POV Luna
Cristal já dormia quando entrei, mas acordou com o barulho da porta.
— Luna? — Ela pergunta com o quarto ainda muito escuro para me reconhecer.
— Não foi a intenção acordar você, só estou muito cansada e não tomei cuidado com a porta. — Respondo quando ela acende um abajur sobre o móvel ao lado da cama.
— O seu rosto! — Cristal levanta assustada e se aproxima.
— Envolvi-me numa briga, estou bem, não dói. — Ela estava com a mão próxima ao meu rosto e encarava os meus machucados.
— Vou chamar a Amanda! — A impeço de sair do quarto.
— Não preciso, está tarde, não quero incomodar. Só vou tomar um banho e dormir. — Digo enquanto segurava o braço dela.
— Senta na cama e não sai daí. — Ela me empurra para onde queria, vai apreensiva até o banheiro e não demora para voltar com um kit de primeiros socorros. — Não sou a melhor nisso, mas vou tentar amenizar a dor.
Tentei a convencer de que não era necessário, mas Cristal não ouvia. Ela estava focada em cada machucado do meu rosto. Passa uma gaze molhada para limpar o corte no meu lábio e o meu olho roxo. Ela espalha o remédio que usávamos nas cicatrizes dela com tanta delicadeza sobre os meus ferimentos que se não fosse o ardor da substância, nem sentiria o toque dela.
— Tem que colocar uma compressa de gelo nesse olho. Está machucada em mais algum lugar? — Ela pergunta e retiro a minha blusa rosa manchada com o meu sangue e de outras pessoas. — Meu Deus! No que você se envolveu? — Os dedos delas deslizam sobre alguns hematomas na barriga e nas costelas.
— Não está tão ruim assim e olha que ganhei a luta. — Deixo um riso bobo sair.
— Vai precisar de pontos nesse corte. Tem certeza que não quer que chame a Amanda? — Ela insiste.
— Amanhã peço para ela dar uma olhada. — Respondo e a observo pegar outra gaze limpa no kit.
— Vou pelo menos limpar e amarrar a gaze para fazer pressão e evitar um sangramento durante a noite. — Ela faz o mesmo procedimento que realizou no meu lábio, dá algumas voltas com a faixa de tecido e prende a ponta com uma fita.
— Obrigada. — Tento levantar assim que ela coloca a fita, mas sou segurada na cama.
— Espera aqui, só vou descer na cozinha para pegar o gelo. — Ela avisa, confirmo com a cabeça e a observo sair do quarto.
Ando pelo quarto a espera dela. Vejo o livro de antes sobre a escrivaninha com uma marcação nas páginas ao lado de um caderno e do bloco de notas. Durante esses últimos meses, Cristal ocupou o tempo a estudar sobre economia e administração empresarial. Às vezes a fazia companhia e pude presenciar um trabalho dela. Uma mulher entrou em contato com ela após uma publicação online com dicas básicas de gestão financeira. Cristal conseguiu arquitetar metas e organizar a finanças dessa mulher em poucas semanas. Lembro do sorriso orgulhoso dela quando recebeu um valor simbólico pelo serviço.
— Algum problema? — Assusto por não a ter ouvido abrir a porta.
— Não, já pegou mais algum trabalho? — Devolvo o caderno para o lugar que estava.
— Até recebi algumas propostas, mas não é o meu objetivo no momento. — Ela responde. — Aqui, deixa no olho enquanto encho a banheira para você.
— Banheira? Estou fedida? — Aceito a bolsa de gelo e ela ri.
— Não, mas vai ajudar a tirar essas manchas de sangue e a aliviar a dor. — Ela diz com um prato nas mãos. — Ah! Como não sabia se já tinha jantado ou se comeu algo, trouxe um lanche para não dormir de barriga vazia.
— Obrigada, não precisava. — Agradeço.
— É só um pão com queijo e presunto, nada de mais. — Ela caminha até o banheiro e sento na cadeira da escrivaninha para comer enquanto mantinha o gelo no meu olho.
Ouço a água da banheira por alguns segundos e ela volta.
— Já está boa, coloquei uma essência de camomila também. — Ela avisa e se senta na cama.
— Muito obrigada! Desculpa por dar tanto trabalho. — Digo ao terminar o meu lanche.
— Não precisa agradecer e até foi bom ter me acordado. — Ela encosta na cabeceira da cama com o olhar baixo.
— Ainda tem pesadelos com ele? — Aproximo dela.
— Seria estranho não ter. Vai tomar banho, vou esperar você. — Ela sorri e entro no banheiro.
Tiro o restante das minhas roupas, as coloco no cesto, prendo o cabelo num coque para não molhar o e entro na banheira. A água morna e cheiro bom da essência relaxavam os meus músculos e a minha cabeça. Mantenho o meu braço machucado apoiado no lado de fora para não estragar o curativo que Cristal fez. Queria ficar ali por horas, mas dormiria novamente e quando acordasse, estaria mais enrugada que um maracujá velho. Levanto, retiro a tampa do ralo, enxugo na toalha e abro uma fresta da porta. Cristal ainda estava acordada a olhar para o nada pensativa.
— Ah, Cristal! — A chamo. — Não trouxe a minha roupa, pode pegar um pijama no closet para mim, por favor?
— Sem problemas. — Ela levanta e não demora para voltar com as minhas roupas.
— Devo pelo menos três favores para você só por essa noite. — Rio ao pegar as peças.
Visto um shot cinza-escuro de algodão e uma blusa larga branca e saio do banheiro. Ela já estava deitada, caminho até o lado vazio da cama e me aconchego ali.
— Luna, pode segurar a minha mão? — Estava de costa para ela e apenas viro.
Esse pedido já foi feito algumas vezes, então não me surpreendo, apenas coloco a minha mão sobre a dela e entrelaço os nossos dedos.
— Boa noite! — Ela diz ao fechar os olhos.
— Boa noite. — Respondo e rendo-me ao cansaço.
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Nem a distância nos separa (Continuação)
FanfictionDentro de uma família, se criam laços, uns mais fortes que outros e o que elas criaram se tornou tão indestrutível que mesmo distantes, uma consegue sentir as emoções da outra. Mesmo que o mundo pareça estar contra, esse laço as uni, as prende. Essa...