Conflito

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Sem sinal de Magalhães, fui obrigada a enrolar cada vez mais aquele diálogo desconfortável. Sempre pedia para que alimentassem a mesa com comida, assim aquele homem permaneceria calado e com sua atenção voltada para os pães e carne. Entretanto, logo seu apetite foi satisfeito e seus olhos voltaram na minha direção.

- Não é prima dele, estou certo? - ele indagou, com um tom que sugeria uma mistura de desdém e curiosidade.

Se aquele homem não respeita parentes de Lance, talvez...

- Notei a ausência do Lorde assim que cheguei. Isso deve ser uma oportunidade divina para nos conhecermos melhor - ele se aproximou, sua voz carregada de uma presunção inquietante.

- Vejo isso como uma oportunidade divina para sair daqui. Meu noivo não gostará de saber que entrou em nossa casa, comeu de nossa comida e tentou tocar em sua futura esposa - respondi de forma rápida, segurando com mais firmeza o talher escondido.

- Como disse, ele não está aqui para te proteger - ele sorriu, mas aquilo mais parecia uma careta forçada, carregada de uma dor oculta. Aquele homem me dava calafrios, mais do que isso, repulsa.

Em um movimento rápido, coloquei a faca diante de seu pescoço.

- Como disse, aproveite sua oportunidade divina e mantenha-se vivo.

O homem tentou se mover repentinamente em direção a mim, mas eu estava preparada. Com um movimento ágil, desferi um golpe certeiro com a faca em sua direção, mirando seu rosto que se aproximava de mim. Pela sua face, escorria o líquido avermelhado.

Ele soltou um grunhido de dor, mas sua expressão não mostrava nenhum sinal de fraqueza. Pelo contrário, seus olhos brilhavam com uma intensidade assustadora. Antes que eu pudesse reagir, ele avançou novamente, sua determinação aparentemente inabalável.

Minha única preocupação era não ser pega por ele. Cada movimento era uma dança mortal, um jogo de gato e rato entre predador e presa. A adrenalina corria em minhas veias, amplificando meus sentidos e minha capacidade de reação. Em meio à troca de golpes, uma voz ecoou no corredor, interrompendo momentaneamente nossa luta. Era Magalhães. Seu grito de alerta me deu um impulso de energia renovada. Com um movimento rápido, aproveitei a distração do meu agressor e desferi um golpe certeiro, acertando-o em cheio no ombro.

Corri em direção à porta, e ao abri-la, reconheci imediatamente o tecido nobre antes de ser empurrada para trás pelo corpo do intruso. Meu coração batia forte, tanto pela corrida frenética quanto pela tensão do momento. O rosto dele exibia uma expressão de surpresa e preocupação, como se não esperasse me encontrar em uma situação tão perigosa. Eu não conseguia articular uma palavra; ele estava de volta...

- Essa sua mulherzinha me cegou e perfurou meu ombro! Você não sabe educar suas vadias? - ele rosnou, exibindo raiva em seu olhar.

- Você aproveitou minha ausência para tocar na minha esposa? - Lance empunhou sua espada com determinação. - Você tem cinco minutos para deixar este lugar. Se resistir, não hesitarei em desmembrá-lo.

O homem pálido recuou diante da ameaça e passou por nós, proferindo palavras de vingança enquanto se afastava.


Lance virou-se para mim.

- Está bem? Ele te tocou?

Afastei suas mãos de mim.

- Você me deixou aqui! - tentei conter minhas lágrimas, entretanto, me senti desprotegida como todas às vezes que fui agredida durante minha vida. - Fiquei sozinha!

Magalhães apareceu na porta, ofegante e sujo de lama.

- Dona! Graças a Deus está bem! Estava cuidando dos cavalos quando vieram me comunicar que me chamava - se debruçou nos joelhos e só então notou Lance. - Senhor! - endireitou-se. - Que bom que voltou!

- Obrigado, Magalhães. Naiade, eu...

Dei alguns passos para trás, ainda com uma mistura de tristeza, alívio e raiva no controle de minhas ações. Magalhães, notando o clima estressante pairando no salão, pediu para que eu fosse tomar um banho e relaxar, enquanto limpava as coisas e atualizava seu patrão das informações durante seu período de ausência.

𝚃𝙷𝙴 𝙰𝙱𝚂𝙾𝙻𝚄𝚃𝙴Onde histórias criam vida. Descubra agora