14. Lily

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Faz tempo que não saio com uma nova pessoa, então sei lá se abraço é código para outra coisa.
Um abraço deve ser só um abraço mesmo.
Mal consigo usar as redes sociais, quanto mais conhecer as gírias mais recentes. Juro que sou a millennial mais desatualizada que conheço. É como se eu tivesse pulado a geração X e ido direto para o território dos boomers. Sou uma millennial boomer. Uma boollennial. Meu Deus, minha mãe boomer deve entender mais dessas coisas do que eu, afinal, é ela que está de namorado novo. Eu deveria ligar para ela e pedir ajuda.
Escovo os dentes, caso um abraço seja um beijo. Em seguida, troco de roupa duas vezes até acabar colocando de novo o pijama que estava usando quando falei com ele pelo FaceTime. Estou me esforçando para dar a impressão de que não estou me esforçando. Às vezes, ser mulher é ridículo.
Estou andando de um lado para o outro do apartamento, ansiando pela sua chegada. Não sei por que estou tão nervosa, já que acabei de passar três horas com ele.
Bem, uma hora e meia, sem contar o cochilo que dei no meio do encontro.
Várias dezenas de passos depois, ouço alguém bater levemente à porta do apartamento. Sei que é Atlas, mas confiro o olho mágico de qualquer maneira.
Ele fica bonito mesmo distorcido pelo olho mágico. Sorrio quando reparo que ele também trocou de roupa. Apenas o casaco, mas mesmo assim. Ele estava com um sobretudo grosso e preto quando saímos mais cedo, mas agora está com um simples moletom cinza.
Meu Deus. Adorei.
Abro a porta e Atlas não espera nem sequer um segundo entre o momento em que nos entreolhamos e o momento em que ele me

abraça.
Ele me abraça bem forte, e sinto vontade de lhe perguntar o que
houve de tão ruim na última hora, mas não o faço. Apenas retribuo o abraço em silêncio. Encosto a bochecha em seu ombro e aproveito sua presença reconfortante.
Atlas nem entrou no apartamento. Estamos apenas parados na porta, como se um abraço significasse apenas um abraço. A colônia dele é cheirosa. Lembra o verão, como se estivesse desafiando o frio. Ele estava todo preocupado com o cheiro de alho mais cedo, mas só consegui sentir essa mesma colônia.
Ele leva a mão à minha nuca e a encosta ali com delicadeza.
— Você está bem? — pergunta ele.
— Agora estou. — Minha resposta é abafada pelo corpo dele. —
E você?
Ele suspira, mas não diz que está bem. Apenas deixa a resposta
pairando no ar que expira, e então me solta devagar. Atlas ergue a mão e passa os dedos numa mecha do meu cabelo.
— Espero que consiga dormir um pouco esta noite.
— Você também.
— Não vou para casa. Vou passar a noite no restaurante. — Ele
balança a cabeça como se não devesse ter dito nada. — É uma longa história, e preciso voltar. Amanhã eu te conto tudo.
Quero convidá-lo para entrar e pedir que explique todos os detalhes agora, mas me parece que ele já teria falado se quisesse. Não estou nada a fim de conversar sobre o que aconteceu com Ryle, então não vou obrigá-lo a falar sobre o que quer que tenha estragado a noite dele. Queria apenas poder animá-lo um pouco de alguma maneira.
Fico empolgada quando penso em algo que talvez funcione. — Está querendo algo novo para ler?
Seus olhos brilham com uma centelha de entusiasmo.
— Na verdade, estou.
— Espere aqui. — Vou até o quarto e olho na minha caixa de coisas, procurando o próximo diário. Depois que o encontro, levo-o até ele. — Este aqui é um pouco mais explícito — provoco.
Atlas pega o diário com uma das mãos, coloca o outro braço na minha lombar e me puxa para perto. Então, de repente, ele me dá

um selinho. É tão rápido e delicado que só percebo que ele me beijou depois que acaba.
— Boa noite, Lily.
— Boa noite, Atlas.
Não nos mexemos. Parece que vai doer se a gente se separar.
Atlas me puxa para ainda mais perto e encosta os lábios no ponto da minha clavícula onde minha tatuagem está escondida por baixo da blusa. A tatuagem que ele não sabe que existe. Ele a beija sem saber e depois, infelizmente, vai embora.
Fecho a porta e encosto a testa nela. Percebo todas as sensações familiares de um crush, mas desta vez elas trazem consigo preocupação e hesitação, embora seja Atlas, e ele seja um dos caras bons.
Isso é culpa de Ryle. Ele pegou a pouca confiança que eu tinha nos homens graças ao meu pai e acabou com ela.
No entanto, acho que esse crush é um sinal de que talvez Atlas consiga me devolver o que meu pai e Ryle tiraram de mim. Esse pensamento acaba com o frio na barriga que Atlas provocou e me faz sentir como se eu estivesse despencando, pois sei como isso faria Ryle se sentir.
Quanto mais alegria as minhas interações com Atlas me proporcionam, mais apreensão eu sinto por ter que contar a Ryle.

É assim que começa Where stories live. Discover now