Desconfiança

9 2 9
                                    

As sombras da incerteza pairavam sobre o casarão como uma manta escura, enquanto os dias se desdobravam sem notícias de Lance. Eu ansiava por uma mensagem, um sinal de que ele estava bem, mas o silêncio ecoava em meus pensamentos.

Enquanto isso, Magalhães continuava seus treinamentos, deixando-me cada vez mais apta. Seus métodos eram rigorosos, mas eu entendia a necessidade de estarmos preparados para os desafios que se desenhavam no horizonte. Mesmo que não pudesse ter ideia de possíveis ameaças.

Pulei de minha cama por conta de um pesadelo, meu coração batia forte devido o susto. Encarei o vás, as rosas-vermelhas se encontravam cinzentas, quase sem pétalas e completamente corcundas. Símbolos murchos de um passado que se desvanecia diante dos desafios presentes. Estavam morrendo aos poucos, definhando-se hora a pós-hora. 

O toque frio do vento noturno filtrava-se pelas frestas das cortinas, criando uma dança sutil na luz das velas. O Casarão estava saturado de um silêncio que ecoava a ausência de Lance.

De um relacionamento falho, para um amor fantasma... Transições entre infernos. 

Desci a sala de jantar, tomando o café da manhã. Uma criada apareceu ao meu lado, desviando minha atenção do bolo para os olhos cansados da mesma. Talvez ela pudesse me auxiliar entre essas dúvidas, entretanto, as únicas palavras que saíram de seus lábios não me acalentaram. 

— Há um homem esperando a senhora. Ele pode entrar? 

  Ao ouvir a palavra "homem", um único nome me veio em mente. Em todo esse tempo, poucas visitas foram recebidas no casarão e com sua ausência, seria correto que tais números reduzissem. Deixei que entrasse. 
  Por impulso, arrumei meus cabelos. Lance sempre comentava o quão meu cabelo ficava bonito sinto e desde então, nunca mais o prendi. Confesso que me sinto mais livre, mais bela. 

  Entretanto, meu sorriso desapareceu assim que encarei um par de olhos azuis pálidos. Levantei, colocando minha mão por cima de uma faca em um movimento sutil para que não percebesse minha investida. 

— Senhora Selene, que prazer encontrá-la em uma circunstância adequada — forçou um sorriso e isso tornou seu rosto ainda mais macabro. — Desculpe-me, mas como devo chamá-la? 

— Refira-se a mim como senhorita, não sou cada ainda — falei em um tom ríspido, tentando demonstrar uma autoridade que nunca tive

Por algum motivo, os olhos daquele homem me lembravam uma serpente, me lembravam de Ezequiel. 

— Agora entendo o motivo de Lance querer deixá-la fora de meu alcance — ainda sorrindo, sentou-se a mesa. — Por favor, sente-se também. 

— Preciso que se expresse melhor, senhor. 

— Não será necessário — mordiscou um pedaço de pão. Me sentei, levando a faca ao meu colo. — Lance me disse que era uma prima camponesa abobalhada, mas, pelo que vejo em seus olhos, deixou essa imagem há muito tempo. 

— De fato, o Lorde estava correto em me descrever dessa forma — não abaixei a guarda. 

Chamei uma criada, suplicando em seu ouvido que chamasse Magalhães com urgência. Tenho que descobrir quem é este homem, pelo menos, envolvê-lo na conversa suficiente até que meu segundo protetor chegue. Caso contrário, deveria cortar sua garganta o mais rápido possível

𝚃𝙷𝙴 𝙰𝙱𝚂𝙾𝙻𝚄𝚃𝙴Onde histórias criam vida. Descubra agora