VIVIAN

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Ver o rosto de choque de Wandinha partiu meu coração, mas ao ouvir a voz de Mortícia sair tão dolorosa foi demais pra mim, eu achei que estava preparada para a reação delas mas não estava, eu não sei como mas em um momento eu estava vendo as duas desmoronarem e no outro elas estavam congeladas em um preto e branco fúnebre, eu não sabia como mas tinha feito aquilo de novo.

Eu levo minha mão para tocar em Wandinha mas uma voz, ou melhor vozes me fazem parar.

_ Não a toque! Vai fazer ela acordar - Albin diz com certa calma em minha cabeça.

_ O que?

_ Se tocá-la ela sai da paralisia, você entrou nesse estado pelo seu desespero em não saber como ajudá-las ou tentar amenizar a dor. Você ainda não teve tempo de fazer isso por si mesma e não seria capaz de se manter inteira para dar o suporte que as duas precisam. Então demos a você uma pequena ajuda. - Ele aparece nesse mundo em preto e branco.

_ Por que estão ajudando? - digo tentando normalizar a minha respiração e evitar o possível choro, mas minha voz me denunciava.

_ Você tem sido uma fonte interminável de conhecimento em pouquíssimo tempo, e por isso resolvemos te ajudar.

_ E acho que viver no seu corpo está nos deixando moles, não sabia que o nosso hospedeiro nos influenciaria tanto, ou melhor, você é a primeira humana descente em que habitamos e isso impactou nosso comportamento. - A voz grave de Morbis soa e logo ele aparece ao lado do companheiro. - Apesar de suas falhas você tem um bom coração que foi levemente manchado pelo ódio.

Eu estava em silêncio tentando não chorar e parecer fraca na frente deles mas estava preste a colapsar e sinto o peso do olhar de Morbis sobre mim até que ele resolve quebrar o silêncio.

_ Pode chorar aqui, você precisa. - A seriedade na voz grave se faz presente. - Somos uma parte sua e de certa forma precisamos de você inteira tanto quanto elas vão precisar, então pode chorar e pôr tudo pra fora aqui, e quando terminar vai ser capaz de segurar o mundo delas.

Eles se aproximam e tocam em meus ombros e não consigo mais segurar, o nó em minha garganta se desata e choro colocando minha frustração, sentimento de perda e incompetência por não ter conseguido salvar todos e ter impedido mais um sofrimento na vida de Mortícia. Era estranho e de certa forma acolhedor poder fazer isso e ter o suporte dos dois, mesmo sabendo que nosso começo não foi tão acolhedor.

Depois de chorar até minha cabeça doer e colocar tudo que estava guardado desde o momento em que tudo começou eles soltam meu ombro e se afastam pra me olhar, eu ainda estava péssima, meu corpo ainda estava frágil e meu rosto agora estava vermelho e inchado por conta do choro.

_ Você está horrível. - Albin olha meu rosto com uma cara estranha.

_ Eu sei, não precisa jogar na minha cara. - limpo meu rosto e olho para as duas que ainda estavam paradas.

_ Acho que já chega de hospital pra vocês, não aguento mais ficar olhando essas paredes brancas. - Morbis diz despretensioso enquanto ele e o companheiro estalam os dedos.

Neste momento começo a me sentir melhor, mais disposta e percebo que meu corpo já não parecia tão frágil.

_ Se podiam fazer isso por que não fizeram antes? - Pergunto perplexa.

_ Estávamos ponderando. - Disseram ambos de forma simples e sucinta.

_ Sua filha já pode receber alta e agora você tem força o suficiente para sair do hospital, e a Morticia já pode ser levada pra casa para ser tratada por você, tenho certeza que você vai fazer isso bem. - Albin diz com suas várias vozes a ecoar naquele lugar.

Tudo por elaOnde histórias criam vida. Descubra agora