posso controlar o que as pessoas vão falar ou como vão reagir. Podemos fazer uma matéria dizendo que somos apenas bons amigos ou...
— Ou?
— Assumir que estamos namorando publicamente. Sua vida vai se tornar um inferno.
Suas palavras não me assustam, sei que é disso pra pior.
— A resposta não precisa ser agora. Se puder te pedir algo, evite ficar mexendo nas redes sociais, eu conversei com o Joshua e ele já falou com sua família, ele tava meio... apavorado.
— Eu sei. Eu também estaria desesperada no lugar dele.
A ideia dos dois idiotas conversando espontaneamente me assusta.
— Vamos fingir que somos apenas amigos. Amigos que se pegam. — Pisco. Harry dá risada. — Você não gostou? Posso perguntar ao Niall.
— Eu gosto de ser seu namorado. — Toca a ponta do meu nariz. — Você é meio maluca, mas eu gosto.
— Você não é maluco, mas você tem uns defeitos que... — nego com a cabeça — deixa quieto.
— O que você quer dizer com isso? — Faz uma careta.
Apoio em seus ombros e impulsiono o corpo, num piscar de olhos, estou o abraçando um pouco desengonçada. Sua cabeça está no vão de meu pescoço e ele inspira, acaricio seus cabelos com cuidado e fecho os olhos.
É o meu silencioso pedido de desculpas, a forma que encontro pra dizer que amo-o não importa o que e vamos passar por isso juntos. Que, mesmo que o mundo diga que não somos compatíveis, no fundo, nós somos. E que eu faria qualquer coisa por ele.
Sinto-o tremer. Harry está vulnerável em meus braços quando uma lágrima quente rola por meu pescoço, agarra minha cintura com um pouco mais de força e, então, me puxa pra perto como se fosse sua, escondendo o rosto dentre os cabelos.
Estamos abraçados em sua varanda. Estou na sua casa após o pior dia do nosso relacionamento. Ele não me afasta, não me manda ir embora, nem grita. Harry apenas me abraça com força, trazendo lágrimas aos meus olhos também.
Se minhas intenções o tocaram, nada disse.
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Olivia [H.S/PT BR]
FanfictionQuando tinha 13 anos, decorei todo meu quarto com posteres da One Direction, afinal, eram o meu mais novo amor! Do X Factor para o mundo, e para o meu coração. Com 15 anos, chorei por não ter Harry Styles, o amor da minha vida, cantando no meu ani...