Com o tempo, as visitas de Lance se tornavam cada vez mais frequentes em casa. O mesmo sobrecarregava tanto Ezequiel, que o homem não possuía forças para levantar a mão para mim sequer e isso foi um alívio para meu corpo.
O bater da porta me causou uma felicidade palpitante no peito, sentimento o qual tive que esconder para não sermos desmascarados.
— Bom dia, náiade — me deu uma flor, um jacinto de água que crescera nas margens do rio. — Está linda hoje, senhorita.
— Sabe que não posso aceitar seu presente — com muito custo, tive que jogar aquela belíssima flor fora. — Mas, sabe que agradeço imensamente por isso.
— Entendo — seus olhos subiram e o mesmo forçou um sorriso. — Ezequiel! Como está o andamento de nossa magnífica coluna?
Os dois trocaram um cumprimento caloroso e seguiram para os fundos da casa. Continuei a fazer minhas obrigações.
As visitas me faziam cozinhar com mais afeição, não por conta de Ezequiel, mas sim de Lance. O mesmo tem sido tão cuidadoso comigo e trazendo flores, as quais serão jogadas fora minutos após serem dadas. Ele merecia comer adequadamente, seria minha maneira de retribuir o favor.
— Está delicioso, senhora — Lance deu uma mordida generosa na coxa de galinha.
Agradeci e comi na cozinha, já que meu marido não permitia que eu comesse na mesa junto a ele ou qualquer convidado.
— Ezequiel, por que sua mulher não come conosco? — Lance indagou. — Ela que fez essa comida maravilhosa, nada mais que justo ela deliciar-se da mesma sentada na mesa.
O silêncio desagradável tomou conta. Não estar perto aumentava ainda mais essa angustia, não conseguia saber o que se passava no rosto de Ezequiel e qual atitude tomaria.
— Querida, — me chamou e eu fui até ele. — deseja comer conosco? Ou prefere ficar na cozinha, com seus afazeres perto?
Aquilo não foi uma pergunta, foi uma ordem e eu sabia exatamente o que responder. Diante disso, disse preferir ficar perto de minhas obrigações na cozinha para cumpri-las com mais rapidez.
Enquanto terminava minhas obrigações, pude ouvir as reclamações de Lance sobre a coluna. O que, nos últimos dias, estavam ainda mais frequentes, obrigando Ezequiel a refazer inúmeras partes.
— Essa madeira está com cupim! — exclamou ele. — Não posso confiar na resistência dela — ouvi o barulho de batidas contra a madeira. — Viu? Ela está oca!
Outro silêncio desagradável formou-se ali, por segundos fiquei aflita por não saber de fato o que acontecia ali mais uma vez. Ezequiel era impulsivo e não gostava de críticas, de certo apenas aceitava aquilo tudo por conta do dinheiro.
— Não, vou refazê-la e cuidar desse cupim. Espere aqui, trarei outro tronco para que você mesmo possa vistoriar — Ezequiel respondeu, estava mais submisso do que o esperado, se é que deveria esperar uma atitude desse nível vindo de alguém como ele.
Ao ouvir barulho de passos e o fechar de porta, sai da cozinha.
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𝚃𝙷𝙴 𝙰𝙱𝚂𝙾𝙻𝚄𝚃𝙴
Ficción histórica☽ TODOS INVEJAM PESSOAS BEM SUCEDIDAS, É FÁCIL SER RECONHECIDO QUANTO ESTÁ NO TOPO. NINGUÉM PRESTA ATENÇÃO QUANDO VOCÊ ESTÁ NA LAMA E CONFESSO QUE SINTO FALTA DE SER INVISÍVEL. ☾