Liberdade

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Ao despertar com o Sol passando entre os vãos da porta velha e de madeira, desejei que as coisas não estivessem como antes. Mais uma vez implorando por um milagre. Entretanto, sabia que teria que fazer as mesmas coisas de sempre, com exceção de ir para o rio. Ezequiel não permitia que eu saísse de casa e visitasse a vila, talvez temesse que homens fizesse comigo o que ele já faz.

Quando eu era mais nova planeava, uma família feliz fazia parte deles. Planos tolos, impossíveis e intocáveis, mas mesmo assim, gostava de reservar o pouco de tempo que tinha para me imaginar em uma vida feliz. Uma casa, um bom marido, filhos lindos correndo pela casa e uma mesa farta. Sonhos tão fantasiosos quanto a lenda de fadas e duendes.

Voltei para a vida real, a vida que me foi ofertada e enquanto fazia meus afazeres da casa, Lance aprofundava em meus pensamentos e por mais que tentava afastá-lo, ao fechar os olhos me vi encarando aqueles olhos castanhos. Malditos olhos castanhos. Ele havia me tirado do fundo do rio, salvo minha vida, mesmo que eu tivesse desejando tirá-la a qualquer custo. Uma decisão tomada pelo desespero, apesar disso, não vou me julgar, ainda desejo a morte, mesmo que para as pessoas isso seja um ultraje e ao olhos do Criador, o mais alto dos pecados.

Como mulher, tinha consciência de que não é adequado manter outro homem em minha mente, mesmo estando casada contra a minha vontade. Pensando nele ou não, minhas chances de encontrá-lo eram praticamente impossíveis. Porém, algo me fazia desejar visitar o rio, talvez uma falsa esperança de ver aquele intrigante homem.

Não. Afastei esse pensamento. É um homem, um homem que pode muito bem ser como Ezequiel. Um homem que pode me pegar, ter-me à sua vontade e depois me descartar. Ele teve essa oportunidade, ao invés disso, me salvou e permitiu que voltasse ao meu lar, porém, isso não impedia que ele tomasse um rumo contrário em sua escolha caso nos encontrássemos novamente.

Ao limpar o chão, encarei meu reflexo na água suja

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Ao limpar o chão, encarei meu reflexo na água suja. Eu estava péssima, os roxos e olheiras haviam tomado destaque em meu rosto e meus cabelos... Bem, fazia um bom tempo que perderam o brilho e já foram soltos, agora, um pano velho prendia meus fios com alguns caindo no rosto. Ezequiel não gostava que eu soltasse meus cabelos, dizia chamar muita atenção e com isso, foi-me imposta a obrigação de escondê-los.

Nunca tive liberdade de escolha, para ser sincera, acredito que se tivesse não saberia ao certo qual escolha tomar. Odiava e odeio ser mulher nesse tempo, entretanto, não odiava a vida desde sempre, houve uma época em que eu era feliz e confesso que sinto falta de sorrir novamente.

Dessa vez, terminei minhas obrigações com antecedência e cogitei voltar ao rio para me lavar, meu marido demoraria para chegar e eu precisava urgentemente de um banho

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Dessa vez, terminei minhas obrigações com antecedência e cogitei voltar ao rio para me lavar, meu marido demoraria para chegar e eu precisava urgentemente de um banho.

Algumas marcas não somem com a água, muito menos com o tempo, porém, a falsa ilusão de que eu poderia lavá-las, me ajudava a não criar nojo por cada pedaço de mim. Por mais que eu nunca me sinta limpa de fato.

Ninguém sabia da existência daquelas águas cristalinas e gélidas. Há um motivo claro para isso, as pessoas tinham medo de entrar na floresta, talvez por medo de animais ou receio de se perder. De qualquer maneira, estava aérea da vida e qualquer mal que me ocorresse deixou de se importar.

A relevância com a vida se foi lentamente, a cada tapa e chute de Ezequiel, a cada vez que esteve em mim sem minha permissão e desfragmentou cada pedaço de minha alma.

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𝚃𝙷𝙴 𝙰𝙱𝚂𝙾𝙻𝚄𝚃𝙴Onde histórias criam vida. Descubra agora