Pissed

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Foi a minha primeira discussão com Harry.

Nossos problemas costumavam ser idiotas e a melhor forma de resolver era conversar e pedir desculpas: eu precisava disso. Eu precisava da segurança de que tudo estava bem entre nós. Mas, dessa vez, foi diferente, talvez por ser algo muito abrupto?

Ele nunca tinha me tratado daquela forma. Depois de duas horas num carro parado no meio do nada, Harry murmurou que era melhor se fôssemos até sua casa, não precisei dizer que não tinha roupas, ele se prontificou a dirigir até a casa de Anne e pegar minha mala. Não me perguntou se eu queria, se estava tudo bem, apenas foi.

É a primeira vez em todo esse tempo que me sinto desconfortável ao seu lado.

Se murmúrios não contam, não trocamos sequer uma palavra durante o dia. Meu humor é tão ruim que não fiquei animada quando entrei em sua casa em Londres pela primeira vez e tive a oportunidade de ver a escada rosa, mas Harry subiu minha mala até seu quarto e deu um sorriso azedo quando me sentei na cama.

Ainda não tive a oportunidade de bisbilhotar a casa e, quando Harry deu ombros e saiu do quarto com o telefone na orelha, minha vontade se tornou nula. Eu não sei lidar com isso, talvez porque nunca tivemos uma situação desconfortável assim.

No fundo, estou assustada. Não sei se estou irritada pela quebra de expectativa ou pelas ações estranhas, então apenas deixo de lado e deito na cama, meu celular ainda está desligado no bolso.

Uma voz lá dentro dizia pra não cutucar, mas liguei o aparelho e me assustei pelo tempo que demorou para ligar, minhas notificações eram tantas que ele travava e perdia a vida, só que não me impediu.

Não consigo ouvir a voz de Harry, a verdade é que nem sei onde ele está. Quando meu celular parece minimamente recuperado, a primeira coisa que faço é abrir o Twitter. Eu estou deitada de bruços na cama confortável de Harry e chuto os sapatos de forma desengonçada, uma lufada de ar é suficiente pra voltar a realidade e abrir as menções.

Hm. Nada bom.

É, as pessoas realmente me odeiam. Sinto mil socos no estômago de uma vez só com as crueldades escritas. Eu não sou a pessoa mais bonita do mundo, claro, muito menos estou próxima dos padrões que Harry namorou publicamente, e a comparação é difícil.

E então minha cabeça cria mais mil inseguranças que nunca achei ter: minhas bochechas são esquisitas? Meu cabelo parece ressecado? Meu peso é um problema? Minhas unhas não são tão bonitas? Por que minhas roupas importam tanto?

Um acumulado sobre minha vida está exposto ali, diante dos meus olhos para o mundo inteiro ver e é perturbador. Há comentários de pessoas que dizem que estudaram comigo no ensino médio e que eu era vergonhosa. Vergonhosa? O que é vergonhoso? Minha personalidade? Meus gostos?

Do dia pra noite todos tem uma opinião sobre mim e, por mais que na teoria dizer que isso não afeta, na prática, oh, na prática é bem diferente. Pendo a cabeça pro lado e tento não chorar com todos os absurdos escritos.

Sabe quando você ignora todos os comentários bons e só foca nos ruins? Pouquíssimas pessoas mandam mensagens de conforto e torcem por nosso relacionamento, mas aquilo não me afeta como os outros, e então percebo que infelizmente não acredito naquelas palavras.

Arrasto um pouco e há pessoas dizendo que eu deveria morrer. Que não sou bonita o suficiente para estar com ele e eu deveria ter vergonha. Há alguns tweets de pessoas idiotas dizendo que ele estava comigo por pena, e isso era só no que tinha menções. Meu nome estava nos trending topics, não tive coragem de abrir.

O que tinha lido já era suficiente. Minha cabeça dói e percebo que choro e, talvez, a consciência de que eu já estava em lágrimas foi o começo de um descontrole.

Olivia [H.S/PT BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora