Amanhã

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Despertei antes do galo, antes mesmo até do Sol. A forma de como aquele homem me olhou e de como Lance reagiu, me deixava angustiada. Revirei na cama, entretanto, com tantos travesseiros, lençóis nobres e colchão macio, nada foi capaz de me deixar confortável.

  Esperei seu bater na porta, assim como fazia todos os dias. Silêncio, foi isso que recebi desde o nascer do sol.

  Após tanto esperar, decidi abrir a porta sozinha e andar pelos corredores, até chegar a sala de jantar. Sentado a mesa, deliciando-se da fartura, se encontrava Henry.
 
— Bom dia, Henry — sentei junto a ele, percorrendo meus olhos sobre cada canto da sala.

— Meu irmão saiu, não adianta procurá-lo — respondeu, comendo um pedaço de bolo. — Logo  irá se acostumar.

— É um costume dele? — perguntei ainda em desvaneio.

Henry assentiu e eu encarei o meu café, que naquele momento, se tornava cada vez mais amargo.

— Então ele saiu sem avisar?

— Lance é assim — me encarou. — Para ser sincero, achei que demoraria menos a volta de sua real face. Não aquela boazinha, o cavalheiro de armadura brilhante que salva donzelas em perigo. Não mesmo.

— O que quer dizer com isso?

— Estou dizendo, senhorita, que enquanto viu apenas uma parte, eu conheço meu irmão inteiramente.

— Sei que Lance é um homem bom. Já testemunhei isso inúmeras vezes.

— Os inimigos de Lance também testemunharam sua bondade — o mesmo levantou-se. — Lembre-se, ao mesmo tempo que ele pode te dar o mundo, ele também pode tirá-lo.

  Com essa fala emblemática, Henry saiu pela porta da frente. O salão de tornou mais gélido, minha mente mais confusa. O que ele queria dizer com tudo aquilo? Quando Lance irá voltar?

  A porta se abriu e meus olhos fixaram com atenção a quem deveria aparecer por trás dela. Entretanto, assim que me deparei com Magalhães, abaixei a vista.

— Bom dia, dona. Dormiu bem? Lance comentou que sua curiosidade o causou problemas.

Coloquei minhas mãos sob meu colo.

— Foi uma atitude imprudente — respondi. — Ele está muito decepcionado? Soube por Henry que Lance saiu.

— Não diria decepção, mas, preocupação — o encarei confusa. — Sim, pois me designou a proteger a senhora enquanto passa um tempo fora.

— Sabe quando ele volta?

— Difícil dizer, dona.

  Mais perguntas sem respostas, mais informações pela metade. Pelo visto, eu mesma terei que descobrir. Se Lance era bom ou não, essa decisão cabia a mim.

— Bem, temos algo para fazer hoje?

— Dona, a senhorita não é criança. Lista de tarefas não é comigo, mas, tenho que vistoriar meu navio. Deseja me acompanhar?

— Navio? É um capitão?

— Não pensou que trabalhava somente para o pequeno Lorde, certo?

— Óbvio que não, mas não poderia imaginá-lo em um navio.

  Magalhães soltou uma risada estridente.

— A dona precisa urgentemente sair desta casa e conhecer o mundo. Vamos?

  Assenti.

— Ótimo! Vai adorar a tripulação!

  Magalhães se levantou entusiasmado e fomos para o pequeno estábulo. Phobos não estava lá, mas sim dois grandes cavalos. O da direita era totalmente negro, grande e robusto. Já o outro, tinha uma pelagem marrom e branca, com patas peludas e crinas escuras.

— Esses são Deimos e Pandora. Sabe cavalgar?

— Lance me ensinou no Phobos — respondi, encarando o cavalo totalmente negro, que por sua vez, permanecia quieto. Passei a mão em sua cabeça.

— Pelo visto Deimos gostou de você — falou enquanto tirava Pandora do estábulo. — Espera ali sentada que vou aprontar os cavalos.

Assenti e sentei no banco logo a frente, vendo o rapaz tirar as selas e colocá-las nos cavalos.

𝚃𝙷𝙴 𝙰𝙱𝚂𝙾𝙻𝚄𝚃𝙴Onde histórias criam vida. Descubra agora