Capítulo 25

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POV. Seokjin

Dizem que o trauma apaga memórias. Deixa a mente lenta. É uma forma do cérebro te proteger da dor.

A última coisa que me lembro foi de Jungkook me mandando sair, se sacrificando no meu lugar. Depois disso, me vi do lado de fora do Museu, com os braços de Namjoon ao meu redor, sua voz ansiosa perguntando sem parar se eu estava bem.

Mas eu não conseguia responder. Queria abrir a boca e dizer que não devia se preocupar comigo. Mas meu corpo não obedecia nenhum comando.

O mundo continuava, gritos, conversas desesperadas, correria e portas trancando. Achei ter visto todos os Caçadores chegando no Museu, uma massa de pessoas bem treinadas que não piscaram um olho ao ver meu estado. Estavam ignorando a decisão antiga de não deixar a mansão sozinha, só para nos salvar.

Assisti, impotente, o corpo imóvel de Kim Taehyung ser depositado no chão ali em frente. Jungkook emitiu um ruído. Um ruído que não sei descrever, não era um som humano como uivo ou grito. Era como se algo tivesse sido arrancado do seu peito.

Ele caiu no chão, agarrando o corpo de Taehyung em seus braços. Soluçando, as lágrimas gordas descendo incessantemente pelo rosto. Seus braços ficaram cobertos de sangue, escorrendo por todo seu colo. Vinha da parte de trás da cabeça de Taehyung, jorrando como um vaso quebrado, manchando o chão de um vermelho escuro.

Taehyung era um amontoado pálido, os olhos fechados para sempre. Eu ainda podia ouvir sua risada contagiante e suas perguntas, como uma criança feliz de encontrar um novo mundo mágico bem debaixo do seu nariz. Meus olhos cegaram para a cena em minha frente e vi um Taehyung mais novo, correndo com Jungkook no campo, rindo e brincando que eram feiticeiros.

Pisquei, a imagem desaparecendo como fumaça soprada ao vento, como a vida tirada daquele corpo, alma que agora já subia para um lugar melhor, um lugar em paz.

- Tae, por favor... - Jungkook engasgou, abraçando ele mais apertado, a bochecha de encontro ao rosto frio do amigo - Tae... abre os olhos, por favor. Sou eu. Eu estou com você. Abre os olhos, Tae... por favor...

O barulho das sirenes, bombeiros e policiais, atraiu minha atenção. Vi luzes azuis e vermelhas brilhando no céu do sol poente.

Jimin se ajoelhou ao lado de Jungkook, tocando seus braços com delicadeza.

- Temos que sair daqui. Kook, vamos, por favor. - pediu baixinho.

Jungkook estava inconsolável. Protestando e chorando com toda a força do seu peito. As sirenes ficaram mais próximas e Jimin teve que arrastar Jeon para longe do corpo de Taehyung. Vi seu rosto se partindo como seu coração naquele momento, doendo de ter que tirar Jungkook dali.

Park pegou Jungkook no colo, o garoto se agarrou ao seu pescoço, soluçando, tremendo.

Não sei como chegamos na mansão dos Caçadores. Me lembro de silêncio, rodas de carro, um céu escuro e o frio apossando meus ossos.

Fui levado para um quarto qualquer. Hoseok me rodeando, medindo temperatura, curando machucados e oferecendo comida. Continuei sentado no colchão, imóvel, desacreditado. Me recusei a comer, me recusei a falar.

O horror da lembrança dos Anjos Lamentadores, os rostos de pedra esculpidos de forma dócil, representando a pureza e fé, se transformando num monstro faminto, com dentes pontudos e unhas afiadas, desesperados para causar morte.

Não sei quanto tempo se passou. Horas. Dias. A presença de Namjoon era a única coisa constante no meu mundo silencioso.

Todos se reuniram na sala de descanso da mansão. Uma roda de pessoas tensas, quebradas, preocupadas. Yoona era a única em pé, os olhos atentos. Não me lembro de ver Soobin, ele era o único ausente.

Mad World | pjm + jjk | Jikook versionOnde histórias criam vida. Descubra agora