Capítulo 32

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POV. Jungkook

Sabe quando você está debaixo do chuveiro a água cai no seu rosto, lavando tudo pelo caminho e tornando sua visão distorcida?

Foi exatamente assim que aconteceu, mas ao invés de água, era sangue. Invadindo minha garganta, inundando, me obrigando a tossir e expulsar o líquido espesso, desesperado para respirar.

De súbito eu estava ajoelhado no chão da sala, vomitando sangue, meu corpo pulsando de dor generalizada.

Ouvia uma comoção ao redor, gritos, correria. A voz de Jimin foi a única nítida dos meus ouvidos inundados de sangue.

— Deu certo? - ele perguntava para alguém - DEU CERTO?!

Não ouvi a resposta. A última tosse veio seca, minha garganta livre da enchente. Caí de lado, a cabeça batendo no chão, pesada.

Com a visão distorcida, assisti horrorizado a poça de sangue no tapete começar a borbulhar. E uma mão surgiu de dentro dela, emergindo pedaço por pedaço. Era uma pessoa. Era eu. Surgindo do sangue e se erguendo.

Todos os Caçadores estavam paralisados, sem saber como reagir, olhos arregalados para a figura que apesar de ter nascido do sangue, estava limpa.

— Como sabemos qual é qual? - Eunchae perguntou, a espada em punho.

Vi Hoseok e Yoongi mais no canto, vi Namjoon colocar Jin atrás de si. E vi Jimin. Ele deu um passo a frente, os olhos azuis intercalando entre o eu no chão e o eu em pé.

Eu não tinha forças nem para levantar a cabeça, não conseguia dizer que era eu era o verdadeiro. Não conseguia encontrar minha voz.

Jimin fixou o olhar no bolso da minha calça, onde a florzinha roxa estava pendurada, inteira e firme.

— Segurem aquele! - apontou para o outro eu em pé e os Caçadores obedeceram sem questionar, pulando armados.

Talvez fosse a força sobrenatural do Nogtisune, ou o choque do momento, mas eles não conseguiram segurá-lo. Foram empurrados longe, numa confusão de gritaria, luta e ossos quebrando.

Então a Raposa desapareceu janela afora, correndo pelo quintal dos fundos e deixando os Caçadores de mãos vazias.

Não tive tempo de lamentar a derrota. Jimin estava imediatamente ao meu lado, me ajudando a sentar.

Ele me abraçou de lado, os braços fortes e quentes me apertando contra si, a boca tocando minha bochecha.

— Você está bem. - sussurrou - Eu estou aqui.

Me segurei nele, meus dedos fracos enrolando nos seus braços. Eu estava com frio, tremia de forma doentia, meus lábios roxos.

Senti um cobertor ser enrolado em mim, como um casulo. Jimin me abraçou de novo. Mas nem mesmo a coberta e seu calor me impediam de tremer.

Diante da minha fraca visão, Hoseok se ajoelhou, tocando meu pulso com cuidado, checando. Ele colocou a mão na minha testa e suspirou.

— Definitivamente é o Jungkook. Só o Jungkook.

Fechei os olhos, sentindo que poderia chorar de alívio, mas sem forças para expulsar mais água do corpo.

Fiquei assim, sentado na sala, sendo abraçado por Jimin, tentando me aquecer, pelo que podiam ter sido horas. Minha mente confusa não saberia dizer.

— Como pode ter dois dele? - Jimin perguntou em algum momento.

— Não tem. - Yoona falou - Tem um demônio usando o rosto de Jungkook.

Yoongi começou a convulsionar. As veias da cabeça se esticavam, rígidas e seus olhos piscaram inteiramente negros por um segundo.

Hoseok correu até ele e o levou para fora da sala. Só pude ouvir as vozes abafadas, nada mais.

Hwasa, minha amiga lobisomem, se ajoelhou com um um pano úmido na mão. Ela começou a limpar o sangue do meu rosto, com delicadeza.

— Para onde o Nogtisune foi? - perguntou baixinho.

— É um corpo novo, talvez ele precise de tempo para se acostumar. - Yoona respondeu - Vai se refugiar em algum lugar até.

— Não. - fiz uma careta, falar doía, mas meu corpo inteiro estava assim, então me forcei a continuar falando - Não temos tempo. Temos que achá-lo o mais rápido possível.

Jimin fez carinho nos meus cabelos e eu suspirei, deitando a cabeça em seu ombro. Eu queria ser útil. Depois de ter carregado uma criatura sombria por aí, dando ordens para Fugitivos e depois esquecendo o que fiz, ajudar era o mínimo que poderia fazer.

A sala caiu num silêncio sepulcral. Minha visão melhorava aos poucos, a calor de Jimin me rodeando, me mantendo acolhido.

— Ok, eu vou fazer a pergunta que ninguém quer fazer: - Yeonjun falou, os braços cruzados - o Nogtisune está com a sua cara, ele saiu de você. O acontece se machucarmos ele? Você também vai sentir?

Apertei os olhos bem fechados. Esse era o plano da Raposa, impedir que eles o machucassem por minha causa.

— Se for isso. Vocês vão fazer o que for necessário. - falei.

— Jungkook. - Jimin se exaltou - Ninguém vai te machucar.

— O Nogtisune precisa ser morto. Você mesmo disse que alguns sacrifícios devem ser feitos em prol do bem maior.

— Ninguém. Vai. Te. Machucar. - Park repetiu, virando meu rosto para si e fixando seus olhos nos meus.

Inclinei a cabeça, beijando sua bochecha.

Era tão injusto que Jimin tivesse que tomar essa decisão, sofrer mais essa perda.

Ainda febril, fiquei quietinho. Os Caçadores começaram a dispersar, criando planos, estratégias. Mas o clima estava frio, como se minha dor causasse dor neles também, os tornando lentos.

Assisti a luz do dia descer pela janela e passar do amarelo claro para o laranja do pôr do sol. As lembranças do Nogtisune me prendendo no elevador, começaram a voltar. Ele me possuiu, mas quando me prendeu, me deixou sem nada para fazer além de escutar seus pensamentos.

Eram frases desconexas, furiosas, com palavras que às vezes não entendia. Mas uma lembrança estava clara.

— Eles fizeram um acordo. - falei de repente, virando o rosto para Jimin - O Nogtisune se ofende fácil. Ele está buscando vingança contra os Caçadores do Oculto, por terem matado ele uma vez. Então ele fez um acordo com os Fugitivos.

Seokjin se aproximou, quieto, mas o rosto acendendo como se a solução começasse a ficar clara.

— Os Fugitivos matam os Caçadores e protegem a Raposa. - completou minhas palavras - E em troca ele os liberta.

Assenti. Jimin olhava de Jin para mim. Seu queixo duro, a mente agitada, querendo agir como foi treinado, matar o monstro.

— E então? - instigou que continuássemos.

— Temos que achar a porta do Purgatório. - falei, a exaustão me tomando novamente, mas eu não desmaiaria enquanto não desse toda a informação - O Nogtisune estava mantendo uma frestinha aberta, mas agora que tem um corpo, vai poder escancarar. E infestar Salem com todas as criaturas que um dia já morreram.

[não revisado]

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