Capítulo 27

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POV. Yoongi

Hoseok chegou dizendo que a porta do Purgatório ainda estava aberta. E era por isso que Salem estava tão mais cheia de Fugitivos do que as outras cidades.

Os Caçadores tinham seu trabalho. Mas eu podia ajudar. Eu tinha um Fugitivo dentro da mente, afinal.

— Yoon, você tem certeza disso? - Hoseok perguntou, preocupado.

Assenti, puxando sua mão para minha boca e deixando um beijo carinhoso ali.

— Você vai estar do outro lado da porta. - lembrei - E eu posso lidar com um demônio.

Entrei no meu banheiro, fechando a porta e me apoiando na pia de gesso frio. Meu reflexo no espelho me encarou de volta. Cabelo raspado, pele marrom, tatuagens. Era eu. Mas dessa vez eu queria que fosse outra coisa.

— Mammon. - chamei.

Nada.

Então agora ele resolvia não aparecer.

— Mammon! - exigi.

Meu reflexo se contorceu. Minhas veias pulsando negras, subindo para meu pescoço e rosto como garras. Os olhos pretos como tinta me encararam de volta. E Mammon sorriu de lado.

— Posso ajudar? - debochou.

— Onde está a porta? - fui direto.

Mammon se apoiou relaxadamente no reflexo da pia, os braços pendurados e a costa larga inclinada para frente.

— Temo não ter entendido. - falou.

— Você entendeu perfeitamente. - retruquei, a raiva tomando meu poros, minha magia ondulando em minha pele como um leão se preparando para atacar - Você saiu por ela. Onde ela está?

Mammon deu uma risada desdenhosa.

— Eu não estou tão a par do plano da Raposa. Você não me deixa sair daqui. É sua culpa que eu não possa ajudar.

Seu tom era categórico, sem espaço para discussões. Como se ele tivesse toda a razão.

Me senti zonzo. O pânico de tudo ser minha culpa tentando tomar minha garganta, me fragilizar.

— Para com isso! - ordenei, apertando os dedos na borda da pia - Eu não caio nos seus joguinhos! Você é o demônio da ganância. Se tem alguém que sabe o que está acontecendo, é você.

Mammon inclinou a cabeça, agradecido pelo elogio. Mas sua boca continuou calada. Ele se divertia com minha ansiedade, me assistir ficar frustrado.

Ergui uma sobrancelha.

— Acho engraçado você ser o subordinado de uma Raposa. - comentei, meu tom frio e debochado - Mammon, o Príncipe do Inferno, não passa de um peão na mão de um Nogtisune qualquer.

O demônio endireitou a postura, a expressão de ódio espelhada em meu rosto, me causando calafrios, mas não demonstrei.

— Não me insulte. - avisou, sibilando como uma cobra irritada - Acha que tenho permitido que ande por aí fingindo ser um dos mocinhos, só pela minha boa vontade? Esse plano é muito maior do que seu cerebrozinho consegue compreender.

— Eu exijo que me conte.

Podia sentir minha magia se enrolando na presença sombria de Mammon na minha mente. O demônio estalou a língua, mais incomodado do que coagido.

— Qual é, Min Yoongi? - cuspiu - Você é mais esperto que isso. Quem foi o primeiro possuído?

Franzi a testa.

— Seokjin. - respondi, confuso - Os Caçadores descobriram ele primeiro porque Azazel apareceu na floresta.

— E o que ele fazia lá?

Bufei, cansado dessa enrolação.

— Caos, ruína, assassinato. Ele tentou matar o Jungkook.

Mammon sorriu, uma unha pontuda deslizando de leve pela bochecha.

— É mesmo? Foi isso que aconteceu? Refresque minha memória... - ele pausou, saboreando o momento - qual é o poder do Kim?

— Vidente.

Congelei. A compreensão me atingindo como um soco.

— Quando Azazel possuiu ele, teve acesso às suas visões. - falei, as palavras rolando aceleradas como meus pensamentos, conectando fato com fato - Ele não tentou matar o Jungkook. Azazel apareceu na floresta para guiar o caminho do Nogtisune até alguém capaz de suportar sua possessão. Azazel viu que Jungkook era perfeito porque ele seria importante para o Park. E assim ninguém poderia matar o Nogtisune sem machucar o Jungkook.

Mammon gesticulou com a mão preguiçosa, e vi de relance Jungkook encolhido contra a parede de um lugar escuro. Havia o fantasma de uma criança na sua frente.

— Bingo. - o demônio abaixou a mão e a visão sumiu como um lampejo.

Me lancei para fora do banheiro, sem nem esperar que Mammon sumisse. Eu precisava avisar Hoseok. Eu precisava salvar Jungkook.

Jung estava no telefone quando saí. Seus olhos achocolatados voaram para mim.

— Temos que encontrar todos os Caçadores. - falei, apressado - Agora.

***

O ponto de encontro foi a mansão. Durante todo o caminho fui explicando para Hoseok o que Mammon me ajudou a entender.

A cada palavra, Hoseok ia ficando mais pálido. Ele era muito próximo de Jungkook. Todos eram. O garoto conseguia arrancar sorrisos até de Park Jimin.

Saltamos do carro, vendo que um grupo de Caçadores já tinham chegado, numa rodinha confusa e ansiosa.

Quando nos aproximamos, ouvimos Yeonjun falando com Irene.

— Espera, - Irene soava entretida, de braços cruzados e uma espada presa às costas - você acha que Jeon, o mesmo garoto magricela que usa all star vermelho nas missões, é o poderoso e obscuro Nogtisune?

Yeonjun enrijeceu a mandíbula.

— Eu não sou o único que acha, mas sou o único que diz. - disse ele.

— Ele está certo! - gritei, correndo até eles.

Todos nos encararam perdidos. Fui explicando a história, mas Kim Namjoon chegou correndo, os olhos arregalados e a respiração descompensada.

— Temos outro problema. - declarou - Eu não consigo achar o Jin.

O último carro da casa chegou. Trazendo os dois Park. Todos encararam eles, a perturbação transparente em nossa expressão.

Jimin parou ao nos ver.

— Por que essas caras? - perguntou, desconfiado.

Hoseok deu um passo a frente.

— É sobre o Jungkook...

[não revisado]

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