Indícios

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De todas as perguntas no mundo, aquela havia sido a mais estúpida, porém fingi naturalidade e não falei absolutamente nada, como sempre fiz diante de outros homens que vieram negociar com Ezequiel.

- Sim - afirmou com uma certa rigidez.

- Meus parabéns - Lance sorriu e voltou a me encarar. - A senhora se machucou onde?

- Ela é uma mulher desastrada, vive caindo por aí e se batendo nos lugares - Ezequiel inventou uma desculpa.

- Isso é verdade?

- Sim, meu marido falou a verdade. Às vezes, mal me lembro onde esbarrei, quando vejo, jã estou com um novo roxo no corpo.

Menti, mesmo ele já sabendo a verdade. Menti, com o peito gritando por socorro e minhas pernas trêmulas.

Ele levantou, seus olhos castanhos estavam mais escuros do que o normal.

- Precisa cuidar desse corte nos lábios - voltou-se para Ezequiel, estava sério. Ergueu a mão para fechar o contrato. - Discutiremos o preço depois, estou atrasado para um compromisso. Até mais, Ezequiel.

Meu marido apertou a mão do rapaz e pediu para que eu levasse Lance até a porta, assim fiz, pois seu pedido é uma ordem irrecusável.

- Eu ouvi os gritos antes de bater na porta. Foi ele, não foi? - perguntou aos sussurros.

- Sabe que sim - abri a porta. - Sua visita foi apenas para negócios?

- Sabe que não, náiade - soltou um sorriso travesso. - Agora sei onde a senhorita mora.

- Prefiro que mantenha a distância.

Lance prensou os lábios e cruzou os braços. Ele estava sorrindo demais.

- Com todo esse tempo de convívio, ainda não sabe que sou um homem teimoso? - sorriu. - Planejo acompanhar cada traço dessa coluna, vou te ver praticamente todos os dias, náiade.

- Falarei sobre isso com meu marido - respondi um pouco mais alto, pois Ezequiel já olhava para a porta um tanto desconfiado. - Acredito que não haverá problema. Até mais, senhor.

- Até logo, náiade - sorriu mais uma vez.

Por favor, pare de sorrir!

Assim que entrei, Ezequiel me encarou aparentemente furioso, me apressei em falar alguma mentira para tentar me safar dos tapas.

- Ele pediu para comunicá-lo que planeja acompanhar de perto o desenvolvimento da coluna - respondi sem ter coragem de levantar a vista.

- Como bem-quiser - respondeu pegando o machado e eu me encolhi, por puro instinto. - Vou procurar uma árvore descente, não saia de casa!

Assim fechou a porta e eu sentei na cadeira, paralisada. Uma mistura de angústia e uma pitada de felicidade, estive a beira de encrencas e mesmo assim, sentia algo diferente, similar ao frio na barriga.


𝚃𝙷𝙴 𝙰𝙱𝚂𝙾𝙻𝚄𝚃𝙴Onde histórias criam vida. Descubra agora