Leveza

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   Andar pela cidade foi algo ainda mais entusiasmante. Havia produtos de todos os tipos, tecidos de todas as cores e objetos de inúmeras formas e utilidades. 

— Náiade, olha esse tecido? — mostrou uma amostra reluzente e vermelha. — Não é lindo? É a mais pura seda!

— É realmente muito bela — respondi, sem saber o que era essa tão falada seda.

— Ótimo, vou levar — o mesmo olhou para o comerciante e entregou um pequeno punhado de moedas.

  Voltamos a andar, porém, ainda tinha algumas dúvidas em mente. Lance carregava alguns embrulhos, joias, colares e sapatos dignos de uma lady.

— Por que está me ajudando? — mais uma vez as palavras saíram de minha boca sem permissão alguma.

  Lance ficou em silêncio mais uma vez, continuando a olhar barracas e falar com comerciantes. Esperei uma resposta, ainda o encarando.

— A senhorita é uma pessoa boa e merece tudo — respondeu sem direcionar o olhar para mim.

— Só isso? — perguntei, descrente.

— Bem, te ver no rio aquele dia e com aqueles hematomas me trouxe uma memória antiga e desagradável — voltou a andar. — Está com fome?

— Me permite perguntar mais uma vez?

— Quantas vezes quiser, Náiade.

— Que memória seria essa?

— Meu fracasso — sua voz foi enterrada em mágoa e eu em curiosidade, porém, percebi que ali era o limite das perguntas. — Vou me redimir com o meu passado, se me permitir cuidar e ajudar a senhorita.

— Se isso for calentar sua alma, aceito sua ajuda.

  Seu rosto voltou-se a iluminar, assim como um sorriso surgiu.

— Bem, Náiade, vamos voltar? Há uma coisa que só posso te ensinar na segurança do lar.

— Como o quê?

— Já empenhou uma espada na vida? — o mesmo me agarrou pelo braço e me guiou até a carruagem responsável por nos levar para casa. — Garanto que é mais fácil do que parece, com o tempo ela será como parte de seu corpo.

— Confesso que, a ideia de segurar uma lâmina me assusta um pouco — falei. — Mas, se acha necessário, estou disposta a aprender.

— Tenho orgulho de você — me ajudou a entrar na carruagem e quando se sentou, ainda o encarava sem saber como reagir. — A senhorita é muito forte, embora não tenha consciência disso.

  Fiquei entre perguntar e agradecer, escolhi a última alternativa e agradeci por seu elogio repentino.

  Lance sorria a cada palavra minha, como se fosse uma criança enxergando um mundo novo e isso deixava, por incrível que pareça, o mundo mais leve. Talvez isso signifique uma boa companhia, sem ter medo de falar e torcer para o dia passar mais rápido, o que de fato acontecia, porém, queria que cada momento igual a este fosse eternizado e prolongado. De repente, o mundo voltou a ser bom.

𝚃𝙷𝙴 𝙰𝙱𝚂𝙾𝙻𝚄𝚃𝙴Onde histórias criam vida. Descubra agora