Jardim

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Ao adentrar no jardim, pude enfim entender como Lance arrumava tantas flores para me entregar. Poderia facilmente dizer que era um jardim real por sua beleza e variedades estonteantes.

- Lindo, não acha? - assenti, ainda surpresa. - É uma herança de família, minha mãe adorava cuidar dele e assim foi até seu último dia.

- Ele é realmente um dos jardins mais lindo que já vi em toda a minha vida. Sinto muito pela sua mãe - prestei meus sentimentos.

- Obrigado, Náiade. Sei que ela está melhor agora do que em vida.

Os olhos de Lance sempre diziam mais do que suas palavras e dessa vez eles estavam gélidos e sem brilho. Algo acontecera ali, ruim o suficiente para ainda lhe causar dor. Entretanto, não cabia a mim julgar ou perguntar, apenas tentar decifrá-lo e, se possível, dar o suporte que precisar.

- Aqui temos frutas, porco e torta doce, assim como salgada - apresentou comida, restaurando seu entusiasmo - O que deseja comer primeiro? Sente-se!

Sentei na grama e me deliciei primeiramente no doce, para depois o salgado.

- Náiade, eu... - sua fala cortada chamou minha atenção. - Eu...

- O que deseja me falar?

O mesmo permaneceu quieto por longos segundos. Seus olhos estavam indecisos entre continuar olhando para meus olhos ou para baixo deles. Seria isso um desvaneio?

- Lance? - o chamei e o mesmo fixou sua vista abaixo de meus olhos. Meu coração batia mais forte com seu silêncio.

- Nada além de um espectro de pensamentos bobos. Como está a comida? - respondi estar deliciosa. - Fico feliz, pedi para que caprichassem! - deitou-se na grama, soltando um suspiro. - Nada melhor do que ficar longe dos problemas. Como está sua nova vida?

Comida boa, casa grande, vestidos novos e pessoas boas a minha volta. Minha vida nunca esteve tão boa e tranquila.

- Maravilhosa, graças a você - me juntei a ele na grama. - devo muito a você. Sua bondade foi e é admirável, apesar de não conseguir compreender o motivo de ter se arriscado tanto por mim.

- Um dia saberá, quando estiver pronta - falou com a voz tranquila.

Lá estávamos nós, mais uma vez nos encarando, segurando o impulso do toque. O calor das mãos de Lance me davam uma sensação diferente, não sentia repulsa e sim necessidade. Ele espantava meu frio e meus medos, de alguma forma que sequer consigo imaginar a origem, mas, pouco me importava. Lutar contra essa sensação nunca foi viável. Estar com Lance era bom, não é como estar perto de Ezequiel e qualquer outro homem.
O tempo passa mais rápido, os problemas somem.

- Gosto de sua companhia, Náiade - falou repentinamente, ainda me observando. - Quero que saiba disso.

𝚃𝙷𝙴 𝙰𝙱𝚂𝙾𝙻𝚄𝚃𝙴Onde histórias criam vida. Descubra agora