Capítulo 207: Boa noite!

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POV Luna

Cristal já dormia quando entrei, mas acordou com o barulho da porta.

— Luna? — Ela pergunta com o quarto ainda muito escuro para me reconhecer.

— Não foi a intenção acordar você, só estou muito cansada e não tomei cuidado com a porta. — Respondo quando ela acende um abajur sobre o móvel ao lado da cama.

— O seu rosto! — Cristal levanta assustada e se aproxima.

— Envolvi-me numa briga, estou bem, não dói. — Ela estava com a mão próxima ao meu rosto e encarava os meus machucados.

— Vou chamar a Amanda! — A impeço de sair do quarto.

— Não preciso, está tarde, não quero incomodar. Só vou tomar um banho e dormir. — Digo enquanto segurava o braço dela.

— Senta na cama e não sai daí. — Ela me empurra para onde queria, vai apreensiva até o banheiro e não demora para voltar com um kit de primeiros socorros. — Não sou a melhor nisso, mas vou tentar amenizar a dor.

Tentei a convencer de que não era necessário, mas Cristal não ouvia. Ela estava focada em cada machucado do meu rosto. Passa uma gaze molhada para limpar o corte no meu lábio e o meu olho roxo. Ela espalha o remédio que usávamos nas cicatrizes dela com tanta delicadeza sobre os meus ferimentos que se não fosse o ardor da substância, nem sentiria o toque dela.

— Tem que colocar uma compressa de gelo nesse olho. Está machucada em mais algum lugar? — Ela pergunta e retiro a minha blusa rosa manchada com o meu sangue e de outras pessoas. — Meu Deus! No que você se envolveu? — Os dedos delas deslizam sobre alguns hematomas na barriga e nas costelas.

— Não está tão ruim assim e olha que ganhei a luta. — Deixo um riso bobo sair.

— Vai precisar de pontos nesse corte. Tem certeza que não quer que chame a Amanda? — Ela insiste.

— Amanhã peço para ela dar uma olhada. — Respondo e a observo pegar outra gaze limpa no kit.

— Vou pelo menos limpar e amarrar a gaze para fazer pressão e evitar um sangramento durante a noite. — Ela faz o mesmo procedimento que realizou no meu lábio, dá algumas voltas com a faixa de tecido e prende a ponta com uma fita.

— Obrigada. — Tento levantar assim que ela coloca a fita, mas sou segurada na cama.

— Espera aqui, só vou descer na cozinha para pegar o gelo. — Ela avisa, confirmo com a cabeça e a observo sair do quarto.

Ando pelo quarto a espera dela. Vejo o livro de antes sobre a escrivaninha com uma marcação nas páginas ao lado de um caderno e do bloco de notas. Durante esses últimos meses, Cristal ocupou o tempo a estudar sobre economia e administração empresarial. Às vezes a fazia companhia e pude presenciar um trabalho dela. Uma mulher entrou em contato com ela após uma publicação online com dicas básicas de gestão financeira. Cristal conseguiu arquitetar metas e organizar a finanças dessa mulher em poucas semanas. Lembro do sorriso orgulhoso dela quando recebeu um valor simbólico pelo serviço.

— Algum problema? — Assusto por não a ter ouvido abrir a porta.

— Não, já pegou mais algum trabalho? — Devolvo o caderno para o lugar que estava.

— Até recebi algumas propostas, mas não é o meu objetivo no momento. — Ela responde. — Aqui, deixa no olho enquanto encho a banheira para você.

— Banheira? Estou fedida? — Aceito a bolsa de gelo e ela ri.

— Não, mas vai ajudar a tirar essas manchas de sangue e a aliviar a dor. — Ela diz com um prato nas mãos. — Ah! Como não sabia se já tinha jantado ou se comeu algo, trouxe um lanche para não dormir de barriga vazia.

— Obrigada, não precisava. — Agradeço.

— É só um pão com queijo e presunto, nada de mais. — Ela caminha até o banheiro e sento na cadeira da escrivaninha para comer enquanto mantinha o gelo no meu olho.

Ouço a água da banheira por alguns segundos e ela volta.

— Já está boa, coloquei uma essência de camomila também. — Ela avisa e se senta na cama.

— Muito obrigada! Desculpa por dar tanto trabalho. — Digo ao terminar o meu lanche.

— Não precisa agradecer e até foi bom ter me acordado. — Ela encosta na cabeceira da cama com o olhar baixo.

— Ainda tem pesadelos com ele? — Aproximo dela.

— Seria estranho não ter. Vai tomar banho, vou esperar você. — Ela sorri e entro no banheiro.

Tiro o restante das minhas roupas, as coloco no cesto, prendo o cabelo num coque para não molhar o e entro na banheira. A água morna e cheiro bom da essência relaxavam os meus músculos e a minha cabeça. Mantenho o meu braço machucado apoiado no lado de fora para não estragar o curativo que Cristal fez. Queria ficar ali por horas, mas dormiria novamente e quando acordasse, estaria mais enrugada que um maracujá velho. Levanto, retiro a tampa do ralo, enxugo na toalha e abro uma fresta da porta. Cristal ainda estava acordada a olhar para o nada pensativa.

— Ah, Cristal! — A chamo. — Não trouxe a minha roupa, pode pegar um pijama no closet para mim, por favor?

— Sem problemas. — Ela levanta e não demora para voltar com as minhas roupas.

— Devo pelo menos três favores para você só por essa noite. — Rio ao pegar as peças.

Visto um shot cinza-escuro de algodão e uma blusa larga branca e saio do banheiro. Ela já estava deitada, caminho até o lado vazio da cama e me aconchego ali.

— Luna, pode segurar a minha mão? — Estava de costa para ela e apenas viro.

Esse pedido já foi feito algumas vezes, então não me surpreendo, apenas coloco a minha mão sobre a dela e entrelaço os nossos dedos.

— Boa noite! — Ela diz ao fechar os olhos.


— Boa noite. — Respondo e rendo-me ao cansaço.

Nem a distância nos separa (Continuação)Onde histórias criam vida. Descubra agora