Tudo por ela

VIVIAN

Quando impeço Mortícia de cortar a mão numa tentativa desesperada de voltar a realidade, não percebo que utilizei força demais, vejo que ela está a perder as forças, retiro de suas mãos aquela faca e paro de usar meus poderes. Talvez pelas emoções e pelo esforço que ela estava fazendo para se mexer ela simplesmente desmorona, mas não a deixo cair, pego-a em meus braços.

Vou em direção ao quarto em que ela estava dormindo antes de toda aquela confusão começar e a deito novamente na cama, ligo o abajur e me viro para ela, que estava com raiva e com lágrimas nos olhos, ela se recusava a acreditar que aquilo era verdade, e não a culpo.

_ Eu sei que você está confusa, mas eu posso explicar o que aconteceu e porque eu não voltei. Por favor só me escuta. – Digo esperando com que ela me desse um sinal.

Ela apenas acena que sim com a cabeça em silêncio. E então começo a falar:

_ Naquele dia, eu me lembro da briga com o Gomes, me lembro de ir de encontro com aquela espada, de olhar nos seus olhos e cair, depois disso tudo ficou escuro. Mas depois, eu acordei numa maca fria de um necrotério, olho para o lado e vejo uma figura vestida toda de preto e com um chapéu que tampava seu rosto.

"Lembro de tentar me mexer e não conseguir, quando aquela figura percebeu o que estava tentando fazer me disse que não iria conseguir, que iria ter de me esforçar muito se quisesse voltar a ser normal. Eu não estava entendo nada. Lembro que ele me pegou no colo, me cobriu e colocou outro corpo naquela maca fria. Depois disse que iria me levar pra cuidar de mim. Acontece que aquele senhor, ou melhor o Lucas, era um dos únicos integrantes da minha família que ainda estava vivo. Nunca tive a oportunidade de te dizer que meu sobrenome não era Bron como todos pensavam.

A verdade é que eu sou descendente de uma das famílias mais poderosas e temidas da história dos excluídos, eu faço parte da família Neereza, muitos acreditam que fomos eliminados a mais de um século. Éramos conhecidos por ser a família dos excluídos mistos, vários integrantes da família continham duas ou mais habilidades especiais, fora a principal que era a metamorfose. Isso causava medo tanto em padrões como nos demais excluídos, então ambos se juntaram contra os Neereza e conseguiram exterminar todos os integrantes, isso é o que eles pensam.

Alguns conseguiram fugir, nos dividimos, mudamos os nossos sobrenomes e usamos apenas uma de nossas habilidades em público. Naquela noite em que encontrei Gomes te beijando a força na biblioteca eu estava indo para te contar esse segredo e uma coisa a mais, mas quando eu o vi te obrigando eu perdi a cabeça.

Demorei cerca de um ano para reaprender o básico, como falar e me locomover. Quando consegui falar de forma clara novamente a primeira coisa que perguntei foi como eu ainda estava viva. Ele disse que provavelmente fosse um dos meus poderes a se manifestar, disse que foi tão forte que alterou partes físicas do meu corpo, por isso meus olhos e cabelos não são como antes. Ele me explicou que tal dom se chamava "o renascer da fênix", em toda a árvore genealógica dos Neereza houveram apenas três ocorrências fora a minha, me disse que eu fui agraciada com tal dom e que deveria me sentir grata. Mas como eu percebi, esse grande dom vem com um preço muito alto.

Além do renascer da fênix, um tempo depois desenvolvi o dom do controle da mente, aprendi a usar de maneira segura. Quando finalmente voltei a ser como eu era antes do acidente, eu voltei a Nunca Mais a sua procura, mas descobri que você tinha se casado com Gomes. Fui te ver na mansão Addans e de longe eu via você, estava radiante, feliz, eu não quis estragar a sua felicidade, então eu fui embora."

Enquanto eu falava eu só via ela olhar profundamente pra mim, as vezes ela fazia menção de me interromper e gritar algo em minha cara, mas daí ela parava e continuava a me ouvir. Quando terminei ela ficou parada, assimilando todas as minhas palavras, com as lagrimas nos olhos e então ela diz: